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Aldo Fornazieri

Professor da Fundação Escola de Sociologia e Política e autor de "Liderança e Poder"

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A campanha Lula Livre não produz resultados

Qual é o problema da campanha “Lula Livre”? Trata-se de uma campanha que prega para convertidos, não conseguiu se traduzir numa campanha de massas e os atos que promoveu foram basicamente de militantes, diz o colunista Aldo Fornazieri

Lula foi a estrela do primeiro programa eleitoral (Foto: Ricardo Stuckert)
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A pesquisa do Datafolha acerca da conduta de Sérgio Moro na Lava Jato mostra que 58% dos entrevistados julgam que ela foi grave e inapropriada e 59% avaliam que suas decisões devem ser revistas. Já, 30% acreditam que sua conduta é adequada. Contudo, 55% avaliam que ele não deve deixar o cargo de ministro, contra 38% que gostariam de vê-lo fora do Ministério. Sua avaliação no Ministério caiu de 59% em abril para 52% em julho. 

Diante desses números da pesquisa o que se pode dizer é o seguinte: o desgaste que Moro sofreu é significativo até agora por conta das revelações de sua conduta manipuladora como juiz, principalmente no que se refere à condenação de Lula. Os números, porém, não autorizam a conclusão de que Moro está morto politicamente, definitivamente derrotado, como sugerem algumas análises. 

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Em política não é conveniente decretar a morte de um ator vivo biologicamente. Exemplo disso é o próprio Lula: perdeu três eleições para vencer na quarta. Para que Moro sofra um abalo político maior, duas coisas precisam acontecer: 1) revelações ainda mais contundentes de suas maquinações e de seus crimes; 2) uma campanha mais intensa e mais esclarecedora e didática junto à opinião pública acerca das suas manipulações e violação das leis e da Constituição.

Se a pesquisa traz notícias ruins para Moro também não traz notícias boas para Lula, para o PT e para a esquerda em geral. Ela mostra que, apesar das manipulações de Moro, 54% dos entrevistados julgam que a condenação de Lula é justa – mesmo número de abril. Ou seja, as revelações do The Intercept não interferiram na opinião dos que consideram que Lula merece a condenação. Em contrapartida, a avaliação dos que consideram que Lula foi condenado injustamente oscilou de 40% para 42%, dentro da margem de erro. Essa oscilação positiva veio daqueles que não se posicionavam sobre a condenação de Lula.

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Estes números mostram a inefetividade da campanha “Lula Livre”, liderada pelo PT, com a participação de outros partidos e movimentos sociais. A rigor, os números que Lula tem a seu favor são dele mesmo e não devem ser considerados como efeito da campanha. Prova disso é que nas pesquisas eleitorais, na pré-campanha de 2018, Lula, já condenado, chegou a alcançar 39% das intenções de voto, número praticamente igual aos que o consideram injustamente condenado. 

Qual é o problema da campanha “Lula Livre”? Trata-se de uma campanha que prega para convertidos, não conseguiu se traduzir numa campanha de massas e os atos que promoveu foram basicamente de militantes. Os números do Datafolha e a debilidade das mobilizações deixam os tribunais superiores confortáveis para não rever a condenação de Lula e para mantê-lo preso. Outra condenação em segunda instância poderá ocorrer antes que Lula alcance a liberdade. Os próprios generais e Bolsonaro se sentem à vontade para pressionar pela manutenção da prisão de Lula.

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A campanha “Lula Livre” não consegue explicar de forma didática para amplas parcelas da população as injustiças e manipulações incursas na condenação do ex-presidente. Se Lula tem uma posição confortável no Nordeste, convém considerar que no cômputo geral da pesquisa apenas 51% dos mais pobres consideram sua condenação injusta, contra 49% que a consideram justa. Lula e o PT enfrentam resistências significativas no Centro e Sul do Brasil e há sinais evidentes de que o PT não conseguiu enfrentar até agora o problema da pecha de partido corrupto que pesa sobre seus ombros. 

Alegar falta de recursos para fazer a campanha pró-Lula livre não procede. Essa campanha de esclarecimento e convencimento poderia ser feita pelas várias redes sociais disponíveis. Na verdade, o que falta é empenho, capacidade explicativa e didatismo. Uma campanha não se viabiliza apenas com a proclamação de palavras de ordem. Ela precisa também de conteúdo e de capacidade persuasiva pela evidência dos argumentos. Existe uma fartura de materiais e de evidências de que Lula foi condenado injustamente e que Moro e a Lava Jato agiram politicamente, de forma criminosa.

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A inefetividade da campanha “Lula Livre” se vincula a um problema mais geral, que é o problema da ausência de uma estratégia do PT e, também, da oposição como um todo. A oposição caminha para colher uma derrota na reforma da previdência. Política não se faz apenas por negação, mas principalmente com afirmação de alternativas. Não é a fúria exasperada da negação que proporciona engajamentos de setores sociais e sim propostas efetivas que vislumbrem uma vida melhor, um futuro melhor. Tal como na campanha “Lula Livre”, na reforma da previdência também está faltando esclarecimento eficiente e didático para a sociedade. Falta explicar quem perde e quanto perde e falta mostrar que privilégios de determinados setores estão sendo mantidos à custa da penalização dos mais pobres.

Além de faltar estratégias, faltam líderes, porta-vozes da oposição. Desta forma, as políticas da oposição aparecem de forma pontual, fragmentada, sem indicar um rumo, um caminho, sem apresentar uma direção. Com a falta de lideranças, de proposições e de instrumentos organizativos, as lutas sociais também aparecem de forma fragmentada e dispersa. 

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O campo progressista está deixando passar um momento que lhe é favorável, caracterizado pela perda de popularidade do governo e pela defensiva moral de Sérgio Moro e de outros integrantes da Lava Jato. O que o governo, Bolsonaro e Moro perdem não se traduz em ganhos para o campo progressista. O momento é favorável para se travar uma luta pela mudança da correlação de forças que existe na sociedade. Mas para isto é preciso ter uma estratégia que aglutine as várias lutas dispersas e que confira um sentido geral para estas lutas.

O sociólogo Emir Sader lançou uma boa pista do que poderia vir a ser uma estratégia do campo progressista ao propor formulação da “reconstrução do Brasil”. Talvez uma consigna mais acurada, capaz de conferir unidade e sentido às várias lutas, pudesse ser sintetizada na seguinte fórmula: “Pela reconstrução democrática e social do Brasil”. Esta fórmula poderia abarcar tanto as lutas que são travadas no campo social e popular, quanto aquelas que são travadas no campo institucional; aglutinaria tanto as lutas por reivindicações, quanto a luta por reformas progressistas; poderia fazer frente aos desmandos e desmanches do governo, quanto mobilizaria em favor da manutenção e conquistas de direitos; defenderia o meio ambiente, os povos indígenas, os quilombolas e apresentaria um programa de desenvolvimento econômico e social; lutaria pela soberania nacional e apresentaria uma estratégia integração global e continental do Brasil.

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Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política (FESPSP).

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