A caçada a Lula

Era uma vez uma elite criminosa, colonizada e colonialista que habitava os trópicos do Sul da América, à beira do maior vizinho de todos os vizinhos, o Oceano Atlântico. Por mais de 500 anos essa elite roubou, espoliou, dizimou tribos inteiras de povos indígenas, escravizou por quase 4 séculos negros africanos trazidos de África. Mas o maior medo dessa elite sempre foi o povo. O povo chegou a se manifestar em várias revoltas dessa história, mas aliancismos e conciliações calaram as vozes populares.

A partir de 2003, essa elite herdeira das capitanias hereditárias teve que assistir um ex-torneiro mecânico se tornando presidente da República. Conta-se que eles gargalharam, zombaram e duvidaram que ele fosse chegar a algum lugar. Prometeram que o Brasil ia acabar, que as propriedades iam ser tomadas, que os milionários iam embora. Tudo não se deu como queriam.

Pela primeira vez na história, criou-se um equilíbrio muito grande, em que as elites conservaram seu poder, mas tiveram que assistir massas inteiras de desempregados conseguindo emprego, se tronando consumidores, matriculando os filhos na escola, viajando de avião, comprando primeiro carro, financiando a casa própria, colocando o filho na universidade. Milhões que habitavam a extrema pobreza dos rincões agora podiam respirar aliviados pelo menos em relação ao pão de cada dia. É de lá que eu venho e de lá que eu conto essa história. Embora contada como conto, ela nada tem de fictício.

É de lá ainda que eu conto que o Brasil de fato mudou. E o ex-torneiro mecânico, que havia sido condenado ao ostracismo, colocou no ostracismo as forças de poder anteriores que não tiveram competência sequer para organizar o capitalismo brasileiro. Esse ex-torneiro não só organizou, como expandiu como nunca a balança comercial brasileira, investindo como nunca nas empresas nacionais em todos os setores, elevando o valor de compra do salário mínimo, criando milhões de vagas de emprego.

Não bastasse sua luta pela emancipação do Brasil nas relações estratégicas, ele expandiu como nunca havia sido pensado as universidades federais, criando centenas de novos campi e interiorizando a oportunidade do povo dos rincões estudar. Com a expansão das universidades, a pós-graduação brasileira cresceu de maneira vertiginosa, fazendo a produção científica brasileira sair de 17% para 13% no ranking de países com mais produção científica no mundo.

Esses são os crimes desse homem. É por esse crime que eles querem que esse homem pague. Não é por nenhuma corrupção, nenhum tráfico de influência, nenhuma evasão de divisas. Não está em jogo. O maior crime desse homem foi desenvolver o Brasil em sua plenitude, colocando o combate à fome como política de Estado, mais do que duplicando a população universitária, criando mecanismos de democratização do ensino superior, como o ProUni e acabando com a política excludente de financiamento do FIES, que reservava o acesso apenas à classe média. É por esses crimes que querem que esse homem pague. Ele está no radar, já avisou o procurador. O advogado de um dos delatores já avisou que vão tentar prendê-lo até o fim do ano.

Por trás da prisão de Dirceu está a tentativa de cerca-lo. Eles querem derrotar esse homem. A derrota dele é a derrota da esquerda brasileira, no seu maior avanço no maior ciclo de transformações que o Brasil já conseguiu chegar. Esse homem não implantou o socialismo, nem massacrou as elites. Ele não fez sequer reformas estruturais, como a reforma agrária e a reforma tributária, com taxação progressiva. Mas a elite brasileira é tão espúria e mesquinha que qualquer avanço do povo, das pessoas mais pobres a assusta. É por isso que estão caçando esse homem, sua cabeça e seu legado.

Mas nós estamos de cabeça erguida, prontos para defender seu legado e sua luta, a democracia brasileira e o aprofundamento dela. Estamos prontos para derrotar qualquer sinal de golpe à história e o direito à memória de um homem que sempre lutou, junto com todos os partidos de esquerda, para derrotar a fome e as desigualdades sociais.