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Ricardo Nêggo Tom

Cantor, compositor, produtor e apresentador do programa Um Tom de resistência na TV 247

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Simone e Soraya – As rainhas do debate e da sofrência política brasileira

"Tecnicamente falando, eu diria que a Senadora Simone Tebet teve o melhor desempenho nesse embate retórico. Não que isso deva fortalecer a sua candidatura"

Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União) (Foto: Reprodução/Band)
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O primeiro debate presidencial realizado pela Band teve momentos de tensão, lucidez, delírio, ironia, mentira e canastrice. Longe de ser uma avaliação técnica, a minha reação ao desempenho dos candidatos presentes a tal peleja argumentativa é baseada no sentimento e na capacidade de percepção do outro, a partir do seu estereótipo e daquilo que conseguimos captar da sua linguagem corporal e expressão facial. Portanto, levem muito à sério o que eu vou escrever aqui, porque, em se tratando de política, as aparências nem sempre enganam.

Seguindo a ordem de posicionamento na sua televisão, ou seja, da esquerda para direita, a não ser que o seu televisor seja à mão inglesa, começo pelo liberal Luiz Felipe D’Avila, do NOVO. Num misto de Roberto Justus, graças a modelagem e a imobilidade do seu topete, com gestual de João Dória numa aceleração um pouco mais reduzida, o milionário paulistano tentou nos convencer de que é gente como nós, que trabalha e rala muito para garantir o seu sustento. O que já me arrancou uma gargalhada logo de saída. Continuou me fazendo rir quando manifestou a sua preocupação com a fome e a miséria no país e disse que os mais pobres estão no seu projeto de governo, quando o seu partido, que de novo não tem nada, foi o único a votar con tra o auxílio emergencial para os trabalhadores da cultura. Talvez, por achar que todo artista seja rico igual os caciques do partido. O que eu não achei muita graça, é na sua fixação pela privatização de tudo, o que, segundo ele, é a solução para o crescimento econômico do país. Coerente para uma ideologia partidária que costuma dizer quando é acusada de defender o Estado mínimo, que, na verdade, defende o cidadão máximo. Resta saber qual novidade eles podem apresentar para transformar a pobreza que o seu pensamento liberal ajuda a manter, em riqueza e prosperidade financeira para todos os cidadãos brasileiros. Nota 3 pelo senso de humor e pela gola engomada da camisa.

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Ao seu lado estava Lula, que dispensa muitos comentários. Embora, eu tenha achado o seu desempenho um pouco carente de energia em muitos momentos. Não sei se por estratégia, ou, até mesmo, por um certo cansaço físico devido a intensidade do início da campanha. O que ele é capaz de fazer como governante nós já sabemos, mas a sua postura no debate me pareceu mais a de um presidente disputando a reeleição, do que a de um candidato que é a principal esperança do povo brasileiro contra a barbárie política que representa o governo atual. Quando saiu da sua zona de conforto, conseguiu ser mais incisivo e protagonizar bons momentos. Apostou na diplomacia para tentar desconstruir o ataque que Ciro Gomes lhe direcionou, e foi chamado de “encantador de serpentes” pelo d o candidato do PDT. Deu uma boa enquadrada em Soraya Thronicke quando ela tentou negar os avanços sociais incontestáveis produzidos durante o seu governo, mas, ainda assim, não foi o Lula que historicamente se notabilizou como um debatedor arrojado e provocador. Arriscou uma tabelinha com Simone Tebet para atingir Bolsonaro, mas a recíproca da candidata do MDB não foi a esperada. Agredido moral e verbalmente por Bolsonaro, Lula se demonstrou tranquilo na resposta e não alimentou o desequilíbrio do capitão cloroquina. Afinal de contas, além de ter tido todas as suas condenações anuladas pela justiça, não foi ele quem decretou sigilo de 100 anos para esconder a desonestidade do seu governo.

Tecnicamente falando, eu diria que a Senadora Simone Tebet teve o melhor desempenho nesse embate retórico. Não que isso deva fortalecer a sua candidatura ou torna-la a tão sonhada e viável 3ª via. Longe disso. Porém, conseguir dividir o protagonismo no primeiro debate presidencial, e até roubá-lo em dados momentos, tendo como oponentes dois membros da nossa cavalaria política como Lula e Ciro, faz com que o seu apoio no segundo turno seja bem significativo para quem conquista-lo. Partiu dela os principais ataques contra Bolsonaro, talvez no intuito de fazer aflorar numa resposta mais ríspida, o machismo e a misoginia que lhes são peculiares e que ela ali criticava. Conseguiu colocar o genocida em saia justa em vários momentos, e não se intimidou quando ele tentou revidar. Também partiu para cima de Lula e do PT, tentando convencer aos eleitores de que é a melhor alternativa fora da polarização. Não tem toda essa força, mas mostrou que sua candidatura pode ser útil ao debate político e social. Principalmente, quando se declara feminista e diz que o feminismo não pertence à esquerda ou direita. Falou com firmeza, clareza e tranquilidade, e conseguiu se dirigir a todos os brasileiros. Deve ter empolgado a Globo. Mas essa via não é tão segura assim para o povo.

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O que Simone Tebet tentou, a jornalista Vera Guimarães conseguiu. Fazer Jair Bolsonaro expor o seu machismo e misoginia de forma escrota e irascível, após uma pergunta sobre a vacina que ele demorou comprar, provocando a morte de milhares de brasileiros. O ataque à jornalista causou indignação aos demais candidatos, que reagiram posteriormente em suas falas condenando a atitude do atual presidente. Como já era de se esperar, Bolsonaro ofereceu ofensas e grosserias como propostas e mentiras para exaltar a competência do seu governo. E o que mais ele teria para oferecer? Uma retórica deprimente, uma oratória precária e uma dialética inexistente. Em qualquer debate, Bolsonaro sempre será o pior. O perna de pau, a “baranga’’ do jogo, como diria Gérson, o canhotinha de our o. O cocô do cavalo dele mesmo. Ou seja, do bandido que ele finge não ser. Se um dia nos permitimos ter alguém tão desqualificado ocupando a presidência do país, é dado o momento de recolher esse lixo que mantivemos por tanto tempo debaixo do tapete da nossa democracia. Não dá mais para suportar a toxicidade e o mal cheiro do bolsonarismo.

Fazendo jus ao nome de vilã de novela mexicana, Soraya Thronicke, do União Brasil, ameaçou virar uma onça e fazer algumas revelações sobre Bolsonaro, caso ele ousasse a desrespeita-la como havia feito com a jornalista Vera Magalhães. A candidata ainda disse que Bolsonaro costuma se comportar como uma “tchutchuca” com outros homens e com as mulheres ele gosta de agir como tigrão. Faltou pouco para a vilã, digo, a candidata, chama-lo de Maria do Bairro e manda-lo ficar longe de Luiz Fernando. Depois de Tebet, Soraya foi a quem mais soube colocar o atual presidente em seu devido lugar. Nem parecia aquela Soraya que um dia foi uma grande aliada do bolsonarismo. Embora, ainda continue a defender o direito de os latifundiários terem uma arma para defender suas propriedades e de o cidadão de bem port arem uma para se defender. Pecou tanto na canastrice de sua interpretação, como na apresentação de suas propostas. Como, por exemplo, isentar professores do imposto de renda e criar um imposto único federal. Coisa de novela mexicana mesmo. Posou de Juma Marruá, mas está mais para Barbie do Pantanal mato-grossense.

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Chegamos a Ciro Gomes. E seria melhor nem ter chegado. O candidato do PDT mais uma vez se resumiu a atacar Lula e a se apresentar como uma proposta de reconciliação nacional para combater o ódio que a polarização semeou entre nós. Mesmo sendo enfadonho, repetitivo e rancoroso. Ensaiou uma tabelinha com o Luiz Felipe D’Avila para falar de educação, acenou levemente para Simone e Soraya (isso daria uma dupla sertaneja. Melhor não!), e, pasmem, estava sendo cordial em suas críticas à Bolsonaro, até que esse disparou-lhe um petardo da entrada da área, acertando em cheio a sua fama de Coronel e o seu passado machista. Obviamente, Bolsonaro foi baixo e rasteiro, com o perdão do pleonasmo, ao citar o ex relacionamento de Ciro com a atriz Patrícia Pilar. Porém, fez com que Ciro provasse um pouco do veneno que tem servido à Lula insistentemente. Nem a sua habitual e elogiável oratória foi a mesma. Fez um afago aos evangélicos ao dizer que a jornada dos trabalhadores não permite nem que eles possam ir ao templo exercer a sua fé e buscar proteção. Incorporou o “Glória à Deus” do seu aliado Cabo Daciolo ao seu discurso, dizendo que ora todos os dias pelo Brasil e para que ele seja capacitado para governar o país. Deve se mudar para Paris definitivamente após as eleições.

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