A aposta fracassada de Trump no Irã dá a Teerã novas vantagens em futuras negociações
O Irã agora percebeu que foi traído pela AIEA e não compartilhará mais informações sobre enriquecimento nem permitirá inspeções
Publicado originalmente por Sonar21 (página web de Larry Johnson) em 24 de junho de 2025
Trump pode continuar enfeitando o porco com o seu "ataque militar mais bem-sucedido da história", mas repetir essa frase não transforma este desastre em um sucesso. Se o objetivo militar era eliminar a capacidade do Irã de enriquecer urânio e produzir uma arma nuclear, a missão foi um fracasso absoluto. Não acredite em mim, basta ouvir a I24 News Network de Israel:
"A instalação nuclear iraniana de Fordow só pode ser destruída por dentro. Vamos parar com ilusões e fantasias. Só pode ser feito internamente ou com centenas de bombas lançadas em sequência."
O problema é este: Nós estabelecemos a meta de desmantelar o programa nuclear iraniano — mas falhamos. O Irã ainda possui urânio enriquecido e suas principais instalações continuam ativas.
E tem mais: a CNN reportou:
"Todas as 3 instalações nucleares do Irã atingidas pelos ataques dos EUA permanecem totalmente operacionais, segundo avaliação preliminar da inteligência estadunidense.
Urânio enriquecido NÃO foi destruído
Centrífugas intactas
Sítios secretos sequer foram atingidos"
E não vamos esquecer o New York Times:
"Um relatório preliminar classificado dos EUA afirma que o bombardeio estadunidense aos sítios nucleares do Irã selou as entradas de duas instalações, mas não destruiu as suas estruturas subterrâneas, segundo autoridades familiarizadas com os resultados.
As conclusões iniciais indicam que os ataques do final de semana atrasaram o programa nuclear iraniano em apenas alguns meses...
Os dados sugerem que a declaração do presidente Trump sobre a 'obliteração' das instalações nucleares foi exagerada, pelo menos com base na avaliação inicial de danos."
O relatório também revelou que grande parte do estoque de urânio enriquecido do Irã foi movido antes dos ataques, e que pouco do material nuclear foi destruído. Parte dele pode ter sido levado para sítios secretos.
A Casa Branca, ecoando o chilique de Donald Trump, reagiu com indignação à mídia por fazer seu trabalho de "falar a verdade ao poder":
"O vazamento desta suposta avaliação é uma tentativa clara de denegrir o presidente Trump e desacreditar os valentes pilotos que executaram uma missão perfeita para obliterar o programa nuclear iraniano", disse a porta-voz. "Todos sabem o que acontece quando 14 bombas de 30 mil libras são lançadas perfeitamente sobre seus alvos: OBLITERAÇÃO TOTAL."
A jovem Sra. Leavitt está apenas cumprindo o seu papel... enfeitando o porco em nome de Donald Trump. A verdade é esta: o Irã removeu o urânio enriquecido de Fordow dois dias antes do ataque dos EUA. Veja a fila de caminhões fora da entrada subterrânea de Fordow na foto abaixo:

Agora, deixe-me explicar como Trump metafóricamente atirou no próprio pé e fortaleceu o Irã. O fator-chave é a cooperação do Irã com a AIEA — então, vamos revisar a história:
- Fiscalização Inicial da AIEA (2003)
Em fevereiro de 2003, o Irã reconheceu oficialmente as suas instalações nucleares e permitiu o acesso de inspetores da AIEA ao sítio de enriquecimento de Natanz, após revelações de atividades não declaradas.
Em junho de 2003, sob a Declaração de Teerã com a UE-3, o Irã prometeu cooperação total com a AIEA e concordou em assinar o Protocolo Adicional, permitindo inspeções sem aviso prévio.
- Acesso Ampliado e Período do JCPOA (2007–2015)
A partir de 2007, a AIEA conduziu várias inspeções anuais em instalações-chave (incluindo Natanz, Fordow e Arak) e trabalhou em estruturas para abordar preocupações sobre proliferação.
Após o JCPOA de 2015, o Irã implementou o Protocolo Adicional e permitiu acesso diário a plantas de enriquecimento. O monitoramento da AIEA confirmou a conformidade iraniana.
- Restrições e Retrocessos (Pós-2018)
Após a saída dos EUA do JCPOA em 2018, o Irã reduziu gradualmente o acesso da AIEA, culminando na remoção de câmeras de vigilância e no declínio da cooperação em meados de 2022.
Mesmo após Trump abandonar o JCPOA, a AIEA ainda tinha acesso às instalações nucleares iranianas. Mas após os ataques israelenses em 13 de junho, o Irã encerrou essa cooperação. O parlamento iraniano votou pelo fim permanente de qualquer colaboração com a AIEA.
Antes de 13 de junho, a AIEA e os EUA sabiam, com alta confiança, a localização do urânio enriquecido iraniano. Agora, ele foi removido, e os EUA, Israel e o Ocidente estão cegos — não sabem onde o Irã o armazenou.
Minha análise:
Acredito que a CIA tinha uma fonte humana dentro da AIEA, fornecendo dados sobre cientistas nucleares iranianos, atividades nas usinas e detalhes arquitetônicos dos sítios.
O Irã agora percebeu que foi traído pela AIEA e não compartilhará mais informações sobre enriquecimento nem permitirá inspeções.
Isso enfraquece drasticamente a posição de Trump em negociações futuras — ele perdeu alavancagem no tema mais crítico.
Consequências:
O Irã pode agora buscar ajuda da Rússia para reformar as suas capacidades de contra-inteligência e reconstruir instalações nucleares.
Também pode pedir a China e Rússia para modernizar seus sistemas de defesa aérea.
O país está motivado a se preparar para um próximo conflito com Israel e EUA.
Discussão com Marcello (colega brasileiro na Itália):
Assista ao vídeo (39+ min, em inglês): https://youtu.be/Ua3AfzzbUlw
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.



