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Nívea Carpes

Doutora em Ciência Política e mestre em Antropologia Social

27 artigos

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A América Latina, o fiel da balança no último experimento do capital

Os manifestos e convulsões sociais no Equador, na Bolívia, no Chile, na Colômbia e no Haiti, estão construindo o fiel da balança, em termos de limites para as investidas predatórias neocoloniais. Como diz, Jessé de Souza, idiota é quem pensa que não se trata de uma grande conspiração.

Protesto no Chile (Foto: Juan Gonzalez /Reuters)
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O capitalismo é um sistema econômico cíclico, dependente da capacidade de acumular riqueza a partir da exploração, numa primeira fase – da força trabalho e da propriedade dos meios de produção, hoje – da força trabalho de um trabalhador que não se compreende como tal, mas também, através de formas financeiras que idealizam não ter vínculo com a produção. Esse último, uma fantasia da era das realidades virtuais, como se fosse possível riqueza sem lastro material.

De tempos em tempos o capitalismo testa os limites dos trabalhadores. Depois de transformar o valor trabalho em valor consumo e tudo tranformar-se em produto, inclusive o empreendedor de si mesmo, vem o teste sobre até quantos direitos podem tirar do trabalhador sem causar convulsão social.

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Os manifestos e convulsões sociais no Equador, na Bolívia, no Chile, na Colômbia e no Haiti, estão construindo o fiel da balança, em termos de limites para as investidas predatórias neocoloniais. Como diz, Jessé de Souza, idiota é quem pensa que não se trata de uma grande conspiração. 

O receio agora é que a onda de reações à selvageria capitalista, que solapou as já rigorosas condições de trabalho na América Latina, cheguem ao Brasil, o país mais populous da região, que poderia produzir em conjunto com os demais um quadro fora do controle Norte-americano. Esta é a razão porque o ritmo das “reformas”, que em realidade são a destruição de direitos, foi diminuído, propiciando o esfriamento das contestações também.

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A América Latina está no centro das atenções políticas mundiais. Uma vez mais, é preciso evitar que os proletários do mundo se unam, provocando a inversão das forças. A energia poderosa da grandeza populacional dos trabalhadores nunca sai das preocupações das forças minoritária e hegemônicas do grande capital.

Os trabalhadores, de modo geral, não são conscientes do poder intrínseco às suas condições, mas os poderosos agem diariamente com base nessa consciência. 

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Não haveria arma ou estratégia contra a união dos trabalhadores do mundo! Motivo porque a consciência de classe é violentamente combatida e são utilizados os mais diversos recursos que desviam a atenção humana sobre si mesma.

Uma grande perda para a burguesia foi a referência ao Chile como receita neoliberal. Cantada em prosa e verso, a cartilha de soluções para países em desenvolvimento, recomendada a cada pleito eleitoral pelos partidos defensores dessa ideologia, é uma perda que abre um foço explicativo e propositivo. Afinal, o menu que salvaria todos os países com baixo desenvolvimento econômico foi posto em prática integralmente e o resultado é miséria e desolamento em diversos estratos da sociedade, quando sequer a velhisse foi poupada do mais profundo abandono.

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Não por acaso, de repente, Persio Arida e Arminio Fraga, dois expoentes das práticas neoliberais, começam a falar em redução de desigualdade. Isso indica que suas projeções são de grandes pioras para os trabalhadores, insustentáveis com discursos retóricos. Ou seja, ou colocam comida na boca do povo, de maneira redistributiva, ou a bomba tende a estourar. Nesse caso, os maiores prejudicados seriam os poderes hegemônicos no mundo. 

Vale lembrar que o uso de discursos nacionalistas, como forma de diversionismo, está esgotado.

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De outra parte, apesar dos consistentes manifestos espalhados por toda a América Latina, observa-se que as forças de esquerda não têm conseguido construir uma saída alternativa.

No Haiti, o povo está nas ruas há mais de seis meses, pedindo a renúncia de Jovenel Moise, que tem implantado com todos os requintes a agenda neoliberal.

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No caso do Equador, após revoltas que colocaram o país em Estado de Sítio, o governo de Lenin Moreno retrocedeu em algumas questões que estavam na pauta dos protestos, como o aumento de combustíveis, e nada foi além. 

No caso do Chile, o governo Pineira, após toda a violência imposta aos manifestos, com centenas de mortes e feridos, está propondo uma constituinte. Ou seja, sair do modelo constitucional de Pinochet, controlados pela mão da direita. Resta saber se a população irá concordar e não pedirá a renuncia deste governo.

No caso da Bolívia, a autoproclamada Jeanine Anez, depois da renuncia forçada de Evo Moralez, com a insatisfação da população que invade as cidades, propõe uma nova eleição – tudo indica que haveria somente um cardápio de candidatos da direita. Evo Moralez propõe-se a retornar ao país, pedindo auxílio para o Papa Francisco e Pepe Mujica como mediadores.

No caso da Colômbia, o caldeirão está em plena ebulição, contra o governo Ivan Duque, que tenta implementar a agenda de retirada de direitos trabalhistas.

Em todos os casos a demonização da política, como forma de fragilização das instituições com capacidade para proteger as riquezas e os interesses nacionais, é um mecanismo que ainda produz resultados, uma vez que as manifestações tendem a um formato independente e descoordenado. Disso resultam dificuldades em termos da unificação das reivindicações e da definição de lideranças que vocalizem as propostas populares, organizando a unidade do discurso e das negociações.

Dos governos, vemos reações no sentido de amainar os ânimos, não reações impostas por uma agenda dos movimentos e não tratativas resultantes do diálogo com os movimentos. 

Nesse momento, o neoliberalismo colhe os frutos da desorganização gerada nos países que foram alvo de lawfare e demonização da política. Por um lado, as instituições estão em frangalhos – invadidas por toda ordem de interesses, por outro, a política – como forma organizada de resolver conflitos, está lutando pela própria sobrevivência. Vale lembrar que os fantasmas do autoritarismo levantaram das tumbas.

A contragosto das mudanças nos valores de mercado que formatam a estrutura do capitalismo, entramos numa profunda luta de classes de caráter mundial, demonstrada também no mundo desenvolvido pelo movimento dos coletes amarelos na França. A despeito dos trabalhadores já não se perceberem enquanto tal, não foi possível segurar o conflito quando está claro que a situação dos trabalhadores vem piorando, sem expectativas de mudanças.

A burguesia costuma compreender antes e melhor o que de fato está acontecendo, afinal, tem tempo para pensar e é a mola propulsora das tentativas de degradação total da mão-de-obra. É possível que a burguesia anseie por um retorno à era dos centros, centro-esquerda e direita, mas a realidade não converge para essa solução, pelo contrário, a onda das polarizações não demonstra perda força.

A América Latina, possivelmente, indicará os novos rumos para o capitalismo neocolonialista que enfrenta sérias resistências.

É um novo tempo e os povos já expõem os traumas de séculos de exploração.

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