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Inez Lemos

Psicanalista e autora de "Berro de Maria", ed. Quixote.

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Solidão e crimes entre internautas

(Foto: Reprodução/TV Globo | Reprodução/Google Street View)
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Como tentar entender os ataques de violência nas escolas, provocando mortes entre alunos e professores nos últimos anos? Toda criança ao nascer, para crescer e se desenvolver bem fisica e psiquicamente, requer cuidados - ser bem acolhida, acariciada, amada. Sem isso o núcleo psíquico pode falhar, somos um corpo erógeno num corpo biológico. 

Como será que os jovens e adolescentes tem sido educados, embalados, afetados emocionalmente? A vida atual tornou-se muito interessante, encontramos muitas opções de entretenimento - vídeos, filmes, séries. O celular de hoje é uma Disneylândia, há de tudo - de pornografias à aulas de filosofia, o que dificulta a concentração dos pais na educação dos filhos, priorizar o que é essencial e descartar o supérfluo, banal. Contudo, o cotidiano entre pais e mães tem apontado uma realidade triste, a vida online está comprometendo a vida afetiva, as relações interpessoais nas famílias. 

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No cenário da tecnocultura, a criança acaba tendo que buscar nos aparelhos a companhia que deveria ser dos pais, o que aprofunda ainda mais o isolamento entre pais e filhos. Uma relação saudável exige convivência diária, construção de intimidade não acontece num passo de mágica, é um ir e vir danado. Quando a mãe ou o pai prefere passar horas com o celular e não com o filho, filha, o que eles  internalizam é que o foco de desejo dos pais não está neles. Algo soa como desamparo, pouco caso, desvalor, desinteresse. Presenciar os olhos dos pais brilharem diante de uma tela, por horas, deve ser doloroso, cruel. 

Como competir com os apelos das plataformas, streamings, redes sociais? Será que esses atos criminosos não são uma forma de dizer: prestem atenção em nós, parem de brincar com o celular, brinquem, cantem e dancem conosco, nos ensinem a amar, sofrer, viver em tempo real, integral. A violência insurge quando a palavra falha, quando não simbolizamos, manifestamos, conversamos. O que provoca revolta, ressentimento entre os filhos e alunos é se sentirem descartados, desnecessários, invisíveis. Todo ser humano gosta de ser reconhecido, lembrado e lambuzado em bons sentimentos.Todos nós demandamos amor, carinho, atenção. Nada substitui um olhar atento, um espaço na agenda, um abraço, um agrado. Não é a materialidade da vida que irá suprir a necessidade subjetiva. 

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Acredito que, se quisermos desvendar o sintoma - onda de violência contra escolas, pais e colegas, temos que ouvir os alunos, deixar que jorrem todo ódio, rancor, vergonha, frustração. Deixar escorrer a lama represada. A competição incentivada pela sociedade de mercado entre os jovens é perversa. Exige beleza, inteligência, branquitude, inserção no consumo. Os que não se encaixam nesse modelo sofrem bullying e acabam passando ao ato - se vingando. Para tanto, encontram apoio em jogos online e sites da deep web (internet de atividades ilegais). Terreno propício na articulação de estratégias de ataques. 

As escolas estão jogadas entre as demandas do capitalismo e de uma formação crítica, humanista, ética. Esperam que ela concilie o inconciliável - cuide, eduque, forme, capacite. Enquanto muitos pais circulam por fora: desatentos, omissos, desinteressados, negligentes, abandônicos. O ideal não seria que todos estabelecessem critérios ao decidirem engravidar? Apenas ter filhos os pais e mães que desejam cumprir com a função paterna e materna? Todos hão de se implicar na questão. 

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Desejar ter um filho, filha não significa que os pais estão desejando arcar com a responsabilidade de educar, dedicar à criança até que ela esteja apta a assumir as rédeas de sua existência. Não é mais possivel debater violência, crimes, agressões, sem irmos à radicalidade da questão. Quem produz o violento, o machista, racista, fascista, o Sem Noção - desequilibrado psiquicamente? A genética pouco tem a ver nesse particular. A maioria dos sintomas surgem no processo educacional, entre os amores edípicos - como as relações entre mãe e filho, pai e mãe se orientaram. Como esse sujeito operou toda a carga dos afetos, positivos e negativos? 

Não nascemos prontos, somos marcados ao longo da vida. Marcas indeléveis que precisam ser tratadas. Onde há sofrimento deve haver escuta, acolhimento. Além das questões pessoais, oferecer um ambiente familiar mais saudável, há de se criar políticas públicas de prevenção - ações de inteligência sobre sites e fóruns anônimos. Fiscalizar o ambiente cibernético dos jovens e adolescentes - tarefa para pais e órgãos de segurança. Sem mudarmos a cultura machista, violenta, exigindo paternidade responsável, quando a maioria dos lares é monoparental - apenas a mãe assumindo a responsabilidade da educação dos filhos, pouco avançaremos.

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