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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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A catástrofe política vista de cima

O linguista Gustavo Conde faz uma comparação entre o colapso político e o colapso dos sentidos no discurso público. Ele invoca o conceito de 'ideologia' como elemento central nesse cenário dos horrores e tenta codificar o traço da 'paralisia política', que impressiona no Brasil e é rechaçado em outros países do continente

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Nada como uma montanha de dinheiro grátis (o fundo eleitoral do PSL) para fazer implodir um aglomerado de facínoras.

Projeto de país? Fidelidade ideológica? Oxe. Que coisa mais sem sentido.

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Só pra lembrar: não existe o dilema ideologia versus não ideologia. Tudo é ideológico. Até aquilo que não parece ser.

O problema é o simulacro de ideologia. Ou: a ideologia de araque.

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Esse é o x da questão.

Mas tem o y também.

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E para entender o y, é preciso esticar o comentário.

Os sentidos das palavras, caras pálidas, dependem diretamente de quem as diz.

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Dita por um fascista, a palavra 'ideologia' tem um sentido pejorativo, simplificador e tóxico.

Dita por um antifascista, ela tem um sentido técnico, complexo e desconfortante.

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O y da questão é escolher qual dos sentidos se aplica em qual situação.

Bolsonaro é o mais ideológico do seres, mas sua 'ideologia' é artificial, vocacionada a produzir o logro e a adesão irrefletida, de má qualidade.

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Sua 'ideologia' é exatamente aquela que é produzida em sua fala: pejorativa e tóxica.

A esquerda, por sua vez, é também ideológica, mas é a 'ideologia' das complexidades, das injunções do discurso, das pressões estruturais da linguagem e do respeito minimamente estabelecido pelos sentidos históricos.

É uma ideologia forte, com laços subjetivos, afetivos e verdadeiramente políticos.

Não existe, portanto, um campo ideológico e outro, não ideológico. Como tudo o que se produz através do encadeamento significante, o sentido de 'ideologia' é um efeito e precisa ser restaurado a cada enunciação.

Essa zona descoberta de sentido (a 'ideologia' edificada pelo fascismo, palavras ao relento, pistolagem nonsense, caricatura semântica) é que nos empurra para a paralisia política.

É em função desta estratégia suicida, que aniquila os sentidos dominantes de um determinado campo político, que a resposta-antídoto deve ser investida de muita impetuosidade retórica, sem os tecnicismos bem comportados da academia e da ponderação.

É preciso "furar" o sentido, rasgar a parasitagem pistoleira do léxico, esfaquear a gramática rupestre dos encadeamentos oportunistas.

É dizer: eu não aceito o teu sentido, seu animal. Tome este aqui, que é muito melhor (para que possamos ajustar uma base comum e disparar um debate digno do nome).

O nome desta dignidade semântico-impetuosa, todos sabem qual é. É Lula.

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