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Nêggo Tom

Cantor e compositor.

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A beleza e o crime

É de sentir vergonha da mídia e da justiça desse país. Há dias tivemos um caso onde uma prestadora de serviço foi indiciada por ter pegado e comido um bombom que estava sobre a mesa de um delegado de Polícia Federal

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Cansamos de ouvir por aí que “Bandido bom é bandido morto!”. Nossa sociedade está repleta de “Justiceiros” de final de semana, que estufam o peito, arrotam moral e saem por aí como defensores da ordem, amarrando ao poste o primeiro delinquente que lhes atravessar o caminho. Mas como toda regra possui alguma exceção, podemos dizer que se o estereótipo do criminoso se enquadrar no padrão de aceitação social vigente desde o Brasil colônia, ele terá mais chances de ser perdoado. Diria até que será visto com bons olhos.

Semana passada o SBT exibiu no Conexão Repórter,  uma entrevista na qual o apresentador Roberto Cabrini batia um papo bem amistoso com a estelionatária Bruna Cristine Menezes de Castro. Também conhecida pela alcunha até certo ponto carinhosa de Barbie Golpista. Uma alusão à boneca, sinônimo de beleza e sonho de consumo de muitas meninas na infância. Durante a entrevista, eu, do outro lado da telinha, tive a sensação de estar diante de uma celebridade nacional. A nova musa do Funk Ostentação ou do Sertanejo Universitário, talvez.  Ou quem sabe ainda a nova contratada da emissora sendo apresentada em rede nacional.

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A verdade é que a entrevistada nada mais era do que uma pistoleira de alta relevância no cenário já tão corrupto e desmoralizado do nosso país. Uma mulher capaz de aplicar golpes dos mais variados, dentre eles, a invenção de um suposto câncer no útero, que lhe renderia 15 mil reais, oriundos do bolso do próprio namorado e que serviria para custear as despesas com o tratamento da suposta doença. A cada pergunta feita pelo jornalista, que parecia estar hipnotizado pela tal beleza da criminosa, o olhar dissimulado e indolente da moçoila revelava a sua frieza e indiferença diante dos crimes praticados. Uma voz sensual dava o tom das respostas. Era nítido que o arrependimento estava presente em cada uma delas. O arrependimento de não poder fazer mais vítimas aplicando os seus golpes de patricinha vigarista.

O cenário era constrangedor. Pelo menos para mim. Que assistia a uma bandida estelionatária e sem escrúpulos, sendo “sabatinada” como se a mesma fosse a nova ministra da cultura do país. O apresentador chegou ao ponto de testar a fluência dos outros idiomas falados pela modelo, lhe fazendo perguntas em Inglês e Italiano. E tudo isso pontuado com leves retoques na maquiagem da dondoca. A produção e a edição do programa pareciam estar promovendo a nova capa da Playboy. Closes nas pernas torneadas da gostosa. Luz especial no rosto carismático da donzela. Tomadas de corpo inteiro mostrando a silhueta perfeita da pistoleirice tupiniquim. Coisa de cinema. A cada vírgula no discurso da Barbie golpista, uma gota de baba caia da boca do apresentador. Mais babão do que ele só o Juiz que julgou o processo e sentenciou que a moça deveria ser solta por que não representa risco algum a sociedade.

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Fiquei a pensar. Se ela fosse desprovida de tal beleza, pobre, favelada, negra e sem instrução, será que teria direito a uma entrevista desse tipo? Será que Excelentíssimo Senhor Juiz que a soltou a julgaria da mesma forma? Será que estaria sendo vista como uma patricinha ingênua que durante uma fase de incertezas e frustrações, apenas deu vazão ao seu instinto mais perverso? É de sentir vergonha da mídia e da justiça desse país. Há dias tivemos um caso onde uma prestadora de serviço foi indiciada por ter pegado e comido um bombom que estava sobre a mesa de um delegado de Polícia Federal. O homem da lei foi rigoroso com a humilde faxineira, que teve de prestar depoimento durante uma hora e ainda ir até a lata do lixo e recolher a embalagem do bombom degustado para que a mesma fosse colhida como prova do crime.

Nem vou citar os inúmeros casos de corrupção e desvio de dinheiro público que deixam muitos de nossos políticos com o “Cunha” na mão, mas não os levam para atrás das grades. A sociedade já assimilou bem o que parte da mídia ensina. Ladrão aqui tem cara, cor e condição social. Bandido bom não é bandido morto. Bandido bom é bandido branco e bonito. Esses ainda tem recuperação. Alguém ainda duvida que se tivéssemos pena de morte no país o estereótipo dos condenados seria apenas um?

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Parafraseando o poeta: Que me desculpem os bandidos e bandidas de má aparência, mas beleza é fundamental.

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