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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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A coisa tá ficando preta para o “mito”

"Agrava-se a crise nos meios militares. Aparentemente é grande o descontentamento nos círculos militares com o comportamento de Pazuello", escreve o colunista Ribamar Fonseca. E acrescenta: "paralelamente à terceira onda do coronavírus", Jair Bolsonaro gasta "dinheiro público com desfiles de apoiadores e viagens"

General Eduardo Pazuello (Foto: Alan Santos/PR | Reuters | Edilson Rodrigues/Agência Senado)
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O presidente Bolsonaro tanto fez que acabou lançando o Exército na fogueira dos acontecimentos envolvendo o ex-ministro Eduardo Pazuello. Ele deixou a tropa numa situação muito delicada, em princípio com duas opções: ou pune Pazuello por ter infringido o regulamento militar, ao comparecer a um ato político, ou se desmoraliza, ficando sem autoridade para punir qualquer outro oficial que participar de alguma manifestação política. Além da infração ao regulamento militar, o general também afrontou o alto comando do Exército ao ignorar a sua convocação para prestar esclarecimentos sobre a sua atitude. Ao que parece, acreditando-se garantido pela costa quente do Presidente, Pazuello mandou às favas o regulamento militar e não liga para a hierarquia, ignorando a autoridade do comandante. Seria um insubordinado?

Para completar, Bolsonaro colocou uma mordaça no Exército, proibindo a divulgação de qualquer ato relacionado com a infração do general ex-ministro da Saúde. E os militares ficaram calados. O silêncio, no entanto, não significa que eles aceitaram pacificamente a mordaça. Na verdade, esses acontecimentos serviram para aprofundar o racha entre os militares, pois existe uma parte que não concorda com as atitudes do governo Bolsonaro e, muito menos, com a subserviência e indisciplina de Pazuello, como é fácil constatar pelas declarações de  alguns generais da reserva. Com sua atitude infratora rebelde, o ex-ministro também perdeu o apoio antes manifestado diante do seu comparecimento à CPI da Covid. E, como consequência, não terá nenhum respaldo para o segundo depoimento, cuja convocação já foi aprovada pela comissão. Não deve ter nem mesmo a proteção do STF, que dificilmente lhe concederá um segundo habeas corpus para ficar em silêncio e mentir impunemente.

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Não é difícil perceber que Bolsonaro desorganizou o país em todas as áreas, inclusive a militar, promovendo a sua desconstrução. Além das milhares de mortes provocadas por sua insistência em negar a gravidade da pandemia e procrastinar nas providências para a vacinação, ele transformou a Amazônia em terra de ninguém, onde garimpeiros e madeireiros exploram áreas ocupadas ilegalmente e massacram os índios, atacando até mesmo as equipes de segurança. As forças que seguram o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, que preparou tudo para a passagem da “boiada”, tem tanto poder que vem afastando do caminho dele todos os que ousam contrariá-lo, inclusive o delegado da Policia Federal que apreendeu grande partida de madeira ilegal e abriu investigações sobre suas ações. Até o Procurador Geral da República, Augusto Aras, tenta barrar as investigações, insistindo na saída do ministro Alexandre de Moraes, do STF, da relatoria do inquérito que corre no Supremo. Pelo visto estão com medo de que algo muito grave seja descoberto.

Enquanto isso, agrava-se a crise nos meios militares. Aparentemente é grande  o descontentamento nos círculos militares com o comportamento de Pazuello e maior ainda com a atitude do Presidente, mas não há sinal de que o general indisciplinado será punido. O silêncio imposto por Bolsonaro parece ter intimidado o comando do Exército. E as notícias que circulam dão conta  de que  o Alto Comando estaria exercendo pressão para que Pazuello vista o pijama. Pressão? Cadê a hierarquia? E a autoridade do comandante? Já existem até rumores de que o general Paulo Sérgio estaria cogitando  renunciar ao comando do Exército, o que, se de fato acontecer, será interpretado como um ato de fraqueza, falta de autoridade, com repercussões negativas no moral da tropa. E a anarquia pode se instalar na instituição.  Seria a vingança do capitão por ter sido excluído da corporação em circunstâncias humilhantes? As Forças Armadas vão permanecer encolhidas  diante da atitude divisionista  de Bolsonaro?

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O mais surpreendente é que, apesar de ter instalado a cizânia na tropa, Bolsonaro voltou a invocá-la para fazer novas ameaças à democracia. Em São Gabriel da Cachoeira, no interior da Amazônia, onde foi inaugurar uma ponte de madeira de 18 metros de comprimento construída pelo Exército, o capitão ameaçou novamente usar os militares, “se necessário”, para acabar com as restrições impostas pelos governadores por causa da pandemia. “A liberdade do povo passa por vocês”, ele disse no discurso aos militares que operam naquela região. Ele certamente pensa que ainda  tem o controle do “seu Exército”, ignorando a crise que provocou e que pode lhe custar caro. Quem sabe o que se passa na cabeça do alto comando? A disciplina, que assegura a unidade da tropa, pode estar segurando, mesmo engasgados, os comandantes militares, mas e se de repente, numa explosão de revolta, decidirem afastá-lo e entregar o governo ao general Hamilton Mourão, o vice-presidente que também exige a punição de Pazuello. E o tiro que Bolsonaro vem ensaiando disparar há tempos pode sair pela culatra. Afinal ninguém, nem mesmo os militares, estão mais aguentando o capitão aloprado.

A situação de Bolsonaro, na verdade, está se complicando a cada dia, não apenas por conta de suas atitudes tresloucadas mas, também, por causa da CPI da Covid. O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, confirmou em seu depoimento à comissão que o Presidente impediu a compra e aplicação da vacina Coronavac em meados do ano passado, o que contribuiu para o aumento da mortalidade em nosso país. Apesar do esforço de alguns depoentes para inocentá-lo, como Ernesto Araújo e Pazuello, a CPI já tem provas suficientes de que Bolsonaro é um dos principais responsáveis pelas milhares de vítimas da covid no Brasil. E já há até quem admita que ele poderá ser preso por conta dos crimes de que é acusado. O fato é que paralelamente à terceira onda do coronavirus, que já lota hospitais e obriga muitas cidades a endurecer as medidas restritivas, agrava-se a crise militar e a situação política do país, com Bolsonaro gastando dinheiro público com desfiles de apoiadores e viagens até para inaugurar ponte de madeira no interior da Amazônia, sem esquecer as investigações sobre corrupção no Ministério da Saúde no Rio e no Ministério do Meio Ambiente. A coisa tá ficando preta para o “mito”.

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