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      Luiz Henrique Dias

      Professor, gestor público e mestrando em História da UNILA

      40 artigos

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      Roberto Alvim enloqueceu?

      Quero começar essa reflexão dizendo que considero o diretor de teatro e dramaturgo, e nesta terça-feira anunciado novo diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, Roberto Alvim um dos grandes nomes do teatro contemporâneo brasileiro e tenho por ele profunda admiração artística e conceitual.

      Quero começar essa reflexão dizendo que considero o diretor de teatro e dramaturgo, e nesta terça-feira anunciado novo diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, Roberto Alvim um dos grandes nomes do teatro contemporâneo brasileiro e tenho por ele profunda admiração artística e conceitual. 

      Fui seu aluno no Núcleo de Dramaturgia do SESI, em Curitiba, e tive Alvim em minha casa e em meu antigo teatro, palestrando e assistindo a estreia de uma peça dirigida por mim e escrita sob a sua orientação. Seu livro, as dramáticas do transumano, ainda é meu livro de cabeceira e suas orientações fazem parte de minhas conversas sobre teatro e oficinas para novos autores. Pinókio é uma grande obra e julgo Construção do Kafka e Leite Derramado seus mais bem dirigidos espetáculos. 

      Dito isso, espero ser claro também ao dizer que ele - o Roberto Alvim - estabeleceu nos últimos meses, mas principalmente nos últimos dias, um pacto de guerra contra tudo aquilo que ele passou a julgar sujo, nefasto ou mesmo destoante aos seus “novos” pensamentos, cristãos, conservadores, bolsonaristas e olavistas. 

      Alvim sempre viveu de polêmicas e sempre fez delas o seu combustível. E acho razoável a qualquer pessoa que tenha passado por experiências na vida mudar de opinião, é um direito, mas usar de suas novas concepções para pregar uma verdadeira guerra cultural a pessoas e estéticas, usando um discurso fácil de luta contra a esquerda, e defender uma agenda “conservadora” e de caça a quem quer que seja é, no mínimo, subestimar espectadores e artistas, independentemente de suas posições políticas. 

      Alvim se tornou quem é em parte por sua genialidade e em muito pelas mãos do Estado, independente de quem governava. 

      Sua pesquisa e sua obra sempre estiveram organicamente ligadas ao fomento cultural, aos editais, principalmente do Ministério da Cultura, e ao sistema S, hoje “inimigos” de Alvim, do Governo e do “professor” Olavo, como ele chama. 

      O que ele combate hoje, em suas famosas postagens via Facebook, é justamente o que ele sempre foi e ainda é. E a agenda retrógrada e o pacto inicialmente informal com Bolsonaro - pedindo para artistas conservadores façam um cadastro para arrebanhar um exército anticultural na verdade - é o primeiro passo para que pessoas como ele mesmo, um pesquisador e inovador estético, nunca mais existam, porque não há pesquisa - teatral - fora do fomento e da diversidade. Prega uma caça ao novo e a tudo que não é planificado, como eu mesmo aprendi com ele a não fazer. 

      Ele mesmo me disse, e anotei em meu caderno, “devemos fazer uma arte que pensa, inova, provoca e procura dar conta do mundo e agir sobre ele”.

      Roberto Alvim, com seu novo discurso de ódio a tudo aquilo que - agora - discorda, prega o fim dele mesmo e de todos os outros. Usa sua inteligência e capacidade de persuasão para atuar contra a arte brasileira e sua pluralidade. 

      Longe dele estar louco, muito longe.

      Mesmo sobre os pó de suas incoerências, ele está apenas começando. 

      E, pelo jeito, não vai parar tão cedo. 

      * Luiz Henrique Dias é escritor e dramaturgo. Foi aluno de Roberto Alvim por dois anos no Núcleo de Dramaturgia do SESI e coordenou oficinas sob sua orientação. É autor de Guizos e dirigiu Como se eu fosse o mundo, Um carneiro para o jantar e precipício, peças escritas nas aulas do Núcleo. 

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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