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Miguel Paiva

Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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O grito reprimido de gol

"Richarlison provocou em mim o que eu não sentia há muito tempo. Que bom que foi ele, jogador sério, com atitudes politicamente louváveis", diz Miguel Paiva

(Foto: Miguel Paiva)
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Por Miguel Paiva, para o 247

Fazia tempo que eu não vibrava com um gol da seleção brasileira. Gritei GOL!!! depois daquela meia bicicleta de gênio do tricolor Richarlison. Digo tricolor porque sou Fluminense e esse estilo ele aprendeu nas Laranjeiras. O passe foi do Vini Jr que aprendeu na Gávea, tudo bem. Ambos geniais, mas o Richarlison provocou em mim o que eu não sentia há muito tempo. Que bom que foi ele, jogador sério, com atitudes politicamente louváveis, consciente e comprometido com a questão social e não o ídolo bolsonarista programado Neymar.

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Senti ali naquele momento que resgatava o sentimento de torcedor verdadeiro. Lembro que a primeira Copa que percebi pelos radinhos de pilha ligados foi a de 1958 na distante Suécia, apesar da pouca idade que tinha. Era a estreia de Pelé que brilhou com seus 17 anos. Foi meu primeiro contato com a vitória e a festa brasileira. Em 1962, mesmo a Copa tendo sido mais perto, no Chile, foi uma Copa confusa onde Pelé não jogou, rolou muita denúncia de corrupção e o Brasil acabou levando. Mas não teve a mística que só aconteceu de novo em 1970.

Estávamos então, em plena ditadura, o Pasquim já existia, mas, assim mesmo, torcemos pelo Brasil, muitas vezes na casa do Ziraldo. Lembro de haver já esse questionamento sobre a oportunidade ou não de torcer pelo Brasil. A seleção tinha sofrido uma intervenção militar do governo Médici. Dario, o Dadá Maravilha foi imposto, João Saldanha tirado do cargo e Zagalo levou o Brasil ao tri inédito. Foi uma seleção inesquecível, que dava prazer de ver e os gritos de gol eram dados sem vergonha nenhuma. Foi claramente uma seleção instrumentalizada pela ditadura, mas não tirou o brilho da vitória. Eram outros tempos e não havia a polarização do país como agora. Todos éramos contra a ditadura então, a seleção era nossa, tomamos conta dela e da bandeira e sabíamos disso. O resto virou História. 

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Só sei que o Brasil levou mais 24 anos para conquistar de novo a Copa. Sintomático, principalmente depois da edição de 1982 em que quase vencemos, mas fomos engolidos pela Itália de Paolo Rossi que mandou pra casa talvez o melhor time do Brasil. Sinal de que nem sempre o melhor time vence. Em 1982 tínhamos uma grande seleção. Eu torcia e gritava. O Brasil também, gritava e festejava a volta à Democracia, mas a seleção não trouxe o caneco. 

Em 1994, apesar da tensão, da dificuldade, foi uma Copa em que torci. A disputa de pênaltis da final em que o italiano Baggio isolou a bola me provocou um grito também, mas um grito de alívio, de tensão liberada que parece que o chute do italiano fez estourar. O Brasil venceu a Copa com um erro do adversário. Mas dane-se. Futebol é isso mesmo. 

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Em 2002 tivemos a Copa da Ásia e a vitória do Lula, mas a Copa foi estranha apesar do Ronaldo fenômeno. Foi uma festa diluída em que a vitória do Lula acabou compensando. Entrávamos na era da não Copa e da conspiração contra o metalúrgico eleito presidente. Por isso agora essa Copa assume uma importância especial. Passaram-se 20 anos. Podemos até não ganhar. Lula já ganhou e vamos reconstruir o Brasil do mesmo jeito que o futebol brasileiro precisa ser reconstruído. Espero que a pintura do Richarlison seja a imagem disso e que o futebol se associe à alegria, à festa do povo e não a um presidente fajuto. Como diz quem acredita, futebol é coisa de deus e ele sabe o que faz.

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