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Alex Saratt

Alex Saratt, professor de História nas redes públicas municipal e estadual em Taquara/RS e dirigente sindical do Cpers/Sindicato.

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Tostines com Orloff

Fica a pergunta Tostines: Bolsonaro comprou o Centrão ou o Centrão comprou Bolsonaro? Como se dará esse relacionamento: simbiótico ou conflituoso? A persistência da crise geral do Brasil pode afastar esse segmento de seus compromissos com o Governo? A conquista da frente parlamentar é orgânica ou circunstancial? De momento, mar de rosas, juras de amores, núpcias. Mas a médio e longo prazo? A ver.

ACM Neto e Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR/Divulgação)
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Nos anos 1980 duas propagandas fizeram enorme sucesso entre telespectadores e consumidores a ponto de virarem bordões nacionais. Quem é mais vivido certamente lembra da clássica pergunta do biscoito: "Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?". Também é memorável a assertiva de conhecida marca de vodca, a Orloff: "eu sou você amanhã", muito utilizada para comparar as incessantes crises econômicas que envolviam Brasil e Argentina, ambos saídos de ditaduras militares que os puseram de joelhos.

Faço essas reminiscências porque a recente eleição da Presidência da Câmara dos Deputados trouxe à tona algumas questões que merecem atenção e especulação. Sobre a vitória governista ficou patente que os deputados acorreram ao fisiologismo entranhado nas estruturas e relações políticas como modo de regalo e também por convergência ideológica (não custa lembrar que o Centrão "cristianizou" Alckmin em 2018) e para não assumir a pauta do impeachment.

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Tão logo os novos presidentes das duas casas legislativas assumiram suas funções trataram de articular a agenda de votações que combina ultraliberalismo econômico, desnacionalização aguda, conservadorismo de costumes e institucionalização do fascismo nas políticas de segurança e armamento.

Ao que parece o casamento entre Bolsonaro e o Centrão tem tudo para consolidar base parlamentar comprometida a reformular o contrato social brasileiro e dar-lhe conteúdo retrógrado em todos os sentidos. Sacramentaria a tendência histórica do funesto bloco político em sustentar governos às custas do país e do povo, exceção feita aos casos de Collor e Dilma - cada qual por motivos muy distintos, registre-se.

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Porém, fica a pergunta Tostines: Bolsonaro comprou o Centrão ou o Centrão comprou Bolsonaro? Como se dará esse relacionamento: simbiótico ou conflituoso? A persistência da crise geral do Brasil pode afastar esse segmento de seus compromissos com o Governo? A conquista da frente parlamentar é orgânica ou circunstancial? De momento, mar de rosas, juras de amores, núpcias. Mas a médio e longo prazo? A ver. Os liberais conservadores alemães deram margem para Hitler e o resto da História é bem conhecido.

O fato é que essa aliança, baseada na instabilidade, pode contribuir para o sucesso do modus operandi do Executivo, hábil em trabalhar sob pressão, pragmático em seus lances, confiante nos sustentos dados pelas FFAA, fundamentalismo religioso e parcela fascistizada da sociedade.

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O "efeito Orloff" - "eu sou você amanhã" - entra em cena na medida que consideramos o caráter, propósito e objetivo do grupo empoderado a partir do Planalto. A referência da Ditadura Militar nunca foi ocultada pelo Presidente e seus movimentos ambicionam abertamente um Estado de Exceção. O risco de nova escalada golpista ou ditatorial não pode ser subestimado, exigindo da Esquerda uma posição e atitude consequente, ampla e radical simultaneamente.

A cogitação de uma nova constituinte representa uma grave ameaça ao Estado Democrático de Direito e implicaria numa reprodução avessa e infame do processo bolivariano, assentando nos militares a fiança para um outro regime e cuja consecução significaria a destruição definitiva do difícil, tortuoso e limitado estabelecimento da Democracia como padrão de sistema republicano.

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Resta torcer para que a capacidade intelectual das forças, organizações e lideranças progressistas capturem a realidade objetiva e subjetiva do país e saibam se recolocar na luta política. As crises não terão solução, a população sofrerá ainda mais, as condições econômicas e sociais continuarão a deteriorar. Cabe recordar da queixa do então Presidente FHC, que dizia que tinha uma "maioria desorganizada a seu favor e uma minoria organizada contra".

Se não formos competentes nessas tarefas, podemos desde já responder a primeira questão e esperar a segunda situação. Frente Ampla, ao contrário das sentenças "de Pirro", ainda é um caminho e uma exigência. Nos anos de chumbo sua percepção veio tardia, oxalá hoje consigamos compreendê-la e construí-la em tempo.

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