A China e o fortalecimento da orientação socialista
O governo de Xi Jinping tem se caracterizado por um reforço da orientação socialista

A elite chinesa fez um balanço do colapso do socialismo real e da desintegração da URSS. Por um lado, as formulações do PCCh entenderam os limites da planificação total e da hipertrofia do setor estatal. Por outro, compreenderam a necessidade de que as reformas econômicas combinassem coordenação política e rearranjos institucionais.
Aliás, isso explica o caráter experimental - regional e setorial - das mudanças implementadas pelo governo, combinando retificações e reajustes regulatórios sob o imperativo de desenvolver as forças produtivas. Por se tratar obrigatoriamente de uma formação transitória, o socialismo guarda esse hibridismo e precisa enfrentar essas contradições - que só inexiste na cabeças do marxismo de cátedra.
E agora, no 20° Congresso e com a confirmação do terceiro mandato de Xi Jinping, qual o balanço e prospecção que se pode fazer? Primeiramente, desde que chegou à liderança da China, sua gestão tem sido marcada, internacionalmente, por uma política externa mais assertiva. E que tende a enfrentar desafios crescentes com o recrudescimento do imperialismo estadunidense - cada vez mais errática em face da ascensão chinesa.
Já internamente, seu governo tem se caracterizado por um reforço da orientação socialista. Primeiro, um fortalecimento do Partido, do marxismo e de seus símbolos. Segundo, uma enfática campanha anti corrupção, sobretudo em função de laços promíscuos que se forjavam entre empresários com dirigentes partidários e burocratas. Terceiro, uma intensificação da regulação do setor privado sob a definição de conter a "expansão desordenada do capital".
Isso inclui medidas rígidas para 1) os setores digitais (Internet, games, etc.); 2) o setor imobiliário, sobretudo depois do colapso da Evergrade; 3) e o setor do ensino privado. Trata-se de uma sinalização para os empresários de que a liderança do Partido não está em questão. E de que as empresas e bancos estatais teriam seu poder ainda mais fortalecido.
Não por acaso o PCCh tem estreitado a margem de atuação de bilionários que andavam escapando às diretrizes governamentais. São os casos de Wang Jianlin e seu conglomerado Dalian Wanda do setor de imóveis, cinemas e shoppings, que sofreu uma devassa dos órgãos reguladores; das empresas Alibaba, Tencent e Ant, cujo valor de mercado combinado é de quase US$ 2 trilhões, que tem sido objeto de regras para erradicar práticas monopolistas; das restrições impostas ao setor financeiro que levaram à suspensão da oferta pública inicial de US$ 35 bilhões da Ant Group e forçaram a empresa a se reorganizar como uma holding financeira regulada pelo Banco do Povo da China - enquanto Jack Ma perdia influência na corporação.
Não resta dúvida que se trata de uma crucial correção de rumos; ou seja, fortalecimento do setor público da economia e do poder regulatório estatal chinês. Tudo isso voltado a produzir um desenvolvimento harmonioso, reduzindo desigualdades e universalizando serviços através da construção de um robusto Estado de Bem Estar Social na China.
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