A arte de dar tiro no pé: protecionismo extremista arruina o comércio mundial
Barreiras de Trump geram inflação, desemprego e recessão, impactando trabalhadores e nações em crise comercial
Donald Trump sempre foi um presidente que preferia dinamitar pontes a construí-las, e seu retorno à Casa Branca em 2025 apenas intensificou essa tendência. O que muitos temiam se confirmou: o protecionismo radical, longe de ser apenas retórica de campanha, tornou-se uma política econômica que está empobrecendo o mundo – e, ironicamente, os próprios Estados Unidos.
As medidas que prometiam fortalecer a economia americana estão, na verdade, sabotando-a, desde o trabalhador do Centro-Oeste. A expressão “dar um tiro no pé” nunca foi tão precisa, encapsulando uma situação em que a tentativa de resolver um problema acaba criando um ainda maior. Este artigo, baseado em dados econômicos mensuráveis e declarações verificáveis, expõe os impactos devastadores dessas políticas e suas ramificações globais.
O “xis” do problema reside na crença de Trump de que taxar importações fortalece a indústria nacional. Ele insiste em chamar suas tarifas de “negociações brilhantes”, como se repetir um erro histórico pudesse, por milagre, produzir resultados diferentes. O Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou o crescimento global de 3,3% para 2,8% em 2025, refletindo o impacto das barreiras comerciais. Nos EUA, a inflação saltou para 3,5%, acima da meta do Federal Reserve, segundo o Bureau of Labor Statistics (BLS). Consumidores americanos agora pagam 6,7% mais por eletrônicos, enquanto 73% das pequenas empresas relatam aumento de custos, conforme a pesquisa da National Federation of Independent Business (NFIB). Essas tarifas estão sufocando o poder de compra e a competitividade.
O Federal Reserve, guardião da estabilidade econômica, enfrenta um dilema kafkiano. Pressionado por Trump a baixar os juros – ele declarou em 17 de abril de 2025 que “Jerome Powell precisa ser demitido urgentemente” –, o Fed mantém as taxas entre 4,25% e 4,5% para conter a inflação importada, impulsionada pelas políticas do governo. As ações de Trump criam os problemas. O déficit comercial americano, que as tarifas supostamente reduziriam, aumentou 12%, e o setor manufatureiro perdeu 78.000 empregos, minando a narrativa de revitalização industrial. O crescimento econômico dos EUA, projetado em 2,7%, foi revisado para apenas 1,8% em 2025.
As consequências do protecionismo trumpista transcendem as fronteiras americanas, gerando um efeito cascata que abala economias desenvolvidas e emergentes. O Canadá, cujo comércio depende 75% dos EUA, viu seu PIB revisado para apenas 1,2% em 2025. O setor automotivo canadense perdeu 12.000 empregos, e tarifas sobre madeira e alumínio custaram CAD$ 3,2 bilhões, segundo dados oficiais.
Na Europa, o impacto é igualmente severo. A Alemanha está projetada para entrar em recessão técnica no segundo trimestre de 2025, segundo estimativas, enquanto a França registrou um aumento de 18% no déficit comercial. As perdas na União Europeia são estimadas em €120 bilhões até 2026. “É uma guerra comercial onde todos perdem”, teria afirmado Bruno Le Maire, ministro francês, segundo projeções, em uma declaração que resume o sentimento global.
Os mercados emergentes não escapam ilesos. O Brasil, que pouco tem a ver com essa disputa, sofreu com tarifas de 10% sobre aço e suco de laranja, o que levou a uma revisão do crescimento de 2,2% para 2%. Os custos logísticos no país aumentaram 15%, impactando toda a cadeia produtiva.
A China, por sua vez, respondeu com retaliações de 125% sobre produtos agrícolas americanos, enquanto seu crescimento foi revisado para 4%, refletindo a desaceleração no comércio global. É o velho ditado africano em ação: “Quando os elefantes brigam, a grama é que sofre”.
Países do Sul Global, como o Brasil, tornam-se vítimas colaterais de uma guerra comercial que não escolheram.
O que torna esse episódio particularmente trágico é sua natureza premeditada. A história econômica está repleta de exemplos de como o protecionismo gera mais problemas do que soluções. Nos anos 1930, a Lei Smoot-Hawley, que impôs tarifas draconianas, aprofundou a Grande Depressão. Nos anos 1980, medidas para proteger indústrias locais nos EUA apenas as tornaram menos competitivas no longo prazo.
Como observou o economista Paul Krugman, “Trump está cometendo todos os erros do século 19 no século 21”. Apesar disso, ele persiste, ignorando evidências e repetindo estratégias que já falharam.
Essa crise revela uma lição mais profunda: somos livres para tomar decisões, mas não para escolher suas consequências.
Trump pode impor tarifas, assim como cidadãos escolhem seus hábitos de consumo ou representantes políticos. Inevitáveis, implacáveis e previsíveis, elas mostram que o protecionismo trumpista é um caso clássico de miopia política. O que parece uma vitória fácil no curto prazo – aplausos de uma base eleitoral, manchetes agressivas – revela-se um desastre estratégico no médio e longo prazos.
O fato que se impõe rapidamente é que parceiros comerciais buscam alternativas, e a posição geopolítica dos EUA como líder do sistema multilateral se erosiona dia após dia.
O mundo do século 21 é radicalmente diferente daquele em que as ideias protecionistas de Trump foram concebidas. Cadeias produtivas globais, fluxos financeiros integrados e desafios transnacionais – como a crise climática e as lições da pandemia – exigem cooperação, não confronto.
Isso porque a interdependência econômica é uma realidade inegável: nenhuma economia é uma ilha. As tarifas não apenas falham em trazer os benefícios prometidos, mas também impõem custos diretos a consumidores e empresas.
Nos EUA, o aumento de preços e a perda de empregos, enquanto globalmente a confiança no comércio multilateral diminui.
Evitei mergulhar na guerra partidária ideológica, seja nos EUA, seja no mundo. Meu objetivo é refletir sobre como decisões políticas e governamentais impactam diretamente a vida dos povos. Resta saber quanto custará – para os americanos e para o mundo – essa teimosia em ignorar as regras básicas da economia global.
Os dados são claros: o protecionismo de 2025 está desmontando a economia global, e os números não mentem. O FMI, o Banco Mundial, o BLS e os departamentos de comércio dos EUA e da União Europeia confirmam os impactos negativos.
Como cidadão e como consumidor este colunista se sente vítima. Assim como grande parte dos leitores, imagino eu. E quando a poeira baixar, não haverá vencedores nessa guerra comercial – apenas vítimas. E o pé sangrando de quem, por escolha própria, atirou contra si mesmo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

