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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

205 artigos

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Parvoíces que assolam o país

Claro que Bolsonaro está inelegível e à beira de seguir para a cadeia. Herdeiros do seu calibre proliferam, contudo, em toda parte

Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução Youtube)
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O país de Bolsonaro (e ainda estamos pagando um preço por ele) se notabilizou pela estultice de várias de suas decisões, para não mencionar um elenco de imbecilidades que nos fizeram duvidar da nossa sensatez. De repente, com a mudança de governo, uma espécie de oxigênio, uma atmosfera de agradáveis e estimulantes medidas nos puseram de novo, aparentemente, numa direção certa. Passamos a investir em moradia, educação e saúde, entre outras prioridades, sem esquecer os temas do desenvolvimento nacional. No entanto, eis que a estupidez volta a se manifestar aqui e ali, puxando-nos para trás e nos colocando mais uma vez nas esferas do atraso. 

O Oficina, na rua Lina Bo Bardi, em São Paulo, notável pela arquitetura do lugar e pelas realizações encenadas pelo talento do diretor José Celso Martinez Correia, em qualquer lugar do mundo, seria prestigiado, protegido e tombado pelo patrimônio da nossa cultura. Por azar, exatamente ao lado, num terreno de propriedade do comunicador Silvio Santos surge uma ameaça. Este senhor nem parece que se dedicou um dia a algo da ordem do discernimento em suas apresentações televisivas. Ignora a monumentalidade do vizinho e acaba de perpetrar um crime arquitetônico murando as arcadas que permitem acesso ao teatro. É situação para mobilizar intelectuais, artistas, militantes culturais, a consciência brasileira em suma, num esforço de defender e impedir que o assalto se desdobre em repetidas violências. A própria Ministra da Cultura, Margareth Menezes, não pode concordar com tal exuberância de brutalidade, do tipo daquelas que nos recusávamos a viver sob o regime de Bolsonaro. Que o governo federal se associe e imponha uma barreira à ganância sem freios, ali se perpetrando, é o mínimo que se deve esperar... Às questões judiciais em curso, cumpre acrescentar que um sonoro NÃO se escute em toda parte em apoio à criatividade e ao poder de invenção sempre demonstrados por Zé Celso. 

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Sabemos que o brilhantismo da razão se revela, muitas vezes, contagiante. É como se a inteligência por si mesma convidasse à intervenção de mais inteligência. Em contrapartida, também constitui fato que a ignorância, associada a preconceitos e arbitrariedades nos costumes, engendram, frequentemente, mais autoritarismo, prepotência e abusos, com consequências negativas de múltiplas colorações. Agora mesmo, no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, a um jovem entregador negro, foi imposto que usasse o elevador de serviço por uma senhora ignorante, inconsequente e metida a déspota. Ele reagiu às suas próprias indignações evitando cenas de violência. Valeu-se de contra-argumentos e citou a lei que proíbe semelhante sistema de discriminação. Não adiantou. A mulher se sentia poderosa. Exigiu e impôs a humilhação ao rapaz. Novamente, cumpre à polícia proteger o cidadão dentro de seus direitos. A moradora, esta sim, se qualifica para uma forte punição. 

Dentro ou fora do teatro que construiu em São Paulo, José Celso não suportava as exibições da parvoíce humana. Punha-se contra ela, valendo-se de todos os seus recursos, incluindo a força de suas criações teatrais. Claro que Bolsonaro está inelegível e à beira de seguir para a cadeia. Herdeiros do seu calibre proliferam, contudo, em toda parte. É bom lembrar, ainda, que o partido da cultura e da razão não está disposto a se dobrar.

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