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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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Oportunismo festivo

O episódio da entrega do título de cidadã honorária da Cidade de São Paulo a Michelle Bolsonaro provoca reflexões

Michelle Bolsonaro (Foto: Reprodução)
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O episódio da entrega do título de cidadã honorária da Cidade de São Paulo a Michelle Bolsonaro provoca reflexões. Era para se constituir num evento de desconcertante e popular superficialidade, ligado a possível futura campanha eleitoral – e se transformou num exercício de infração à cidadania, com a participação de autoridades ferindo à lei. Nada disso deveria nos espantar, já que o tempo Bolsonaro, inaugurado na sociedade brasileira, não se intimida no capítulo do respeito às instituições e ao rigor da Justiça. Em parte, por isso, acha-se agora inelegível e pronto para a prisão, uma vez bem provadas as suas artimanhas para um Golpe de Estado, felizmente fracassado. A era de desobediência civil em favor dos ricos e do desrespeito aos princípios da convivência permanece em atividade, cada vez que o capitão se apresenta ao público e emite opiniões, entre palavrões e diatribes verbais. 

A cerimônia acima referida, concebida por bolsonaristas na Câmara de Vereadores determinou que se daria no belo e tradicional Teatro Municipal, uma casa de espetáculos com enormes contribuições já dadas à sociedade paulista, de repente transformada em cenário para interesses mesquinhos de mau gosto. A cumplicidade do prefeito Ricardo Neves contaminou os movimentos e as palavras que melhor ficariam em meio a um silêncio contestador não apenas no local, mas, sobretudo, no restante da capital. Chamado a intervir, um desembargador, escandalizado com o que se passaria, emitiu uma liminar proibitiva. Não adiantou. A corja que ali se instalava não está habituada a cumprir determinações superiores. Desrespeitou-a solenemente. Numa afronta cínica de desobediência, lá se reuniram com diplomas municipais e discursos de mau gosto. Não faltaram também as menções a Deus por parte da homenageada, bastante cara de pau para comparar o marido a um predestinado, segundo questionáveis princípios evangélicos. Um exemplo de patifaria hipócrita que não se esperava ter lugar entre autoridades eleitas pelo povo. 

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Com semelhante portfólio, a ex primeira dama é capaz de alcançar os píncaros do oportunismo quem sabe, um pouco mais tarde, ocupando altas posições no governo ou, se isso não funcionar, abrindo as cortinas de um triste espetáculo de esperteza religiosa. Condenado a pagar uma multa aplicada à Prefeitura da Cidade, Ricardo Nunes não terá dificuldades em separar um dinheirinho dos cofres malnutridos da municipalidade para obedecer à medida punitiva. Uma vergonha de fazer ruborizar homens, mulheres e crianças que percorrem as mal traçadas ruas antes orgulhosas da grande metrópole.

 No entanto, na verdade, o fato corresponde apenas a detalhes numa espécie de herança pouco promissora de tempos sombrios, sob a presidência de Jair Bolsonaro. O que ele nos legou repercutirá durante certo tempo nos hábitos e costumes de um país que ainda necessitava de bons exemplos para se afirmar no cenário internacional. Pelo menos, deixamos de ser párias. Agora, é tarefa para críticos e gente responsável. Estará nas suas mãos o trabalho de avaliação que realize a proeza de deglutir uma refeição tão indigesta na memória nacional.

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