Vaca profana

Alguns católicos conservadores viram profanação da vaca ter se abrigado na igreja. Ora, Jesus não nasceu num estábulo?! O animal é como uma refugiada do cataclismo e a natureza, essa sim, profanada.

A mãe natureza sofre e se ressente com a profanação dos seus nichos e santuários naturais. Vejam o que ocorreu recentemente no Texas devastado, apesar do negacionismo do Trump. Surge no planeta o Refugiado climático, pessoas que precisam de asilo não por perseguições políticas, mas por perdas irreversíveis de seus bens. No Sul temos os desabrigados em ginásios de esportes, escolas ou beira de estradas.

Se no extremo ambiental do Sul temos enchentes e inundações homéricas, na Amazônia tínhamos rios caudalosos mas agora com os seus leitos que parecem um forno de ressequidos! Em que pese as evidências cada vez mais sentidas, a plausibilidade e a obviedade dos fatos, os negacionistas se mantêm com seus projetos de leis, para aumentar a degradação da natureza profanada. Tribos indígenas morrem com esse emporcalhamento dos garimpos ilegais e com o abate da mata virgem pelos madeireiros.

Os negacionistas prestam um desserviço em suas ações nefastas, e alguns com mandatos no Congresso, querem mudar o ordenamento das leis ambientais. Há uma compulsão ambiciosa de desmatar para criar gados, mineração ou uso imobiliário das terras. Como tudo, cheira à hipocrisia. Vão pôr a culpa no gado, na galinha, no cavalo, no Clima, enquanto posam de “vacas de presépios” e “vão passando a boiada”.

Numa área maior que a cidade de Piracicaba, equivalente à Campinas, o pecuarista Claudecy Oliveira Lemes, jogou veneno com aviões por toda a mata do município de Barão de Melgaço (MT), mais de 25 tipos de agrotóxicos diferentes em suas 11 fazendas, conforme apurou André Trigueiro, da Globonews. Isso para plantio de capim e pasto para boi. Um desses veneninhos é o 2,4-D, letal, presente na composição do chamado "agente laranja", usado na guerra do Vietnã. Esse moço encontra-se protegido pelos discursos de políticos da ultra direita. Por certo destruiu plantas medicinais e fauna do lugar. Anotem-se, o Pantanal está secando. É mais uma profanação explícita, muito maior que uma vaca inocente no templo católico.

Em trâmite pelo Congresso Nacional há 25 projetos de lei e três emendas constitucionais contra o Meio Ambiente (vide site do congresso em foco), pelos quais perderemos 50% do Pantanal. Nos pampas, além do já perdido por inundações óbvias e noticiadas, essa flexibilização legal leva à perda de mais 32% de florestas. O cerrado da mata Atlântica, aquela que cresce próxima ao oceano, perderá 7%. Na Amazônia, que já foi pulmão do mundo, serão 15 milhões de hectares perdidos, sem escrúpulos, por graça e obra de negacionistas.

Se a vaca piedosa se protegeu num templo, os sapos se entorpecem na panela morna... a vaca foi salva, já o sapo vai se cozinhar na panela que profanou.