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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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A batalha das ideias

É mais um fenômeno no processo de introdução da violência na sociedade e na política equatoriana, processo vinculado ao narcotráfico

Fernando Villavicencio (Foto: Reuters/Karen Toro)

E quando a esquerda finalmente chegou ao poder, havia perdido a batalha das ideias. (Perry Anderson)”

"Toda vitória política é precedida por uma vitória no campo das ideias." (Alvaro Garcia Linera)

Essas citações, que coloco na abertura do meu livro “Lula e a esquerda do século 21”, são essenciais para entender os processos políticos e definir as estratégias políticas da esquerda.

São citações que reiteram a prioridade da luta de ideias e que são essenciais para entender como os fenômenos atuais são possíveis, especialmente nos dois processos eleitorais deste ano: no Equador e na Argentina.

Na primeira, o que foi traçado como favoritismo da candidata do partido de Rafael Correa, Luisa González, de repente sofreu o choque do assassinato de um dos candidatos, Fernando Villavicencio. Segundo as pesquisas, ela faltaria 2 pontos para vencer no primeiro turno. Sabe-se que ela perdeu 9 pontos sob o impacto imediato dos eventos.

Villavicencio foi um jornalista que se notabilizou, principalmente por suas críticas a Rafael Correa, tendo contribuído para os níveis de rejeição que o ex-presidente do Equador tem.

Villavicencio não teve um desempenho de destaque na campanha - ficando em sexto lugar nas pesquisas - até seu assassinato por milícias ligadas ao narcotráfico. É mais um fenômeno no processo de introdução da violência na sociedade e na política equatoriana, processo vinculado ao narcotráfico, que construiu um corredor que vai desde a produção de drogas na América do Sul até seu consumo nos Estados Unidos, o maior consumidor de todos os tipos de drogas no mundo.

Resta saber como tudo isso se refletirá nas eleições equatorianas, que acontecem esta semana. A direita procurando seu candidato, a esquerda, procurando manter seu candidato. Vamos ver como a opinião pública vai reagir a todos os acontecimentos e decidir quem vai para o segundo turno.

A importância que a opinião pública atribui à questão da segurança pública, da manutenção da ordem, certamente aumenta. Uma questão para a qual a esquerda não tem alternativa. Não existe política democrática de segurança pública, até porque tem que contar com a polícia, para quem ainda não existe política democrática.

Milei conseguiu, até agora, catalisar a raiva que o povo tem perante a opinião pública argentina, seja porque os governos não trouxeram soluções para os problemas do país, seja porque as pessoas vivem mal por causa disso. Vamos ver até que esse mecanismo funcione até as eleições.

Um presidente como Lula é a defesa que o Brasil tem contra esses riscos. O discurso de Lula sobre a democracia e a melhoria das condições de vida da população, que encontra correspondência na melhoria da economia, do emprego e do clima político.

O mais complicado é analisar a liderança da extrema direita a partir dessa perspectiva. Até que ponto o resultado do último domingo na Argentina expressa o sentimento, as expectativas, as esperanças do povo. Como em outros países, onde esse tipo de liderança emerge ou a liderança da esquerda é enfraquecida.

Em todo o caso, o eixo de toda a luta é o da luta das ideias, o da luta das ideias, dos valores, a luta ao nível da cultura.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.