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Victor Maia

Professor e psicanalista, com pós-doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro

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A celebração do golpe militar: o reverso da lucidez

A celebração do aniversário do regime ditatorial brasileiro representa o fato de o Estado sequer reconhecer suas atrocidades. Colocada no quadro das chacotas postadas pelo presidente para desviar a atenção da opinião pública, a comemoração parece se diferenciar das demais pelo seu grande potencial de humilhar e afetar as vítimas e familiares das vítimas da ditadura

A celebração do golpe militar: o reverso da lucidez (Foto: Adriano Machado - Reuters)
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O porta-voz do governo de Jair Bolsonaro, Otávio Rêgo Barros, anunciou na última segunda-feira a determinação do presidente para que o Ministério da Defesa faça "as devidas comemorações do 31 de março de 1964". Estrategicamente polêmica, a medida vai contra o que pensa boa parte dos militares, a chamada ala moderada das Foças Armadas, que preferem tratar do tema de modo mais reservado.

A Lei de Anistia de 1979 impediu que os carrascos do regime militar respondessem por suas ações, mesmo nos casos em que havia provas cabais e irrefutáveis contra os agentes do regime. Como já havia acontecido com o processo de escravidão, mais uma vez os perpetradores foram perdoados antes mesmo de qualquer julgamento.

Esses processos históricos e sociais têm feito do Brasil uma sociedade imersa em permanentes tensões sociais e desatinos de poder. Infundada e inócua, como muitas das medidas tomadas pelo atual Governo até aqui, a celebração do Golpe Militar de 64 é uma clara afronta aos valores democráticos de liberdade e humanismo.

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Celebra-se um regime repressivo, responsável pela tortura, a prisão, a morte e o desaparecimento de milhares de brasileiros, dentre os quais crianças, gestantes e idosos. E as feridas sociais abertas por esse período sombrio de nossa história estão longe de cicatrizarem.

O Estado brasileiro ainda não se retratou dos crimes bárbaros cometidos contra os seus cidadãos, legítimos opositores do regime então vigente. Ninguém foi julgado ou condenado. Diferente de outros países latino-americanos – onde os responsáveis foram responsabilizados e julgados–, "nossos" carrascos nunca foram punidos nem imputados por seus crimes.

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Nesse sentido, a celebração oficial do aniversário do regime ditatorial brasileiro representa também o fato de o Estado sequer reconhecer suas atrocidades. Colocada no quadro das chacotas postadas pelo presidente para desviar a atenção da opinião pública, a comemoração da ditadura parece se diferenciar das demais, no entanto, pelo seu grande potencial de humilhar e afetar as vítimas e familiares das vítimas da ditadura. E nessa marcha dos insensatos não parece haver lugar algum para a mínima lucidez.

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