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Marcos Aurélio da Silva

Professor na Universidade Federal de Santa Catarina (CFH/UFSC), com atuação nos cursos de graduação e pós-graduação em Geografia, área de concentração Desenvolvimento Regional e Urbano

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O vírus do imperialismo na América Latina

Restam as condições subjetivas, palpáveis através de uma nova onda vermelha latino-americana. Ela pode estar a caminho, como nos permitem antever as vitória de Alberto Fernandez na Argentina, Luis Arce na Bolívia e a derruba da constituição pinochetista no Chile

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Um interessante artigo publicado por Federico Larsen na ‘Limies. Rivista Italiana di Geopolitica’, sob o título ‘Gli USA in America Latina: il debito non è un problema, è una oportunità’ (1), dá a exata medida dos grilhões financeiros com que o imperialismo norte-americano está amarrando a América Latina durante a pandemia.

Enquanto explodia a primeira onda da pandemia no continente entre abril e junho deste ano, a região firmou acordos de financiamento rápido com o FMI, no valor de 50,9 bilhões de dólares, três vezes mais do que o valor aportado no mesmo período para a África e países meridionais.

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Não se trata de um simples efeito inescapável da pandemia, certamente. É um projeto de classe que apenas logra se efetivar porque a pandemia se instalou quando derrotada a onda vermelha latino-americana, que começava a se abrir para uma arquitetura financeira alternativa, guiada pelo BNDES da era PT, mas também pelo o sistema econômico-financeiro asiático, China à frente.

De fato, estes aportes são apenas parte de um projeto mais amplo, destinado a confirmar, ou reeditar, agora através de um importante braço financeiro, a Doutrina Monroe. A ver o ‘America Grows Initiative’, lançado por Trump em dezembro de 2019 com a intenção de aportar entre 100 a 150 bilhões de dólares ao ano para investimentos na área de infra-estrutura e transporte, numa clara resposta à ‘Belt and Road Initiative’ chinesa.

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A ação diplomática complementar a este processo de subordinação financeira, voltado a favorecer bancos e empresas estadunidenses, pode ser localizada na inédita imposição de Mauricio Claver-Carone como presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento — BID (sob protestos do Chile, México, Argentina e União Europeia, que também é membro financiador), que sempre fora dirigido por um latino-americano — o mesmo Claver-Carone que não por acaso é um dos principais ideólogos da iniciativa, da qual participam também os Departamentos de Estado, do Tesouro, do Comércio e da Energia dos EUA.

Pode parecer que esta é uma camisa de força da qual não se poderá sair. As condições objetivas que movem o mundo não permitem uma conclusão tão pessimista. A China, adversário principal do imperialismo yankee na região — que aqui usa um clássico dispositivo já descrito por Lenin, a saber, a atuação através de “terceiros Estados” — tem aumentado seus investimentos por aqui.

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Se entre 1990 e 2009 foram apenas 7 bilhões de dólares investidos na região, o período 2010-2014 conheceu um aumento de 9 vezes dos desembolsos, que alcançaram 64 bilhões de dólares. E em novembro de 2015, na cúpula China-CELAC, Xi Jinping assegurou pretender aportar na região 250 bilhões de dólares até 2025.

Restam as condições subjetivas, palpáveis através de uma nova onda vermelha latino-americana. Ela pode estar a caminho, como nos permitem antever as vitória de Alberto Fernandez na Argentina, Luis Arce na Bolívia e a derruba da constituição pinochetista no Chile. A ver o que espera o principal país da região, capaz de figurar, ao lado da China, como a alternativa financeira e econômica ao ‘America Grows Initiative’.

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Mas não virá do nada e exige grandes mobilizações capazes de remover Bolsonaro e todo o seu governo, envolvendo setores populares mas também intelectuais. E, no interior destes últimos, o esforço para uma correta compreensão das tendências capazes de governar o continente no âmbito das relações internacionais, não exatamente associadas à ideia do subimperialismo brasileiro ou ainda aquela — cara a ninguém menos que Mike Pence — do imperialismo chinês.

Este pode ser também um caminho para a construção do socialismo na região, desde que não se tenha desta formação social uma visão de caserna, associada a uma forma totalmente fechada para o mundo e assim mais concentrada nos aspectos coercitivos do que naqueles propriamente hegemônicos da mudança social. A China mesmo é uma prova de que esta formação não é incompatível com uma calibrada — leia-se planejada — participação nas relações globalizadas. Uma outra globalização, como o disse o geógrafo Milton Santos.

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Nota

(1) O artigo aqui citado é o segundo de uma série de 3 acerca das relações entre os EUA e a América Latina.

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