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Cúpula UE-Celac termina em frustração para a União Europeia

As discussões e a declaração final da cúpula demonstraram uma forte afirmação de soberania dos países latino-americanos e caribenhos

Cúpula Celac-UE (Foto: Granma/Conselho Europeu )

José Pedro Faya, de Lisboa, 247 - A recente cúpula entre a União Europeia (UE) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), realizada nos dias 17 e 18 de julho em Bruxelas, teve resultados aquém do desejado pelas lideranças da União Europeia.

Apesar das expectativas iniciais de renovar e fortalecer a sua influência sobre a América Latina, com vista a contrapor a sua aproximação cada vez maior à China, e de levar estes países a uma seletiva culpabilização da Rússia pelo conflito na Ucrânia, as lideranças europeias enfrentaram desafios que impediram a obtenção destes resultados.

Em declarações à imprensa no primeiro dia da Cúpula, a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, evidenciou a intenção de contenção da China. “Nós queremos discutir hoje como eliminar riscos e diversificar nossa cadeia de abastecimento”, disse Von der Leyen. O termo “eliminação de riscos” tem sido a expressão frequentemente utilizada pela UE e pelos EUA para expressar o desejo de isolar a China.

No mesmo encontro com a imprensa, o presidente Lula demonstrou a divergência entre os objetivos dos países latino-americanos e caribenhos e os objetivos da EU para a cúpula. Em sua declaração, o presidente do Brasil afirmou: “a cimeira representa um passo na construção do mundo que sonhamos, um mundo mais solidário, mais fraterno e menos desigual”, afirmando ainda o anseio por um mundo multipolar.

As discussões na cúpula foram marcadas por divergências em várias questões-chave, demonstrando a autonomia e insubmissão dos países da Celac relativamente às estratégias e imposições da UE.

Diversas vezes durante as discussões, assim como na declaração final da Cúpula, foi frisada a necessidade de uma solução diplomática e negociada para o conflito na Ucrânia, em contrariedade com o caminho da escalada da confrontação e de culpabilização da Rússia como única responsável pelo conflito.

“Apenas em 2022, em vez de matar a fome de milhões de seres humanos, o mundo gastou 2,24 trilhões de dólares para alimentar a máquina de guerra, que só causa mortes, destruição e ainda mais fome”, afirmou Lula na abertura da Cúpula. O presidente criticou ainda os países ricos por não cumprirem os seus compromissos com o combate às mudanças climáticas e com a redução das desigualdades, e afirmou a sua oposição às sanções nas relações internacionais.

Os países da Celac demonstraram ainda que não estão de acordo com a política de contenção da China. Para além de Lula, também a presidente de Honduras destacou a importância da multipolaridade e frisou que não se aliarão a esta estratégia: “Há algumas semanas abri oficialmente relações com a República Popular da China, pois creio em um mundo multipolar onde o intercâmbio e a cooperação para o desenvolvimento se baseiem nos princípios de independência, soberania e não ingerência”

Também esteve incluída na declaração final da Cúpula, no seu artigo 11º, a necessidade de pôr fim ao embargo económico, comercial e financeiro imposto contra Cuba e de retirar o país da lista de “Estados patrocinadores do terrorismo”, criada unilateralmente pelos EUA.

Paralelamente à Cúpula UE-Celac, cerca de 200 organizações da América Latina e da Europa, para além de chefes de Estado, participaram na Cúpula dos Povos, na qual reforçaram os seus laços e afirmaram o caráter anti-imperialista dos seus objetivos políticos.