À beira da loucura, Macron diz que o mundo vive uma "nova era de guerra”
"Diante deste mundo de perigo, permanecer um espectador seria uma loucura", diz o presidente francês, a ponto de cometer ele próprio um ato tresloucado
Por José Reinaldo Carvalho - O presidente francês Emmanuel Macron, num discurso à nação nesta quarta-feira (5), hostilizou a Rússia, acrescentou dificuldades para um cessar-fogo e um acordo de paz duradouro na Ucrânia, ameaçou com a ulterior militarização da Europa e ofereceu suas armas nucleares para proteger todo o continente. Ele alarmou o país e o mundo advertindo que chegou uma "nova era de guerra". "A situação está se tornando mais difícil, mas não passará sem contestação da nossa parte (…) "Diante deste mundo de perigo, permanecer um espectador seria uma loucura", diz o presidente francês, a ponto de cometer ele próprio um ato tresloucado.
Macron destacou a necessidade de a Europa se preparar para um cenário em que os Estados Unidos reduzam seu apoio militar, ressaltando a importância de discutir uma estratégia comum para fortalecer a autonomia militar europeia e anunciou que se reunirá com os chefes dos exércitos dos países europeus em Paris na próxima semana.
O pronunciamento de Emmanuel Macron é mais uma clara demonstração de sua deriva imperialista, intervencionista e provocadora. Ao prometer "investimentos adicionais" na defesa francesa, ressalvando que fará isto sem aumentar impostos, Macron demonstra que está disposto a fazer cortes orçamentários em outras áreas para impulsionar uma agenda belicista. "Teremos que fazer novas escolhas orçamentárias e investimentos adicionais que agora se tornaram indispensáveis", disse. Seu discurso reforça uma postura militarista que, longe de garantir segurança, amplia a instabilidade no continente europeu e mantém um ambiente de insegurança global.
O aspecto mais alarmante de sua declaração reside na proposta de "abrir o debate estratégico" sobre o uso das armas nucleares francesas para proteger a Europa. A dissuasão nuclear, um tema de extrema gravidade, não pode ser tratado da forma leviana como fez Macron. Ao sugerir que a França poderia estender sua proteção nuclear aos aliados europeus, está, na verdade, intensificando a retórica de confronto com a Rússia e empurrando a Europa para uma lógica de guerra permanente.
Nessa retórica tresloucada, o presidente francês mais uma vez deixou clara sua visão de que a paz na Europa só é possível com uma Rússia enfraquecida. A hipócrita justificativa para as medidas anunciadas é a suposta "ameaça russa". De acordo com ele, “a agressão russa” não se limita à Ucrânia e representa uma ameaça direta à França e à Europa. “A agressão russa não conhece fronteiras", pontificou. Essa retórica alarmista omite deliberadamente as reais causas do conflito na Ucrânia. E distorce os objetivos russos, que nada têm a ver com expansão para o Ocidente. Não há uma iniciativa sequer nessa direção. Desde o golpe de Estado em Kiev, em 2014, patrocinado pelo Ocidente, até a expansão incessante da Otan para o Leste, a guerra na Ucrânia tem sido o resultado direto da política agressiva dos Estados Unidos e seus aliados europeus. A Ucrânia foi convertida em um peão dessa estratégia, sacrificada em uma guerra que poderia ter sido evitada com diplomacia e realismo político. Nestas três décadas e meia desde a dissolução da União Soviética e do campo socialista do Leste europeu, e especialmente durante a década transcorrida desde o golpe imperialista em Kiev, a Rússia não tomou qualquer iniciativa contra um país da União Europeia. Ao contrário, as relações de Moscou com Bruxelas e todos os seus afiliados sempre foram cooperativas.
Ao sugerir que "a paz na Ucrânia passará pelo desdobramento de forças europeias", Macron indica sua intenção de consolidar uma presença militar no território ucraniano, após um eventual acordo de paz. Isso revela seu desejo de transformar a Europa em um bloco militarizado, com maior influência sobre as decisões da Otan, e em oposição cerrada à Rússia, ressuscitando a lógica da guerra fria.
A posição correta para a Europa não é alimentar a guerra, mas sim incentivar a Ucrânia a buscar negociações pragmáticas com a Rússia. O conflito não será resolvido com mais armas ou com tropas europeias em solo ucraniano, mas sim com diplomacia e respeito às demandas de segurança da Rússia.
Macron almeja um papel de líder europeu, mas carece de condições para exercê-lo. Sua tentativa de se projetar como o estrategista do continente esbarra na realidade de uma União Europeia dividida, economicamente fragilizada e dependente dos interesses dos Estados Unidos. Se a Europa deseja um futuro de estabilidade, precisa romper com essa agenda belicista e buscar o caminho da paz e da cooperação internacional, consoante as aspirações dos povos e nações que a constituem.
Melhor seria para a França, a Europa e o mundo levar em conta as reiteradas mensagens do presidente russo, Vladimir Putin. Ele declarou solenemente que a Rússia nunca começa uma guerra, mas sempre refreia e derrota as guerras iniciadas por inimigos imperialistas cujo objetivo é destruí-la.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




