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Antônio Carlos de Almeida Castro

Advogado criminalista

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A acareação que não houve. Mas que resultou em arquivamentos de inquéritos

Uma acareação quase nunca resulta em nada. Cada um mantém sua versão

Tribunal (Foto: Divulgação (CNJ))

Era o início da operação Lava Jato e a força-tarefa estava se empoderando. 2014. Era o começo das prisões para forçar delações. O jogo de poder já estava sendo jogado pela república de Curitiba. As delações atendiam a interesses do juiz, chefe da operação e de seus procuradores adestrados. E de fortes grupos financeiros, como se comprovou depois. 

Vários clientes do meu escritório foram delatados. Numa das delações o Paulo Roberto, diretor da Petrobras, disse que o Youssef tinha entregado um montante em dinheiro para um senador e uma governadora. Ambos meus clientes. Indignados, eles negaram terem recebido qualquer montante.

O Youssef negou que tivesse entregue dinheiro ao senador e à governadora. Eram as tramas da operação Lava Jato. A contradição era evidente. Inquestionável. 

O procurador-geral anuncia que iria ouvir os citados. A oitiva seria espetacularizada e o prejuízo político, evidente. 

Liguei para um jornalista amigo e disse que iria pedir uma acareação e iria desmoralizar o delator encomendado. O jornalista deu a nota sobre meu pedido de acareação. 

Assim que a nota saiu eu ligo na procuradoria. Imediatamente o PGR volta atrás e pede o arquivamento dos 2 inquéritos que haviam acabado de ser abertos só com a palavra do delator de encomenda.

Uma acareação quase nunca resulta em nada. Cada um mantém sua versão. Neste caso a notícia de um pedido de acareação, que iria expor os conluios lavajatistas, resultou no arquivamento de 2 inquéritos. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.