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Paulo Moreira Leite

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À beira do abismo, Fux quer contornar a lei e bloquear Lula

"Enquanto um dos formuladores da Lei Ficha Limpa se dispôs a fazer um parecer favorável aos direitos de Lula (...), Luiz Fux pretende aprovar, às pressas, o bloqueio à candidatura do mais popular concorrente na complicadíssima sucessão de Temer", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247; lembrando que o veto à Lula "é um raro ponto de acordo da elite dirigente brasileira" PML avalia que a pressa contra o ex-presidente mostra o temor de sua consagração nas urnas

"Enquanto um dos formuladores da Lei Ficha Limpa se dispôs a fazer um parecer favorável aos direitos de Lula (...), Luiz Fux pretende aprovar, às pressas, o bloqueio à candidatura do mais popular concorrente na complicadíssima sucessão de Temer", escreve Paulo Moreira Leite, articulista do 247; lembrando que o veto à Lula "é um raro ponto de acordo da elite dirigente brasileira" PML avalia que a pressa contra o ex-presidente mostra o temor de sua consagração nas urnas (Foto: Paulo Moreira Leite)
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O esforço de Luiz Fux, presidente do TSE, para impedir sumariamente o pedido de registro da candidatura presidencial de Lula não se explica por uma compreensível preocupação com o princípio da celeridade da Justiça.

A questão é outra. Num momento de crescente de incertezas e mal estar diante da Lava Jato, tanto nos meios jurídicos como na aprovação popular, a prioridade é impedir qualquer distúrbio no esforço para retirar Lula da campanha presidencial, prioridade máxima da classe dominante brasileira na complicadíssima sucessão de Temer.  

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Num sintoma da situação, recentemente um dos principais formuladores da Ficha Limpa fez chegar a defesa de Lula a disposição de preparar um parecer favorável ao ingresso do ex-presidente na campanha presidencial. Pela estatura do personagem, a sugestão teria um efeito-bomba nos meios jurídicos e seu parecer não poderia ser ignorado nem mesmo por uma mídia comprometida até a medula com a necessidade de tentar legitimar a exclusão de Lula. 

O cálculo é elementar. O veto antecipado tenta evitar qualquer ruído no esforço de afastar o ex-presidente -- líder em todas as pesquisas e todas as simulações, de todos os institutos --  que poderia comprometer toda tentativa de dar credibilidade a uma condenação que é contrariada pelas provas documentais. 

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Num período de baixa do prestígio do Judiciário aos olhos da população, quanto maior for a truculência, mais evidente será o teor político do julgamento. 

A brecha a favor de Lula encontra-se no artigo 26-C. Ali se deixa claro que, ao contrário da visão convencional meticulosamente construída pela mídia do pensamento único, a eliminação de um candidato com dupla condenação não é automática. Pode passar pelo exame de novo recurso, em tribunal superior, abrindo a possibilidade para que a exclusão possa ser  reavaliada. A leitura do artigo 26-C informa que  "o tribunal ao qual couber a apreciação do recurso contra as decisões colegiadas poderá, em caráter cautelar, suspender a inelegibilidade sempre que existir plausibilidade da pretensão recursal."

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Em português claro: o recurso não só deve ser examinado mas, caso se considere que há "plausibilidade" na argumentação da defesa, sua inelegibilidade pode ser suspensa até um exame definitivo da condenação. Não é uma declaração de intenções nem uma especulação -- está ali, na legislação aprovada pelo Congresso. 

É justamente contra esse ponto que Fux faz objeções, sugerindo que o plenário do TSE deveria se reunir para tomar uma medida preventiva.

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Em vez se aplicar a legislação em vigor, como prevê a Constituição, a ideia não muito oculta consiste em autorizar o TSE a reinterpretar a lei existente conforme a visão dos atuais integrantes do plenário. Embora já tenha antecipado seu julgamento quando definiu Lula como "irregistrável",  o esforço de Fux esbarra garantia prevista numa lei aprovada em decisão unanime do Congresso -- o único voto contrário foi de José Genoíno --, avalizada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para modificar essa regra, seria preciso convocar os próprios parlamentares para que eles emendassem a lei -- hipótese fora de cogitação quando se recorda que o prazo para inscrição de candidaturas se abre em agosto.   

Pela legislação em vigor, dois tribunais podem debater a tese de que a defesa de Lula tem "plausibilidade" a ponto de impedir que a candidatura seja rejeitada de modo liminar.

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Cabe reconhecer que em nenhum deles o ex-presidente conseguiu, até agora,  reunir uma maioria de votos a seu favor em decisões recentes. No Superior Tribunal de Justiça, Lula foi derrotado por 5 a 0 quando tentou o habeas corpus contra a antecipação do cumprimento da pena. O outro tribunal é o Supremo, no qual o mesmo pedido foi negado, por uma diferença de 3 a 2. Neste caso, nunca é demais recordar,  o voto de desempate foi proferido pela presidente Carmen Lúcia, numa intervenção contestada pela defesa com base nas garantias previstas na presunção da inocência a partir do princípio em dúvida, pró réu.

Essas duas derrotas recentes permitem imaginar que, mesmo cumprindo, formalmente, o ritual previsto na Ficha Limpa, é grande a possibilidade de que se impeça Lula de abrir seu caminho para participar da eleição.

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O fator é extrajudicial, claro. É bom ter em mente, neste início de junho de 2018, de que o veto à candidatura do ex-presidente tornou-se  um desses raros pontos de acordo político da elite dirigente do país depois da deposição de Dilma Rousseff. Constitui uma unanimidade tanto na Faria Lima como no Jardim Botânico, inegociável como o fim da CLT e o projeto de derrubar a Previdência Social na primeira  oportunidade.

Essa condição -- prioridade política máxima da coalização adversária -- dificulta todo esforço para que o bloqueio a Lula seja revertido, ainda que existam bases jurídicas para isso -- a começar pelo caráter precário da denúncia do triplex do Guarujá,  desmentida até por provas documentais. 

Mas resta, de qualquer modo, o problema de saber o que ocorre até uma decisão final.

Vivemos um país onde a única candidatura presidencial firmada é a do próprio Lula, enquanto eventuais adversários entram e saem do palanque sem dizer o que foram fazer ali. Nesta situação, quando a proximidade de um abismo profundo é reconhecida por um número cada vez maior de analistas, ninguém sabe como a maioria dos brasileiros e brasileiras poderá reagir diante da possibilidade de salvar a candidatura de Lula e, através dela, o destino do próprio país.  

 

 

 

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