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André Del Negri

Constitucionalista, professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).

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Sem tempo para sutilezas

O atual ocupante da cadeira presidencial passou quase três décadas na Câmara dos Deputados com atuação apagadíssima, não viu quem não quis. Agora, a cada dia se avolumam sinais de que o Brasil se lascou

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O que explica Bolsonaro ter a melhor avaliação desde o início do mandato? Já volto ao ponto. Não sem antes provocar mais um pouco: o que fez Bolsonaro vencer a eleição? A tentativa de resposta puxa um fio para entender as coisas. 

Há quem diga que, ainda, e sempre, o dinheiro ganha uma eleição. Então vamos lá. 

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Nas eleições de 2018, à época do caminho sinistro, Geraldo Alckmin teve despesas declaradas da ordem de R$ 51 milhões e ficou com pouco mais de 5 milhões de votos. Henrique Meirelles investiu ao menos R$ 53 milhões na empreitada, o maior valor entre os presidenciáveis, mas ficou com cerca de 1,2 milhão de votos. Cabo Daciolo gastou R$ 808, conseguiu 1,3 milhão de votos, e viu Meirelles pelo retrovisor. O detalhe irônico é que Jair Bolsonaro conseguiu 49 milhões de eleitores, tendo gasto R$ 1,2 milhão.

Então, se dinheiro não faz alguém vencer uma eleição, por ora alguns dirão que é o tempo de campanha. Vamos ver. 

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Na mesma eleição de 2018, Geraldo Alckmin teve direito a 5 minutos e 32 segundos de aparição em rádio e TV, maior tempo entre todos os candidatos; Bolsonaro, 8 segundos. 

Ora, o que está acontecendo no Brasil? Se dinheiro não faz alguém vencer uma eleição, tempo de rádio e TV também não, qual seria a explicação? Precisamos discutir como chegamos até aqui. 

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A extravagância dessas descrições suplica outras lentes. A eleição de 2018 foi careada. Seus furos devem ser obturados em alguns níveis. Claro, alguém virá dizer que Bolsonaro foi eleito pela pluralidade de cidadãos que compareceram às seções eleitorais. Sim, mas o ponto é outro. Os eleitores também se deixaram levar pelo fígado. Aliás, o golpe de 2016 colocou em marcha um volume de questões complexas (aqui).

Tivemos uma eleição viciada, repleta de aplicativos e robôs com seus posts automáticos em grupos de WhatsApp. O atual ocupante da cadeira presidencial passou quase três décadas na Câmara dos Deputados com atuação apagadíssima, não viu quem não quis. Agora, a cada dia se avolumam sinais de que o Brasil se lascou. 

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Fatalidade? A resposta é esta: não! O bolsonarismo se constitui de um país racista, misógino, obscurantista, homofóbico. Com a licença do historiador Luiz Antonio Simas, “o Brasil é um empreendimento de ódio”. O projeto de país é exatamente esse. E Simas vai ao ponto: não dá para ficar espantado, uma vez que Bolsonaro não enganou ninguém. Não há surpresas.

A narrativa que primeiro “colou” foi vincular a corrupção à “crise econômica do PT”, bem como ataques ao marxismo cultural. Era hora de acabar com o “comunismo”. Foi esse o principal veneno que entrou na corrente sanguínea de milhões de brasileiros. Retomar o tão debatido assunto é, de novo, importante para entender as coisas.

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Foi nesse ambiente ancorado em lógica de guerra que a eleição presidencial se desenvolveu. O vento tocou nessa direção e apoiadores se empolgaram. É verdade que, nesse nicho, tem de tudo. Há os valentões, tipo aquele que quebrou a placa de Marielle – assassinada pela milícia. Claro, eles são os mais inseguros. Por isso, precisam mostrar o contrário. Por isso, quebram placas. Gozam com a estupidez. Celebram a bestialidade.

Há os que não quebram placas, mas homologam a bronquice de quem quebra. Isso aparece tão claramente na nossa vizinhança, colegas de trabalho, familiares e integrantes de grupos de WhatsApp. Nesse bolo, estão aqueles que colaram adesivos de apoio ao “Mito” e – pasmem!! – desfilaram com escritos de “intervenção militar” nos vidros traseiros dos automóveis. 

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E há os omissos. Esses são muitos. Algo em torno de 42 milhões. Aliás, foi o número de brasileiros que anularam ou abstiveram do voto nas eleições de 2018. Há quem diga que se trata de uma opção legítima. Sim, é um direito deles; porém uma posição confortável. 

Valentões, apoiadores dos valentões e omissos, todos mudaram radicalmente o Brasil para pior. 

Então agora retomo o fio lá do primeiro parágrafo. Recente pesquisa Datafolha apresentou alguns números que dizem que a popularidade do presidente Bolsonaro subiu (aqui). Sabemos que mais de 100 mil pessoas morreram de Covid-19 no Brasil e que o presidente vandalizou ativamente as medidas de segurança contra a pandemia. Mesmo assim, apresentou o maior índice de aprovação desde a posse. Como entender? 

A sondagem do Datafolha aponta que a popularidade subiu por causa dos brasileiros de baixa renda. São claríssimos os indicadores do efeito “auxílio emergencial” de R$600 mensais, para o qual se inscreveram 40% da população. Mas algo precisa ser esclarecido. Ressalte-se que na humanidade transbordante de Bolsonaro a proposta era de R$200. Chegou-se a R$600 na decisão do Congresso. Sim, foi o Congresso, não Bolsonaro.

Explicar o Datafolha não é tarefa fácil. Ocorre que, com efeito, este é um país que elegeu Bolsonaro faz menos de dois anos. Há questões mais profundas. Os números da pesquisa agasalham um paradoxo. Para pensar: a Amazônia se acaba, a Educação está entregue à destruição, o Itamaraty hoje é chacota do mundo e a pilha de cadáveres ainda cresce na dura crise sanitária que atravessamos. 

Precisamos começar a quebrar de forma mais eficiente esse ciclo vicioso da falta de esclarecimento no nosso país (sem haver preconceito nenhum – é apenas descritivo). Aliás, a ignorância é mal crônico, sabotadora do desenvolvimento brasileiro. A incompreensão é a matriz de todos nós. É dentro dela que nos movemos, mas é possível escapar desse embaraço ocasionalmente. O ponto é que temos uma população enorme de pessoas despolitizadas (ou mal politizadas pela propaganda de extrema-direita).

Não temos tempo para sutilezas. Devemos discutir como chegamos até aqui e quais as nossas dificuldades de reverter o atraso. 

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