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Lula recebe Alberto Fernández no Palácio do Planalto no marco do 200° aniversário das relações diplomáticas bilaterais (vídeo)

O Itamaraty explicou que o governo Lula "atribui caráter estratégico e prioritário" às relações com a Argentina

Alberto Fernández e Lula 26/6/23 (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, na tarde desta segunda-feira (26), o homólogo argentino, Alberto Fernández, no Palácio do Planalto, no marco do 200° aniversário das relações diplomáticas bilaterais. A primeira-dama brasileira, Janja da Silva, e a homóloga argentina, Fabiola Yáñez, também compareceram. 

Em nota, o Itamaraty explicou que o governo Lula "atribui caráter estratégico e prioritário" às relações com a Argentina, "eixo fundamental do Mercosul e do processo de integração sul-americana". Após o encontro, Lula oferecerá um almoço em homenagem ao homólogo argentino.

Segundo o jornalista brasileiro Valdo Cruz, do portal G1, um dos itens da pauta deve ser o apoio do Brasil à eventual entrada da Argentina no Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) do BRICS, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. 

Buenos Aires já conta com o aval da maior parte do órgão, mas a decisão exige o apoio de todos os integrantes do banco, com sede em Xangai. Seu presidente é a ex-presidente brasileira Dilma Rousseff, que está em boa sintonia com o governo Fernández. Lula quer receber garantias financeiras do NDB e assim apoiar suas exportações para a Argentina, terceiro maior parceiro comercial do Brasil. Em 2022, as exportações brasileiras para o país vizinho chegaram a 15,3 bilhões de dólares

A visita de Fernández ocorre no contexto da tentativa de Lula de articular iniciativas de ajuda aos países vizinhos, principalmente para evitar queda nas exportações brasileiras. Desde janeiro, o chefe do Executivo do Brasil e Fernández encontraram-se quatro vezes. Além da posse de Lula, em janeiro, o petista fez uma visita oficial à Argentina na sua primeira viagem internacional. Já Fernández veio outras duas vezes a Brasília – uma para se reunir diretamente com o presidente da República, em maio, e outra para participar da cúpula de presidentes sul-americanos. 

Confira o discurso do presidente Lula na íntegra: Que alegria poder celebrar essa data tão importante, ao lado do meu amigo Alberto Fernández, sua esposa Fabíola Yañez e comitiva.  

Ao condecorá-los com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul e a Ordem de Rio Branco, prestamos justas homenagens a um casal de amigos do Brasil.

Ambos são representantes de uma nação pela qual nós brasileiros temos respeito e afeto e que nos honram nesta data tão especial.

Este não é apenas mais um encontro.

Completamos 200 anos de relações diplomáticas.

As então Províncias Unidas do Prata foram, na prática, o primeiro estado a reconhecer o Brasil.

Em 25 de junho de 1823, o líder argentino Bernardino Rivadavia celebrou a independência do Brasil e credenciou um enviado oficial para tratar pessoalmente com o Imperador Pedro I.

A construção de laços de confiança e da integração entre nossos países foi tarefa de gerações.

Homenageio aqui o Presidente José Sarney e a memória do Presidente Raúl Alfonsín.

Estávamos acordando depois de uma longa noite autoritária e, ao mesmo tempo, enfrentávamos uma das mais severas crises econômicas de nossas histórias.

Sarney e Alfonsín tiveram, então, a visão e a coragem de sepultar desconfianças históricas e plantar as sementes de nossa Aliança Estratégica.

Juntos provamos que é possível cooperar até mesmo em um dos setores mais sensíveis, o nuclear.

Construímos um patrimônio de confiança, ao abrigo da Agência de Cooperação e de Controle de Materiais Nucleares (ABACC) que é exemplo para o mundo.

Lideramos o processo de criação do Mercosul, que uniu os destinos dos países do Cone Sul e que criou as bases para lançarmos um projeto ambicioso de integração da América do Sul.

Ao retomar esse projeto de integração com os demais presidentes sul-americanos em maio passado, honramos também a memória de outro grande nome da nossa história compartilhada: o querido presidente Néstor Kirchner, que foi o primeiro secretário-geral da UNASUL.

Caro Alberto,

Reafirmamos hoje que a integração é uma política de Estado e que nossa parceria deve ser cultivada no mais alto nível. 

Minha primeira viagem internacional no presente mandato foi a Buenos Aires e nossos frequentes encontros deixam evidente a importância que damos à Aliança Estratégica entre nossos países.  

Compartilhamos valores indispensáveis no mundo de hoje. Temos compromisso com a democracia e os direitos humanos, com a erradicação da fome e da pobreza e com o desenvolvimento sustentável. 

No plano internacional, somos parceiros na criação de uma ordem multipolar e de um multilateralismo mais representativo e eficaz.

Defendemos o Atlântico Sul como zona de paz e cooperação, sem disputas de natureza geopolítica.

Nossa integração econômica significa interdependência.

A Argentina é o terceiro destino de nossas exportações, enquanto o Brasil é o principal mercado para os produtos argentinos.

Nosso intercâmbio comercial pode superar a cifra de 40 bilhões de dólares que atingimos em 2011.

Construímos uma relação baseada na troca de bens de alto valor agregado e na integração produtiva de nossas economias.

Nossos investimentos recíprocos são responsáveis por quase cem mil empregos.

Precisamos avançar nessa direção, com novas e criativas soluções que permitam maior integração financeira e facilitem nossas trocas. Entre as opções está a adoção de uma moeda de referência específica para o comércio regional que não eliminará as respectivas moedas nacionais.

Hoje adotamos um ambicioso Plano de Ação para o Relançamento da Aliança Estratégica.

São quase 100 ações que dão concretude ao nosso projeto conjunto de desenvolvimento.

Fico muito satisfeito com as perspectivas positivas de financiamento do BNDES à exportação de produtos para a construção do Gasoduto Presidente Néstor Kirchner.

Estamos trabalhando na criação de uma linha de financiamento abrangente das exportações brasileiras para a Argentina.

Não faz sentido que o Brasil perca espaço no mercado argentino para outros países porque esses oferecem crédito e nós não.

Todo mundo tem a ganhar: as empresas e os trabalhadores brasileiros e os consumidores argentinos.

Companheiro Alberto,

Nossas jovens democracias conseguiram, através da luta de militantes políticos, movimentos sociais, estudantis e sindicais, superar um passado de autoritarismo.

Recordo a querida Hebe de Bonafini, que nos deixou no último ano. Que seu exemplo siga nos inspirando a promover e proteger os direitos humanos.

Diante do muito que nossos países alcançaram juntos, não tenho dúvida de que os próximos anos serão de muita prosperidade.

Muito obrigado. (Com informações do RT).