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Fernando Lionel Quiroga

É professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), na área de Fundamentos da Educação. Doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

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Pelé, uma epifania

Pelé, aos 17 anos, disputando final de Copa do Mundo contra a Suécia, em 1958 (Foto: WikiMedia Commons)
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Sou daqueles que, infelizmente, não teve a sorte de ver o Pelé jogando ao vivo. O que vi foram registros e fragmentos de jogadas, o restante foi a imaginação que se encarregou de significar quem ele foi. E não tem jeito, o Pelé embaralha nossa compreensão de mundo. Como quem parece abalar as leis da física - muitas das suas jogadas parecem tensioná-las aos seus limites, quase estourando a realidade - assim me senti diversas vezes na frente da TV, voltando as imagens para tentar, em vão, compreender o que ele teria feito.

Há um sentimento que fica depois que tomamos contato com as grandes obras de arte da humanidade: o de que elas são tão necessárias quanto as árvores ou as nuvens. São justas. Parecem óbvias. Estão onde deveriam estar. Depois das pinturas de Van Gogh ou Cézanne, nos perguntamos: como alguém não tinha feito isso antes? Quando ouvimos as sinfonias de Mozart ou Für Elise, do Beethoven, nos reconciliamos com o mundo com um sentimento de paz e um antídoto contra nossas piores misérias.

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O mesmo ocorre com o gênio de Pelé. Pelé é o artista, enquanto os outros, mesmo geniais, são gênios do jogo. Em Pelé o futebol se consagra em arte por uma simples razão: como todo bom artista, ele se ajoelha ante o mistério. Em seu futebol jamais veremos um só ato de vaidade. Ele parece jogar com Deus.

Enquanto os bons jogadores submetem a bola aos seus pés, fazendo-a obedecer como um objeto adestrado, Pelé nunca a submete. Ele se submete inteiro a ela, moldando seu corpo - que às vezes se assemelha a uma aranha ou a um tigre -  para acompanhar a essência de sua trajetória, que deve culminar em gol. 

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Daí vem sua simplicidade, como quando estando na zaga (pois para Pelé não cabe o conceito de posição), aproveita o rebote do goleiro e, com a coxa, dá um chapéu no atacante adversário e sai jogando limpo, impondo outro ritmo, quebrando a estrutura do jogo. 

Para Pelé parece que há um único fundamento a ser seguido: o centro de gravidade. Pelé é um jogador em íntima relação com a natureza e o mistério do mundo. Senão vejamos: mesmo sendo o maior jogador de todos os tempos, nem ele consegue marcar gols a qualquer tempo. Não é assim. O futebol, como o bom romance, possui um ritmo que lhe é próprio. Como quando paramos e nos flagramos sorrindo, cheios de espírito diante de uma página de Dostoievski ou Machado de Assis, assim somos agraciados com o momento do gol durante as partidas de Pelé. O gol, como o gozo, depende do ritmo. Na escrita, uma página assim aparece a cada dezenas ou centenas; no futebol, depois do ritmo de uma jogada que se assemelha ao desenho de uma coreografia. A magia de Pelé concentra-se aí: ele é um sabedor do ritmo, conhece-o como ninguém. 

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Enquanto jogava, Pelé conversava com Deus.

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