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      Nêggo Tom

      Cantor e compositor.

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      A bíblia e o Boticário

      Talvez o comercial passasse batido e não tivesse toda essa repercussão se não fosse a interferência malafônica do tal pastor, que adora uma mídia e um holofote

      Talvez o comercial passasse batido e não tivesse toda essa repercussão se não fosse a interferência malafônica do tal pastor, que adora uma mídia e um holofote (Foto: Nêggo Tom)

      Nem o maior gênio da publicidade teria tido uma sacada tão vendável. O novo garoto propaganda de O Boticário é um pastor evangélico. De vendas ele entende muito bem. Afinal, ele também estrelou a propaganda onde um exemplar da bíblia era vendido por R$ 911,00. E segundo a língua dos "anjos" foi um sucesso. Tá certo que não era uma bíblia qualquer. As páginas eram feitas de papiro legítimo colhido às margens do Nilo, as gravuras foram feitas por Michelângelo e arte da capa foi desenhada por Picasso. Com toda razão era vendida como a bíblia da prosperidade. A julgar pela última aquisição material do seu garoto propaganda. Um modesto avião particular, que segundo uma matéria que circula pela internet,custou a bagatela de 12 milhões de dólares. E depois é o comercial do perfume que não cheira bem.

      Eu gostaria de entender essa preocupação quase insana que algumas pessoas têm com a vida sexual dos outros. Não estou defendendo esse ou aquele comportamento ou essa ou aquela orientação sexual, apenas acho que cada um deve cuidar da sua intimidade. A bíblia realmente não aprova o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo. Está escrito lá. Não tem como apagar ou distorcer. E quem segue a bíblia logicamente não deve aceitar isso como algo natural. Mas também não deve demonizar o ser humano que é sexualmente diferente dele. Assim também como quem segue a bíblia não deve enxergar com naturalidade a postura de um líder religioso que se coloca como o defensor da moral e dos bons costumes e vende um exemplar das sagradas escrituras por R$ 911,00 prometendo prosperidade material a quem comprar. Assim como Deus tem misericórdia e tolerância com os charlatões que usam o seu nome para beneficio próprio, também tem com todos nós, quando praticamos algo que não é do seu agrado. Ser tolerante e ter amor ao próximo não significa aprovar tudo o que o próximo pratica.

      Deus sonda em primeiro lugar os corações. Sendo assim, acredito que alguns homossexuais possuem mais chances de serem conduzidos ao paraíso do que alguns líderes religiosos usurpadores da fé alheia, que carregam em seus corações a ambição pura e desmedida. Voltando a fragrância da discórdia, o que motivou a participação especial do tal pastor na campanha publicitária da marca para o dia dos namorados, foi a inclusão de um casal gay. Dois homens, que se presenteiam e se abraçam. Não vou ser hipócrita em dizer que acho bonito ver dois homens andando de mãos dadas ou se beijando na boca (o comercial não mostra nada disso), só pra ficar bem na fita com os homossexuais, mas tenho a obrigação de respeitar as diferenças. Todos temos. Ainda que não concordemos com elas. E a cena também não me atinge em nada. E nem me faz ter vontade de abraçar o primeiro barbudo que encontrar na rua. O caráter de uma pessoa não se mede pela cor, pela grana, pelo sexo ou pela sua orientação sexual, mas podemos medir o caráter de alguém através do que ele pratica de nocivo ao próximo. Vender a salvação espiritual por exemplo.

      Talvez o comercial passasse batido e não tivesse toda essa repercussão se não fosse a interferência malafônica do tal pastor, que adora uma mídia e um holofote. Acho até que se um dia ele for esquecido pela mídia, ele vira gay só para voltar a ser notícia. Acho bacana defendermos os bons costumes, principalmente no mundo em que vivemos. Mas ter como defensores da ordem e da moral pessoas que não têm lá essa moral toda, não dá pra engolir. Fez-se um estardalhaço em cima de pouca coisa. Se fosse uma propaganda de uma nova fragrância de KY, eu daria até razão ao protesto. Mas não foi por aí, né? E com isso, tanto o boticário quanto o pastor devem faturar mais do que o esperado. Isto porque o público gay, só de pirraça, vai aderir ao uso da marca. Já imagino hashtags: #SomostodosBoticário circulando pela rede. Por outro, o pastor que já conclamou os seus fiéis seguidores a não usarem mais os produtos da marca, em represália ao par de valetes que aparece no filme, deve lançar a sua linha de cosméticos e produtos de beleza ungidos e abençoados. Sem KY, é claro. Ele só deverá ter um pouco mais de cuidado com a tabela de preços dos seus produtos. Porque se ele pretender lançar um creme anti rugas que promete a eterna juventude por R$ 911,00, o boticário pode vender mais bíblias do que ele, se lançar uma mais barata e que exala o perfume de Jesus.

      Pai, perdoa-os! Eles não sabem o perfume que exalam!

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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