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Jeferson Miola

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Prefeito Melo admitiu falhas, mas quer culpar o estagiário. O culpado é ele

O prefeito sabia, pelo menos desde setembro de 2023, que as falhas na manutenção do sistema de proteção contra enchentes sujeitariam Porto Alegre a inundações

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Enchente no Rio Grande do Sul (Foto: Reuters/Amanda Perobelli)
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Rompeu o dique de blindagem midiática do prefeito Sebastião Melo, que agora submerge na mesma lama que, devido à incompetência e negligência do seu governo, inundou Porto Alegre.

E, com o rompimento do dique de proteção dos grupos locais de mídia, Melo finalmente se viu obrigado a admitir as graves falhas da Prefeitura. No entanto, ele tenta transferir a culpa das escolhas desastrosas dele mesmo e do seu governo para o estagiário.

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No sábado, 25/5, a assessoria de comunicação social da Prefeitura informou “que o prefeito Sebastião Melo determinou ao Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) abertura de investigação preliminar sumária (IPS) para apurar eventuais problemas em providências a partir de relatório de engenheiros do departamento sobre as estações de bombeamento de água pluvial. A investigação, em caráter de urgência, deverá abranger todos os processos relacionados ao tema”.

Melo se esquiva do problema e busca transferir para o DMAE –provavelmente, para algum estagiário do órgão–, a responsabilidade que é dele e da sua equipe pelo desastre catastrófico.

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O prefeito conhecia com razoável antecedência, pelo menos desde setembro de 2023, que as falhas na manutenção do sistema de proteção contra enchentes sujeitariam Porto Alegre a inundações.

Naquele mês, há oito meses, o Guaíba alcançou o nível de 3,18m, deixando alagadas as áreas da cidade onde as comportas padeciam com a falta de manutenção pela Prefeitura. Nova inundação viria a acontecer dois meses depois, com os temporais de novembro de 2023, quando o Guaíba atingiu 3,46m.

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Apesar disso, durante o ano de 2023 o prefeito não mandou consertar o sistema de proteção contra enchentes e a Prefeitura não investiu um único centavo de real nesta área crítica, mesmo tendo muito dinheiro em caixa.

E agora em maio, precisamente às 10:15 horas do dia 17, já com a cidade extensamente inundada, o próprio prefeito recebeu recomendações técnicas de um grupo de especialistas, acadêmicos e ex-dirigentes do DEP e DMAE para terminar urgentemente a inundação da cidade.

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As medidas, plenamente exequíveis, consistiam na vedação imediata das comportas por mergulhadores, no fechamento hermético dos Condutos Forçados do sistema de esgotamento e drenagem, e no reparo das estações de bombeamento.

O engenheiro Vicente Rauber, ex-diretor do DEP, um dos proponentes das medidas, relatou que “Melo os atendeu por alguns minutos e se retirou apressado, dizendo que continuaria falando conosco”. Na prática, porém, como se verá adiante, o prefeito simplesmente desdenhou das soluções técnicas preconizadas.

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Marcus Vinícius Caberlon, o assessor do gabinete do prefeito que continuou a reunião com os técnicos, “negou os problemas o tempo inteiro”. Rauber relatou que, diante do impasse, os profissionais então alertaram “que a Prefeitura tem duas saídas: ou continua o negacionismo, agravando a situação da cidade, ou adota as propostas e interrompe o sofrimento da população e os prejuízos da cidade”.

Alguns minutos depois de “sair apressado” da reunião, às 11:53h daquele dia 17/5 Melo comunicou no seu perfil do X/ex-twitter que “definimos com os técnicos a abertura da comporta 3 do muro da Mauá (rua Padre Tomé), na tarde de hoje. Como o Guaíba está 40 cm mais baixo do que o volume acumulado no Centro, o objetivo é facilitar o escoamento e posteriormente acessar as casas 17 e 18 para retomar a operação”.

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Na publicação, o prefeito mencionou eufemisticamente “a abertura da comporta 3”, mas na realidade a comporta foi grotescamente arrancada.

O procedimento foi duramente criticado por especialistas, pois significou a destruição irreversível duma barreira física fundamental, deixando a cidade totalmente desguarnecida em caso de nova elevação do nível do Guaíba, como a que veio a acontecer alguns dias depois.

Às 18:09h, o prefeito celebrava em nova publicação que “a partir da derrubada da comporta 3, parte da água que invadiu o Centro Histórico volta a escoar para o Guaíba”.

Já naquele mesmo dia 17, em que a Prefeitura arrancou comportas, institutos meteorológicos previam chuvas de alta intensidade a partir de 23 de maio em todo o RS, incidência de ventos sul, maré alta do Oceano Atlântico, represamento de águas na Lagoa dos Patos e elevação do nível do Guaíba.

Tratava-se, portanto, da confluência infernal de fatores que em hipótese alguma autorizaria a abertura de comportas do Muro da Mauá, menos ainda a derrubada irreversível delas.

Apesar disso, o prefeito irresponsavelmente repetiu o negacionismo técnico e causou a re-inundação da área central da cidade no dia 23/5. Depois, no desespero, a Prefeitura improvisou o fechamento da comporta com sacos de areia – medida que, além de totalmente ineficaz, causou vergonha à engenharia e à hidrologia mundial.

Este episódio deixou evidente que a cidade está sendo dirigida por irresponsáveis e despreparados que não atentam para recomendações técnicas, desprezam previsões meteorológicas, decidem de maneira improvisada e, desse modo, agravamos problema, ao invés de resolvê-los.

Observe-se que no dia 21/5, dois dias antes dos temporais de 23/5 já previstos pelo menos desde 17/5, o prefeito Melo repostou publicação institucional da Prefeitura no X/ex-twitter que dizia “Bom dia, Porto Alegre! Nível do Guaíba cada vez mais baixo. As previsões seguem otimistas”.

No dia 22/5, véspera da re-inundação de Porto Alegre, o alienado e negacionista prefeito escreveu: “Bom dia. Nível do Guaíba baixou de 4 metros nesta quarta-feira”.

Neste clima fantasioso, de oba-oba, o prefeito estimulou o descarte de entulhos nas ruas, sem que a Prefeitura tivesse capacidade de recolhê-los, o que agravou o caos na cidade.

Por fim, para ficar somente nas responsabilidades objetivas e imediatas do prefeito na geração do desastre catastrófico, cabe lembrar que outra medida ignorada por ele foi a de providenciar o fechamento hermético dos Condutos Forçados, o que causou a inundação de bairros da cidade localizados em cotas elevadas, e que não tinham sido atingidos nos eventos anteriores.

O prefeito Sebastião Melo finalmente admitiu que falhas da sua Administração [e não deus ou a natureza] causaram o desastre catastrófico em Porto Alegre. Melo, no entanto, quer culpar o estagiário, mas o culpado é ele e sua equipe desastrosa, que desprezaram soluções técnicas para impedir a inundação e re-inundação da cidade.

Com a incompetência, negacionismo e negligência que causaram graves consequências à população e à cidade, o prefeito Melo precisa ser responsabilizado nas esferas administrativa, cível e criminal.

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