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Alexandre Aragão de Albuquerque

Escritor e Mestre em Ciência Política pela Universidade Estadual do Ceará (UECE).

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A besta continua solta

Lula e Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução/YouTube)
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“Senhor Lula,  
o senhor esteve recentemente no Complexo do Salgueiro.  
Só tinha traficante ao seu lado”.
Jair Messias Bolsonaro, 16/10/2022.

A cientista política Hannah Arendt em sua obra “Origens do totalitarismo” (1951), afirma que o súdito ideal de um governo totalitário não é o nazista nem o fascista convicto, mas aquele para quem já não existe diferença entre a verdade factual e a ficção (ou seja, a ausência da capacidade de verificação e aferição da realidade da experiência), entre o verdadeiro e o falso (a ausência de definição dos critérios do pensamento para distinguir o bem do mal, o certo do errado, a honestidade do embuste, a justeza da embromação), perdendo a noção da realidade compartilhada e a habilidade de se comunicar com os diversos segmentos sociais.
A massa de manobra humana – gado digital – incapaz de discernimento ético e factual, defensora apenas dos interesses intrínsecos dos seus negócios, cega aos reclamos de milhões de semelhantes ao seu entorno massacrados pela estrutura de poder, possibilita a manutenção e o crescimento da onda totalitária. Um dos exemplos ocorridos no Brasil recente, que pode materializar muito bem o pensamento arendtiano em questão, encontra-se na sentença prolatada por um religioso franciscano alemão, em sua homilia numa celebração eucarística – uma missa – transmitida para todo o Brasil pela internet, na qual afirma: “Para o nosso trabalho, o melhor é a direita”.

O descaso pela verdade dos fatos, a substituição da razão pela fé movida pelo emocionalismo doutrinal, juntamente com a corrosão da linguagem, estão diminuindo o valor da verdade. Tal estrutura de descaso para com a verdade torna impossível o diálogo com mentirosos contumazes, porque para tais indivíduos e grupos a verdade não tem valor. O que vale para eles é a manipulação da realidade em proveito próprio, num eterno movimento de produção de ilusões, transformando a nação numa presa fácil para suas ambições totalitárias. Destes mitômanos espera-se qualquer tipo de construção discursiva mentirosa: que o cavalo possui chifre e não o boi; que quem toma vacina vira jacaré; que o torturador Brilhante Ustra foi um democrata; que Damares conversou com Jesus numa goiabeira; que cloroquina cura a Covid-19; que Fernando Haddad produziu mamadeiras de piroca ou que o Presidente Lula é contra a liberdade religiosa. 

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As mentiras organizadas por estes grupos de direita no Brasil – civil e militar – forjaram, a partir de 2014, ícones midiáticos como Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, peças fundamentais na elaboração de uma narrativa golpista jurídica montada para condenar o Presidente Lula em 2018, retirando-o da eleição presidencial daquele ano, visando à eleição de Bolsonaro, num descarado processo de lawfare (uso da justiça para fins políticos), desmascarado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) quando inocentou o Presidente Lula de todos os processos ilegais e imorais que foram construídos pela  república de Curitiba contra ele. Mas além da “justiça falsa”, essa estrutura totalitária concentra-se na produção de uma “ciência falsa” (como o negacionismo climático ou como no movimento anti-vacina), de uma “história falsa” (promovendo um revisionismo do Holocausto ou do escravismo brasileiro), de “perfis falsos” na rede mundial de comunicação digital (promovendo “likes” falsos gerados por robôs (bots) para alavancar tais perfis e gerar engajamento social por meio de fake news).

O fundamentalismo político brasileiro – bolsofascismo – recorre ao discurso do ódio e do medo, em vez de estabelecer o debate sensato voltado para o bem comum e o esclarecimento dos cidadãos com o fortalecimento de sua capacidade reflexiva e sua ação social, corroendo as instituições democráticas, apostando na ação violenta e emocional do gado digital por ele teleguiado, ameaçando o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional, os Meios de Comunicação, denegrindo organismos religiosos como a CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, Sindicatos de Trabalhadores, Partidos Políticos, o Processo Eleitoral.

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Em 24 de janeiro de 2018, Papa Francisco, em sua Mensagem para o 52º Dia Mundial das Comunicações, alertava para o perigo da desinformação construída. Segundo o Pontífice, a comunicação humana é uma modalidade essencial para viver a comunhão. O ser humano é capaz de expressar e compartilhar o verdadeiro, o bom e o belo, construindo assim a memória e a compreensão dos acontecimentos. Mas se focar apenas em seus negócios pessoais, o ser humano pode usar de modo distorcido a faculdade de comunicar, alterando a verdade, tanto no plano individual como no coletivo, tendendo a enganar e a manipular os destinatários das mensagens, visando objetivos prefixados no campo político e econômico. Nenhuma desinformação é inofensiva. Por atuar na rede digital, as fake news tornam-se virais, ou seja, propagam-se com grande rapidez e de forma dificilmente controlável. O drama da desinformação é a demonização do outro, podendo fomentar conflitos irreparáveis. Na visão cristã, a verdade não é apenas uma realidade conceitual, que diz respeito ao juízo sobre as coisas, definindo-as verdadeiras ou falsas. A verdade tem a ver com a vida inteira, aquilo sobre o qual podemos nos apoiar para não cair. Somente a verdade é capaz de nos libertar.
O escritor russo Fiodor Dostoievski deixou registrado algo de notável nesse sentido: “Quem mente a si mesmo e escuta as próprias mentiras, chega a pontos de já não poder distinguir a verdade dentro de si mesmo nem ao seu redor, e assim começa a deixar de ter estima de si mesmo e dos outros. Depois, dado que já não tem estima de ninguém, cessa também de amar, e então na falta de amor, para se sentir ocupado e distrair, abandona-se às paixões e aos prazeres triviais e, por culpa dos seus vícios, torna-se como uma besta; e tudo isso deriva do mentir contínuo aos outros e a si mesmo” (Os irmãos Karamazov, II, 2).
No debate entre os presidenciáveis, realizado no último dia 16 pela BAND, Bolsonaro, num trecho, afirmou que Lula esteve “no Complexo do Salgueiro (sic!), onde só tinha traficantes ao lado de Lula”. Em sua resposta Lula declarou categoricamente “que foi numa comunidade do Complexo do Alemão, um povo extraordinário, trabalhador, com os quais fizeram uma passeata extraordinária, exuberante, e ali tinham mulheres e homens que trabalham, que levantam às cinco horas da manhã para trabalhar. Os bandidos o senhor [Bolsonaro] sabe onde estão: tinha um vizinho seu que tinha 100 armas dentro de casa. E esse não era do Complexo do Alemão”. (O referido vizinho de Bolsonaro – Ronnie Lessa – foi acusado pelo assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes).

Em sua arrogância autoritária, Bolsonaro sinalizou abertamente neste trecho do debate que, para ele, moradores das favelas do Brasil são todos traficantes. Para Bolsonaro, quem mora em favela é bandido. Aqui reside a importância de debates ao vivo, porque permite a nós observadores captarmos a substância escondida no subterrâneo das aparências. A besta do bolsofascismo precisa ser domada imediatamente, impedida de continuar a produzir o mal contra o povo brasileiro. Nesta eleição é urgente eleger Lula presidente, retirar definitivamente Bolsonaro do poder.

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