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Alex Saratt

Alex Saratt, professor de História nas redes públicas municipal e estadual em Taquara/RS e dirigente sindical do Cpers/Sindicato.

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Os mortos já não podem falar, mas estamos vivos ainda

O luto pelos mortos não lhe provocam nada além da satisfação em ver seus propósitos lograrem êxito. Resistir, denunciar e combater essa abominação social, política e cultural é tarefa que extrapola as coisas comezinhas das lutas políticas cotidianas e institucionalizadas, partidárias e eleitorais, tem em si a envergadura de uma batalha existencial

(Foto: Divulgação)
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Quisera fosse só ironia, porém é tragédia, dor e desgraça. O autointitulado "cidadão de bem", temente ao Deus judaico-cristão, defensor fervoroso da família tradicional, orgulhoso conservador nos costumes e fanático reacionário em política, cansou de usar os bordões "bandido bom é bandido morto" e "direitos humanos para humanos direitos" para afirmar sua identidade.

Pois então, não seria de se perguntar a este sujeito por quê os mortos que tanto lhe excitam não foram os malditos e desprezíveis bandidos que ele tanto odeia, mas os mais de 400 mil seres humanos, pais e mães de família, trabalhadores, honestos, que tiveram seus direitos completamente ignorados e acabaram jogados à própria sorte desde o início da pandemia.

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Percebe-se, assim, que os mortos e a Morte ocupam um lugar especial na engrenagem mental, emocional e espiritual da falange fascista da sociedade, que se apraz e contenta em ter a mortandade e o morticínio como uma espécie de regozijo e vaticínio de suas convicções profunda e perturbadoramente doentias e desumanizadas.

A fascinação desvairada pela necrologia, independente da causa, impacto e destrutividade, fica patente diante da total ausência de sensibilidade com a chacina proposital e impiedosa que castiga milhões de brasileiros. Tivessem um pingo de decência e equilíbrio, estariam realizando carreatas em favor da vacinação, do auxílio emergencial e de medidas restritivas à circulação e funcionamento das atividades, quando não exigindo a deposição do responsável por esse crime contra a Humanidade.

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Mas não! Essa vertente sórdida e macabra ganhou ares e termos de uma ideologia e organismo políticos, tem largo esteio na população, notadamente nas parcelas melhor instruídas e mais estruturadas do ponto de vista educacional e econômico. Por óbvio, há adesão e apoio de setores populares, em particular daquele segmento proletário que foi capturado pela militância religiosa fundamentalista, mas o centro vivo e pulsante do fascismo revisitado se localiza entre as classes proprietárias e enriquecidas.

Usam da Morte como um método, instrumento e objeto, pois compreenderam que é uma poderosa forma de mobilização social e disputa ideológica. Sua múltipla utilidade não deixa sombra de dúvidas quanto ao papel e eficácia. Pode invocar vingança travestida de justiça, também insta o indivíduo a acatar o darwinismo social como inevitabilidade e naturalização, sugere prêmio ou castigo divinos, indica senso de fortaleza ou fragilidade, serve como meio de resolução de divergência, conflito ou oposição, enfim, é amiga daqueles que preconizam a violência, o egoísmo, a indiferença, o ódio, a seletividade, o negacionismo, a hipocrisia, entre outros atributos e características, fundamentos e princípios.

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À revelia de qualquer perspectiva ética, moral e política baseada nos elementos que a Humanidade vêm alimentando desde o Renascimento e Iluminismo e cujo salto civilizatório se deu na configuração de uma sociedade de nações e no conjunto de tratados positivos quanto aos valores avançados, científicos, democráticos e humanitários do Pós-Guerra, o fascismo redivivo se apresenta como fenômeno global, articulado e orientado ao exercício de poder e execução de projeto societário.

Pouco importa quem morre, o que interessa é anestesiar as pessoas, incutir medo e promessa de proteção e seguro à custa do cerceamento e castração da racionalidade, solidariedade e convivência, tornar a Morte tão vulgar e dessacralizada a ponto de extinguir mesmo seus aspectos espirituais e transformá-la em mera estatística e índice.

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Os "cidadãos de bem" (ou seria "de bens"?) não passam de uma fraude grotesca, uma imitação barata do mesmo expediente aplicado no início do século passado, a farsa que sucede toda a tragédia. O luto pelos mortos não lhe provocam nada além da satisfação em ver seus propósitos lograrem êxito. Resistir, denunciar e combater essa abominação social, política e cultural é tarefa que extrapola as coisas comezinhas das lutas políticas cotidianas e institucionalizadas, partidárias e eleitorais, tem em si a envergadura de uma batalha existencial.

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