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Paulo Silveira

Sócio fundador do Observatório das Adições Bruce K Alexander (www.observatoriodasadcoes.com.br). Membro fundador do movimento "respeito é BOM e eu gosto!" (www.reBOMeg.com.br)

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Psicoterapia Corporal

Nas Psicoterapias corporais, nossa vivência produz registro em nosso corpo e a terapia busca ferramenta como exercício e massagem para trabalhar o ser humano

Wilhelm Riech, psicanalista marxista (Foto: Divulgação)

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Por Paulo Silveira e Pedro Castel*

A partir da psicanálise, estruturada fundamentalmente por Sigmund Freud, surgiram diversas metodologias de cuidado da nossa saúde mental , as quais podemos distingui-las, a grosso modo, em duas grandes correntes: as terapias corporais e as  analíticas.

De uma forma sucinta, podemos identificar as psicoterapias corporais como  aquelas que reconhecem que nossas vivências (ao longo de nossas vidas) produzem  registros em nossos corpos e busca ferramentas para trabalhar também com esses  registros, como, por exemplo, massagem, movimentos, exercícios etc.

A partir da metodologia de trabalho de Freud, de quem foi discípulo durante  muitos anos, Wilhelm Reich estrutura uma forma de trabalho onde não só o conteúdo  da fala do paciente é levado em consideração, mas também a forma como ele o vivência  e o expressa são significativos. Nascido em 1897, Ucrânia, se formou-se em médico em 1922 e é considerado o  precursor das psicoterapias corporais, sendo que sua metodologia de trabalho se divide  em 2 grandes correntes: a psicoterapia reichiana e a organoterapia.

É importante observar que, apesar das diferenças da forma de trabalhar, as  psicoterapias reichianas se mantém fiéis aos princípios éticos e de cuidados daqueles  que as procuram: produzir uma forma de vida mais funcional / harmônica para os  pacientes, a partir de suas escolhas.

O início psicanalítico e seus primeiros escritos. Quando Reich ainda era estudante de medicina, ele participa da organização de  um Seminário sobre Sexologia, contrapondo-se a omissão desse assunto no curso.

Em 1919 Reich apresentou o trabalho: ‘Os conceitos de pulsão e Libido de Forel à  Jung’ (publicado em 1922 na Revista de Sexologia), onde se propõem revisitar os  conceitos de instinto / pulsão a partir de diversos autores, dando ênfase a teoria de  Freud.

O Seminário de Sexologia vai colocar Reich em contato com Freud, um Freud  ainda em transição para o seu terceiro momento teórico. Em 1920 Freud publica ‘Para  além do princípio do prazer’, onde introduz o conceito de Pulsão de Morte.

Reich se apaixona pela teoria de Freud, principalmente pelo conceito de Libido  (Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade – 1905) e é esse conceito que ele vai  aprofundar o que o leva a estruturar o conceito da “economia sexual”.

Aos 23 anos e ainda estudante de medicina, Reich produz um fato incomum ao  apresentar o artigo “Conflitos libidinais e delírios em Peer Gynt de Ibsen” na Sociedade  Psicanalista de Viena e, no encontro seguinte, é aceito como membro da sociedade. Em 1922 se forma e entra para a, recém-fundada, Policlínica Psicanalítica de  Viena, como primeiro assistente clínico, onde atende pessoas de baixo poder aquisitivo.

Desse seu trabalho clínico vai surgir a preocupação com a forma de se atender  desembocando na teoria e técnica da Análise do Caráter, um critério de avaliação de  diagnóstico e meta clínica a ser alcançada. Assim nasce o primeiro conceito genuinamente reichiano: a Potência Orgástica.

O senso comum e a grande maioria dos psicanalistas achavam que, se um homem  realizasse o ato sexual, ele era potente. No entanto a genuína potência envolvia um  equilíbrio emocional, sexo e afeto juntos.

Em 1923 Reich apresenta à conferência ‘Sobre a genitalidade do ponto de vista  do prognóstico e da terapia psicanalítica’, lançando o marco inicial de sua visão  econômica sexual, relacionando a neurose e a impotência orgástica. Sua tese é malrecebida pelo auditório, que sustentava que podia haver neurose e potência sexual num mesmo indivíduo.

A QUESTÃO POLÍTICA E SOCIAL - 1924 Reich começa a estudar Marx e se aproxima do Partido Socialista Austríaco,  iniciando a sua preocupação com as questões sociais. 1926 Reich aproxima-se dos psicanalistas preocupados com a educação,  começando uma preocupação em ligar política, educação e prevenção.

1927 ele entra para o Partido Comunista Austríaco, na seção sanitarista da organização ‘Socorro Obreiro’ (Arbeiterhilfe) e ouve de Freud a recusa para ser analisado  por ele, cai doente de tuberculose e é internado num sanatório em Davos na Suíça, por  meses, iniciando assim o afastamento de Freud.

Em 1929, junto com mais quatro colegas psicanalistas, entre eles sua mulher e três  obstetras, funda a Sociedade Socialista para Consulta Sexual e Investigação Sexológica,  que gerenciará seis clínicas de Higiene Sexual para Trabalhadores e Empregados.

Em setembro de 1930, muda-se para Berlim e publica pela revista  Internacional Psicanalítica o artigo ‘O Caráter Masoquista’, o qual Freud, que era o  editor da revista, inicialmente, só queria publicar acompanhado de uma nota dizendo,  que as críticas à pulsão de morte, estavam a serviço do Partido Comunista.

Freud foi dissuadido desta ideia por seus pares que o aconselharam a deixar  publicar acompanhado de outro artigo, escrito por Siegfried Bernfeld, “A discussão Comunista da Psicanálise”, onde, ao longo de mais ou menos trinta páginas, ele  questiona as contribuições de Reich por estarem ligadas ao marxismo, mas não escreve  nenhuma palavra sobre suas posições contrárias a Pulsão de Morte, uma das questões  centrais do escrito. O artigo de Reich é incorporado ao livro Análise do Caráter, de sua  autoria. Essa será a terceira divergência teórica com Freud, além do grande fosso das  visões políticas entre eles.

Em 1933, com ascensão de Hitler, sai fugido de Berlim e publica o livro “Análise  do Caráter” que corresponde as partes I e II do livro como conhecemos hoje.

A técnica da análise do caráter foi desenvolvida por Reich ao longo desses  quatorze anos que atendeu como psicanalista. Ela pressupunha o conceito de Caráter,  uma sequência na ordem das interpretações, o trabalho das resistências sob a forma de  traços de caráter, a existência de uma transferência negativa latente, a ser em primeiro  lugar trabalhada e uma economia sexual que determina o sentido do trabalho. Implicitamente uma postura mais ativa de ler e interpretar as atitudes de seu paciente.

O ’como’ o paciente diz algo passa a ser tão ou mais importante do que o  conteúdo de sua fala. Com isso, as atitudes corporais e o próprio corpo passam a ser  fundamentais para o entendimento de seus clientes. Então, o aspecto neurótico do  caráter, a rigidez psíquica, passa a estar articulada com uma couraça muscular. Ao  estudar essa couraça ele estende o conceito para toda uma modificação biofísica,  envolvendo a funcionalidade do corpo como um todo. A energia/afeto reprimido agora  estava presa na fabricação e perpetuação dessa couraça biofísica.

Para se desfazer essa couraça, Reich começa a trabalhar diretamente no corpo,  além do trabalho psíquico da interpretação e manejo da transferência. Numa visão  unificada de um psicossoma fisiológico/psíquico indissolúvel. Ele dá o nome, a esse  trabalho de vegeto terapia caractero-analítica. Posteriormente ele compreende essa  bioenergia inicialmente corporal como cósmica e seu trabalho passa a se chamar Orgonomia, advindo do orgon, nome que dá a essa energia cósmica.

Reich é considerado o pai das psicoterapias corporais e um importante teórico das  psicoterapias, em geral.

*Pedro Castel é psicoterapeuta Corporal Reichiano e Coordenador do “Instituto de Formação e Pesquisa Wilhelm Reich”

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