CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
David Soares de Souza avatar

David Soares de Souza

Sociólogo

3 artigos

blog

A classe média, o neoliberalismo e o “efeito Orloff”

Quem de fato governa o Brasil é o poder quase invisível do mercado. O desgoverno do Bolsonaro que chegou aos 100 dias com cara de fim de festa é apenas uma miragem para dar passagem à agenda neoliberal

A classe média, o neoliberalismo e o “efeito Orloff”
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

O projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2020, enviado ao Congresso Nacional pelo governo de Jair Bolsonaro, traz algumas novidades. Uma delas é o fim do ganho real do poder de compra do salário mínimo. A prática de valorização do mínimo, que prevaleceu nos últimos 25 anos, foi intensificada durante os governos petistas. O Presidente Lula passou a reajustar o salário mínimo considerando a inflação e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e a Presidenta Dilma transformou este cálculo em lei.

Para se ter ideia, de acordo com o Dieese, ao invés dos atuais R$ 998,00, sem a fórmula aplicada por Lula e Dilma, o atual salário mínimo seria de apenas R$ 553,00.  Agora, no entanto, com Bolsonaro, a classe que vive do trabalho não terá mais o ganho real. O reajuste do salário mínimo seguirá apenas a inflação.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Não faltará quem queira defender a medida, dizendo tratar-se de um benefício para o conjunto da sociedade. Porém, ao reduzir a capacidade de consumo dos assalariados, essa medida também resultará em um entrave para a recuperação da economia, que está estagnada. O neoliberalismo e o livre mercado são apenas ideologias e não ciências exatas.

A outra novidade trazida pelo governo Bolsonaro é o fim dos concursos públicos. Não há nenhum previsto na nova LDO. Esta medida atinge mais direitamente a classe média, crédula de outra ideologia, a meritocracia. É a classe média que tem condições materiais para permitir que seus filhos se dediquem apenas aos estudos e este é o perfil dos chamados concurseiros.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Não é raro encontrar concurseiros que apoiam medidas neoliberais com o argumento de que estas políticas não irão afetar os concursos públicos, já que estes não seriam decisões de governo, atreladas a expansão de serviços públicos, mas políticas de Estado, independentes do projeto político que estiver governando. Pois bem, os concurseiros que não lembram ou não sabem como foram os anos neoliberais do período FHC podem tentar explicar agora como as ações de desmantelamento da máquina pública podem permitir a seleção de novos servidores.

O melhor símbolo desta contradição está em um cursinho em Brasília, especializado em provas para o INSS, Banco do Brasil e Judiciário, e que fez campanha explícita para Jair Bolsonaro. Quando da vitória eleitoral do atual presidente, ano passado, chegou a oferecer descontos para comemorar. A direção deste cursinho está com dificuldades para entender a decisão do governo Bolsonaro de não apenas encerrar os concursos públicos, como também de fechar 250 mil das atuais 700 mil vagas ativas no serviço público federal.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

E apesar do mantra repetido pela grande mídia e pela direita de que no Brasil o Estado é muito grande, para grande parte da nossa população o Estado é quase inexistente. O povo precisa de mais e melhores políticas públicas, sobretudo nas áreas de educação, saúde, segurança, saneamento, habitação, mobilidade etc. Aliás, o que são as milícias se não o sucesso da ausência do Estado? Ou, quando muito, a presença estatal de forma privatizada.

Quem de fato governa o Brasil é o poder quase invisível do mercado. O desgoverno do Bolsonaro que chegou aos 100 dias com cara de fim de festa é apenas uma miragem para dar passagem à agenda neoliberal. O capital especulativo e seus investimentos que não geram crescimento econômico e aumentam a concentração de renda vêm determinando a agenda política e artificializando consensos, a exemplo da reforma da previdência.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Acrescente-se que o projeto de reforma da previdência, se exitoso, levará a um aumento de poupança e não de consumo. A fórmula rejeitada pelo consenso neoliberal é aquela que diz que o país só voltará a crescer com a geração empregos, e, para tanto, o dinheiro precisa circular. Qualquer governo deve adotar medidas anticíclicas para fazer a roda da economia girar, incentivando o capital produtivo e não o especulativo. São necessários investimentos que aqueçam a economia e propiciem aumento da arrecadação. Além disso, poderemos ter outras receitas, se os que ganham mais passassem a pagar mais tributos, proporcionalmente às suas rendas.

Aqueles que alertam escatologicamente para um déficit nas contas públicas, por ignorância ou má fé, esquecem de dizer que praticamente metade do que produzimos vai para superávit e/ou manutenção de títulos da dívida pública, concentrados nas mãos de pouquíssimos especuladores.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

A fatura chegou. A pauta econômica é a bifurcação política na sociedade. Não dá para defender privatização da Petrobrás e agradar caminhoneiros ao mesmo tempo.  Pobres, quando votam como ricos, continuam sofrendo como pobres. A classe média se proletariza e, se antes torcia o nariz para presença de trabalhadores nos aeroportos, hoje os encontra nas rodoviárias.  Enquanto isto, a Argentina nos lembra o “efeito Orloff” e nos manda um recado: “Brasil, eu sou você amanhã!”

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247,apoie por Pix,inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO