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Daniel Quoist

Daniel Quoist, 55, é mestre em jornalismo e ativista dos direitos humanos

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45 dias de uma tresloucada Oposição que 'perdeu perdendo'

Empurrada para a direita, a oposição apostou todas as suas fichas em devaneios pueris próprios de adolescentes que ingressam afoitos no jogo político dos adultos – tomar o poder na marra, deixar “o governo no chão”, acenar com impeachment

Empurrada para a direita, a oposição apostou todas as suas fichas em devaneios pueris próprios de adolescentes que ingressam afoitos no jogo político dos adultos – tomar o poder na marra, deixar “o governo no chão”, acenar com impeachment (Foto: Daniel Quoist)
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Chega a ser impressionante as trapalhadas da oposição nas semanas que se seguiram à mais concorrida eleição presidencial desde a redemocratização do Brasil. A oposição conseguiu empanar o brilho de seus decantados - e sempre lembrados - 51 milhões de votos conseguidos no pleito de 2014, montanha de votos realmente enorme, mas ainda assim inferior em 3,5 milhões de votos aos 54,5 milhões da presidente reeleita Dilma Rousseff.

Empurrada para a direita de forma magistral, a oposição apostou todas as suas fichas em devaneios pueris próprios de adolescentes que ingressam afoitos no jogo político dos adultos – tomar o poder na marra, deixar “o governo no chão”, acenar uma e repetidas vezes com o impeachment de uma presidente eleita legitimamente e com maioria robusta em pleito claramente despido de fraudes, abrir espaço midiático para grupelhos saudosistas do regime militar... tudo isso fez a oposição em apenas 45 dias.

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- 31 de outubro

Poucos dias após a derrota a oposição protocolou com estardalhaço pedido de “auditoria especial” de resultado das eleições no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A peça jurídica assinada pelo deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) era em si mesma um fiasco: amparava a medida a acusações de fraudes veiculadas em redes sociais na internet. O tucano, conhecido por promover representações as mais desvairadas possíveis contra ora contra o governo, ora contra o PT, devia ter se informado previamente que na internet pululam notícias dando conta que estão vivos - e na clandestinidade do anonimato - personalidades como Elvis Presley, Michael Jackson e Osama Bin Laden. O pedido de auditoria ao TSE serviu apenas para aguçar instintos golpistas e dar relevo a grupos de direita antes adormecidos e no aguardo de momento para vir à superfície de um país realmente vivendo a democracia em sua plenitude.

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- 2 de novembro

Menos de uma semana após a derrota, cerca de 2.500 pessoas foram às ruas de São Paulo para protestar contra o governo petista e o resultado das urnas. O ato foi convocado por meio das redes sociais começou na avenida Paulista, em frente ao MASP (Museu de Arte de São Paulo), no início da tarde, e seguiu em caminhada escoltada pela Polícia Militar até o parque Ibirapuera. Cartazes sugeriam nova intervenção militar no país; também foram realizados atos pedindo a saída de Dilma Rousseff em Curitiba, Brasília e Manaus. As manifestações se apropriavam indevidamente das cores nacionais – o verde e amarelo – e passavam a entoar o Hino Nacional em meio a loas aos militares que enfermaram o país em 1964 e por sucessivos 20 longos anos.

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- 4 de novembro

Oito dias após a reeleição em segundo turno da presidente Dilma Rousseff, novos eventos foram marcados nas redes sociais para o feriado de Proclamação da República (15) em São Paulo, no Rio e em Brasília para vocalizar pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Na capital paulista, a concentração foi marcada em frente ao Masp, na avenida Paulista, local onde foi promovida a primeira manifestação, no último sábado (1º).

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O evento foi convocado por dois grupos. Um deles puxado pelo deputado federal eleito Jair Bolsonaro (PSC-SP). O outro foi organizado pelo “empresário” Marcello Reis. Ambos negaram ser responsáveis pelos pedidos de intervenção militar na última manifestação. Líderes da oposição repudiaram defesa de intervenção militar. E só repudiaram quando lhes caiu a ficha de que estavam protagonizando papelão de rara magnitude – dificilmente seus 51 milhões no último pleito, ainda quente e saído do forno – seriam simpatizantes ao retorno dos militares ao poder, rasgando-se a Constituição, suprimindo as liberdades civis e restabelecendo uma ditadura de famigerada memória.

O apoio mesmo que discreto e sem grande alarde da oposição a tais ideias golpistas apenas minavam seu alegado patrimônio de votos.

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- 5 de novembro

Menos de dez dias da derrota da oposição, Aécio reaparece no Senado, é recebido com fogos de artifício e afirma que vai liderar um 'exército' de oposição ao PT e cobra propostas de Dilma. Antes achou por bem criticar atos do fim de semana que pediram impeachment de Dilma e disse não ser 'golpista'.

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Se o senador mineiro precisou dizer na tribuna do Senado que ‘não era golpista’ é por si só eloquente sinal que a oposição errou na mão ao insuflar manifestações públicas favoráveis à destituição da presidente recém-reeleita com 54,5 milhões de votos.

A lerda mudança da oposição em relação a tais eventos ardilosamente manipulados por uma direita raivosa, gostosamente instalada no seio da oposição, tinha tudo a ver com a inexpressiva presença de público para um país com mais de 200 milhões de habitantes.

- 6 de novembro

Um dia depois, o mesmo Aécio Neves volta a discursar no Senado, e condiciona conversa com o governo a 'exemplares punições' no caso Petrobras.

Aqui começa o discurso seletivo da corrupção: corrupção que precisa ser punida e estancada imediatamente é aquele em que haja indícios de participação do governo federal ou de políticos ligados ao PT, enquanto que aqueles casos em que o PSDB ou líderes da oposição estejam envolvidos devem morrer de inanição por falta completa de qualquer medida saneadora.

É o caso dos trens em São Paulo, com condenações na Suíça, bloqueio de contas milionárias de servidores públicos abrigados em governos tucanos desde meados dos anos 1990.

- 14 de novembro

Como todo movimento em direção à direita gera reação em direção à esquerda, uma marcha organizada pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) reuniu cerca de 10 mil pessoas na avenida Paulista, em São Paulo, nesta quinta (13).

O cálculo é da Polícia Militar e segundo este, o público foi quase quatro vezes maior que o número de manifestantes favoráveis ao impeachment da presidente. O objetivo era se opor ao ato feito no dia 1º por eleitores anti-Dilma descontentes com a reeleição.

Guilherme Boulos, da coordenação do MTST e colunista da Folha, disse que o PSDB tem posições de extrema direita. "O PSDB na verdade tem vergonha em assumir suas posições, que em grande medida se assemelham com a extrema direita", afirmou.

- 15 de novembro

Aproveitando o simbolismo do feriado nacional, mais de 10 mil participam em atos contra governo em algumas capitais. Em São Paulo, marcha se dividiu após divergência; no Rio, Bolsonaro liderou protesto com cerca de 150 pessoas. Impeachment de Dilma e elogios ao regime militar causam divisões entre manifestantes e políticos nos eventos. Protestos em São Paulo, Brasília e no Rio de Janeiro pedia o impeachment de Dilma e a anulação das eleições.

Em São Paulo, uma minoria defendia a volta do regime militar, o que gerou divisões. Por volta das 16h deste 15 de novembro, um grupo ficou na Paulista e outro, maior, seguiu à Praça da Sé. Um terceiro foi ao Segundo Comando Militar do Sudeste, no Paraíso.

O cantor Lobão, que na campanha disse que sairia do país caso Dilma vencesse, ensaiou participar, mas desistiu ao se deparar com o grupo que pedia intervenção militar. Falaram no evento o senador do PSDB Aloysio Nunes (SP), vice na chapa de Aécio e os Deputados estaduais eleitos, Eduardo Bolsonaro (PSC) e Coronel Telhada (PSDB). Um trio até bem pouco tempo inimaginável.

- 26 de novembro

Passados exatos 30 dias da derrota de Aécio para Dilma, o PSDB anunciou que ingressaria com um mandado de segurança no STF (Supremo Tribunal Federal) alegando que a sessão do dia 25/11 que analisou 38 vetos da presidente Dilma Rousseff foi fraudada.

E com isso, solicitaria a sua anulação. A ação teve como base reportagem publicada pela Folha de S.Paulo em que mostrava assessores de partidos do governo e do Solidariedade (que é da oposição) preenchendo as cédulas de votação de congressistas.

Dois dias depois provou-se que poucos parlamentares pediram a seus assessores que preenchessem sua própria cédula de votação, dois deles por problemas de coordenação motora.

Mesmo assim, com mais esse tiro n’água, o líder da bancada tucana na Câmara, Antônio Imbasshay (BA) declarou inflamado que tal ocorrência “configurou-se claramente uma fraude. O parlamentar não votou, e sim o assessor. Isso é de uma gravidade extraordinária".

- 1º de dezembro

Ainda com imensa dificuldade de digerir os resultados eleitorais que deram vitória à petista Dilma Rousseff, o PSDB pediu que o TSE rejeitasse as contas da campanha de sua adversária vitoriosa.

Na representação tucanos alegavam que a petista excedeu teto de gastos. O descaso com que o principal partido de oposição ao governo recorre ao Judiciário para empanar o brilho de sua derrota nas urnas chega às raias do ridículo.

Demonstra assim que tudo vale para ganhar no tapetão – seja este qual for – o que o resultado das urnas lhes negou por formidáveis 3,5 milhões de votos.

- 3 de dezembro

O atilado senador mineiro acusou sua vitoriosa adversária de colocar o Congresso de "cócoras" ao exigir a aprovação do projeto que permite ao Executivo não cumprir a meta fiscal do ano em troca de mais verba para as emendas dos parlamentares.

Circularam acusações que a oposição teria bancado o pagamento de manifestantes anti-governo para tumultuar, desde as galerias do Congresso Nacional, a votação do Projeto de Lei nº 36/2014. A oposição comandou longa obstrução durante toda a sessão que somente se encerrou com folgada vitória do governo às 5 horas da manhã do dia 4.

O discurso agressivo da oposição veio para ficar, conforme instrução do senador Aécio Neves para cumprir o objetivo de deixar o governo Dilma "no chão". Segundo jornais o tucano disse ser preciso manter "acesa" a indignação de parcela do eleitorado e, assim, aprofundar o desgaste do Palácio do Planalto à medida que o escândalo da Petrobras continua em ebulição.

O mineiro quer, assim, cozinhar a presidente da República em fogo alto. "Não vamos deixar isso [fragilização de Dilma] morrer, o governo que se sustente. Nós vamos perder, mas vamos sangrar esses caras até de madrugada."

Na falta de argumentos e de propostas alternativas para o desenvolvimento do país, Aécio Neves parece ter embarcado em aventura juvenil de simples e simplório enfrentamento político.

Agindo assim, deixa claro que “perdeu perdendo” e não como ele costuma parafrasear Marina Silva, sempre dada a frases de efeito com prazo de validade vencido como esta do “perdeu ganhando”.

- 6 de dezembro

Aécio em entrevista a jornalista afirma que pretende 'sangrar' governo petista e se manter líder na corrida para 2018 e é prontamente rebatido por aliados do governador de São Paulo Geraldo Alckmin.

Os ‘’alckmistas’ apostam que o senador mineiro não se segura 'quatro anos com factóides'. No mesmo dia, protesto anti-Dilma reúne 5.000 em São Paulo e início do ato foi marcado por tentativa de isolar grupo favorável à intervenção militar, que acabou separado da passeata.

A presença de defensores do militarismo e ausência de políticos irritou o cantor Lobão: 'Cadê o Aécio?', gritava. O mesmo roqueiro decadente vociferava ao microfone: "Só tem inimigo' aqui. Cadê o Aécio, Ronaldo Caiado? Se eu passo aqui e vejo esse pessoal, acho que é tudo a mesma coisa. Estou pagando de otário."

Aécio mesmo tendo divulgado vídeo convidando a população a participar em massa do protesto estava muito longe dali. Precisamente no litoral de Santa Catarina.

Quem diria... o PSDB entronizou de vez Lobão como espécie de símbolo do movimento. Por volta das 17h --o ato começou às 15h--, o senador eleito por São Paulo José Serra (PSDB) se juntou ao ato. "Democracia não é só eleição, é um sistema de valores e esses estão sendo pisoteados pelo PT", disse o tucano, que incentivou os manifestantes. "Continuem indo à rua expressar suas insatisfações e, por que não, sua revolta. O melhor da democracia é poder botar a boca no trombone", concluiu.

- 7 de dezembro

O senador tucano Aloysio Nunes disse que era esperado o dado do Datafolha segundo o qual 68% responsabiliza Dilma pelo caso Petrobras: "O povo não é bobo."

Já o senador petista Jorge Viana lembra que a popularidade da presidente é maior que a de FHC antes de seu segundo mandato. Dilma tem 42% de aprovação enquanto FHC tinha 41% no início de seus segundo mandato.  

No mesmo dia, FHC diz que Dilma fará 'malfeito' trabalho que tucano faria melhor e também que Aécio Neves seria mais competente para implementar a política econômica proposta por Dilma, considerada por ele "de direita". Maior prova de que os tucanos são péssimos perdedores de pleito eleitoral que essa impossível. "Cabe agora aos vitoriosos vestir a camisa de seus opositores (como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já fez em 2003), continuar maldizendo-nos e fazendo malfeito o que nós faríamos de corpo e alma, portanto, melhor", afirmou FHC.

Ao chamar Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, a petista entra em contradição ao discurso eleitoral, o que, segundo FHC, “torna discutível a legitimidade de sua vitória.”

- 8 de dezembro

Técnicos do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) se manifestaram pela rejeição das contas de campanha da presidente reeleita Dilma Rousseff e de seu vice, Michel Temer. O parecer, passo inicial na análise das contas pelo tribunal, foi enviado ao ministro Gilmar Mendes, relator do processo.

De acordo com o relatório dos técnicos do TSE, foram encontradas irregularidades em 4% da arrecadação e em 14% das despesas totais. Mesmo se a Justiça Eleitoral rejeitasse as contas da campanha, a presidente ainda seria diplomada para seu novo mandato no dia 18.

Mas a oposição poderia usar uma eventual rejeição das contas para pedir a abertura de uma investigação judicial visando cassar o diploma de Dilma. Mas, tendo o relator seguido o voto do Procurador-Geral Eleitoral Eugênio Aragão que decidiu por aprovação com ressalvas, finalmente, com 7 votos a 0, os ministros do TSE entenderam não haver problemas que comprometessem gravemente as contas e aprovaram as contas de Dilma Rousseff. Neste mesmo dia, o TRE-SP rejeitou as contas da campanhas reeleitoral do tucano Geraldo Alckmin. Lideranças tucanas fizeram-se de mortas – nenhuma palavra sobre o assunto.

Reina no PSDB a máxima de que erros ‘divulgáveis e discursáveis’ somente os cometidos por seus adversários, essa gente que caminha para 16 anos ininterruptos no governo do país.

            Finalmente, depois da redemocratização o Brasil nunca passou por um período de tão difícil assimilação da derrota em um pleito presidencial como foi este de outubro de 2014. A oposição vem sendo claramente cooptada por forças retrógradas da direita, seus discursos se confundem fortemente com um viés conservador, militarista e golpista. Seus líderes passam a fazer parceria com figuras de pequenez menor como os parlamentares Bolsonaro, o Coronel Telhada. Aécio Neves rapidamente assimilou o uso da expressão que o coloca como representante de 51 milhões de brasileiros.

Esquece, todavia, de lembrar que os votos não são seus apenas: parte considerável é da ex-petista Marina Silva, outra boa parte do governador reeleito de São Paulo ainda em primeiro turno Geraldo Alckmin e alguns milhões que sufragaram seu nome nas urnas o fizeram no rastro da tragédia que ceifou a vida do pernambucano Eduardo Campos e, com certeza, atendendo apelo de sua atilada viúva que não mediu esforços para derrotar a vitoriosa petista Dilma Rousseff nas terras pernambucanas.

Com ações midiáticas, reunindo 5 mil, 2.500, 150 pessoas aqui e ali, fazendo discursos inflamados de ocasião, criando parcerias com simpatizantes do retorno dos militares ao Planalto, gerando dobradinhas com Bolsonaros, Telhadas e Lobões, pensa mesmo Aécio Neves que ainda dispõe de 51 milhões de votos?

Como diz o refrão popular: “Sabe de nada inocente”.

As desonras de mau perdedor que a oposição vem protagonizando produziram um ganho a mais para o grupo político que está no poder: O Efeito Lula 2018.

O ex-presidente operário, se é que planejava entrar em campo daqui a dois anos, em meados do mandato de sua ex-pupila, pelo jeito deve ter a essa alturas alterado seus planos. Lula vem mostrando ampla disposição para fazer o necessário e cada vez mais irrecusável contraponto a uma oposição ensandecida por uma derrota cada vez mais não assimilada.

Do lado da oposição, vamos combinar, a escolha do candidato a se confrontar com o Lula-2018 não será nada fácil. De cara, porque dispõe de três nomes manjados que disputaram eleições com Lula ou com Dilma e todos perderam - Aécio, Alckmin, Serra. E todos perderam quando tinham em seu poder os dois maiores colégios eleitorais do país – São Paulo e Minas Gerais. Agora, dispõe apenas de São Paulo, onde por acaso, tem dois aspirantes naturais à presidência em 2018.

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