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A “comilança” republicana: degustando as obras de Lima Barreto e de Lula

O jogaram na masmorra, a fim de “comê-lo” política e historicamente. A qualquer tempo devemos ter em mente e “degustar” maravilhosamente as ideias e as palavras do Lima e as do Lula

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“A República no Brasil é o regime da corrupção. Todas as opiniões devem, por esta ou aquela paga, ser estabelecidas pelos poderosos do dia. Ninguém admite que se divirja deles e, para que não haja divergências, há a ‘verba secreta’, os reservados deste ou daquele Ministério e os empreguinhos que os medíocres não sabem conquistar por si e com independência (...). Ninguém quer discutir; ninguém quer agitar ideias; ninguém quer dar a emoção íntima que tem da vida e das coisas. Todos querem ‘comer’. ‘Comem os juristas, ‘comem’ os advogados, ‘comem os médicos, ‘comem’ os poetas, ‘comem’ os romancistas, ‘comem’ os engenheiros, ‘comem’ os jornalistas: o Brasil é uma vasta ‘comilança’”

As palavras acimas citadas fazem parte de um excerto das posições de Lima Barreto de que “A República no Brasil é o regime da corrupção”, expressa na crônica “A política republicana”, escrita em fins do século XIX pelo excepcional Afonso Henriques de Lima Barreto e replicado nas suas “Obras Completas” e também em sua recente biografia “Lima Barreto – Triste Visionário”, escrito por Lília Moritz Schwarcz. O trecho da crônica emocionou os participantes quando da abertura da 15ª edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), ao ser lida, declamada e interpretada pelo ator Lázaro Ramos, em 26 de julho de 2017. Se Lima Barreto teria CONCLAMADO o “Fora Temer”, imagina o “Fora Bolsonaro”, “Fora Moro”, “Fora Dallagnol”, “Fora Fux”, “Fora Globo”, entre outros “Foras” inexoráveis do momento!

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O espetacular olhar crítico de Lima Barreto para a recente República brasileira nos serve de inspiração desde então. É imortal. No Brasil não se vence as eleições. Se “papa”; essa foi “papada”, dizem estes e aqueles. Quem é vencido, não foi derrotado. “Entrou pelo cano”, dando a ideia da comida que foi pia abaixo. Quando as “isentas pesquisas de intenção de voto” são divulgadas, apontando a vitória de determinado candidato ou coligação, exacerba-se a sentença: “essa está no papo!”. ESTÁ correto o Lima: a República brasileira é canibal. Aqui não se vence; se “come”. Não se perde; é “comido”. O poder é como se fosse uma refeição: quem está no poder “está por cima da carne seca!”  

A nossa “velha” República decaiu econômica e socialmente, sobretudo, por conta do assim chamado “vale tudo”, da “comilança” a la “Monty Python e o ‘Sentido da Vida’ (The Meaning of Life, 1983, direção de Terry Jones). No filme A vida humana é revista pelo filme em tons de comédia, fazendo alusões críticas e irônicas a vícios culturais e a problemas da sociedade, ou ainda a questão da frivolidade do homem em comparação com o Universo e o todo. Ou, como escreve Mircea Cioran em “Civilização e frivolidade”, in Breviário de decomposição. Trad. de José Thomaz Brum. Rio de Janeiro: Rocco, 2011: Chega-se a encontrar mais prestígio na expressão do que na alma que a sustenta, na graça do que na intuição; a própria emoção torna-se polida”. “O ser entregue a si mesmo, sem nenhum preconceito de elegância, é um monstro; só encontra em si zonas obscuras, onde rondam, iminentes, o terror e a negação”. “Saber, com toda sua vitalidade, que se morre e não poder ocultá-lo, é um ato de barbárie”. “Toda filosofia sincera renega os títulos da civilização, cuja função consiste em velar nossos segredos e disfarçá-los com efeitos rebuscados”. “Assim, a frivolidade é o antídoto mais eficaz contra o mal de ser o que se é: graças a ela, iludimos o mundo e dissimulamos a inconveniência de nossas profundidades”.

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O modelo brasileiro de “desenvolvimento republicano” está marcado profundamente pelo “canibalismo social” e pela “sede trazida pela comilança”, que, no seu conjunto tem um significado bastante simples, mas de profundas repercussões negativas e nefastas: “primeiro eu, o resto que se dane”. É o retrato estampado desde os tempos em que éramos colônia oficialmente falando de um reino extremamente corrupto e violento, formado a partir das pilhagens realizadas pelos europeus na cidade santa de Jerusalém. Durantes as “cruzadas cristãs” medievais, todos os bens que eram roubados e pilhados de muçulmanos, judeus e cristãos ortodoxos eram encaixotados e enviados para o feudo de Afonso Henriques, até que aquele pedaço de terra no extremo oeste da Europa viesse a se tornar o primeiro país moderno da época mercantilista ainda no decorrer do século XIV, rompendo seus laços feudais com o reino de Castela: o reino de Portugal. Um “caixa dois”, um “paraíso fiscal”, que há seiscentos anos, “virou” um país de banqueiros e perdulários, com um rei decorativo, visando a encobrir os tesouros banhados com o sangue de homens, mulheres e crianças do Oriente Médio. Somos todos “crias” disso, queiramos ou não, saibamos ou não.

Já no decorrer do ano de 1958, o jurista, professor de Direito e futuro presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) nacional, o gaúcho Raymundo Faoro, lançava uma obra fundamental: “Os Donos Do Poder: Formação Do Patronato Politico Brasileiro”, pela extinta editora Globo, de Porto Alegre (nada a ver com a atual editora da família Marinho). Discute amplamente no livro o conceito do termo PATRIMONIALISMO. De maneira resumida, o “patrimonialismo brasileiro” é uma herança das práticas políticas ibéricas (Portugal e Espanha), onde aquele que “ESTÁ” no poder age de forma perversa, entendendo que ele “É” o poder. Ou seja, os “bens públicos pertencem a ele. Ele manda, acabou e pronto!”. Ou se é “amigo do rei”, ou persona non grata. Na frase histórica do contraditório, ainda que um nacionalista, o ex-presidente Getúlio Vargas: “Aos amigos, TUDO; aos inimigos, a LEI”. Ou seja, um “comendo” o outro! Daí compreende-se os termos “Lambendo os beiços do poder” por um lado e “um bando de esfomeados”, por outro. É o nosso “modelo”. “Comem-se as riquezas nacionais, a população pobre, as populações nativas, os quilombolas, a Educação, a Seguridade Social, o pré-sal, a soberania nacional, os recursos naturais, a fauna, a flora, o próprio Getúlio Vargas, João Goulart, enfim”.  

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Daí o ódio das elites “nacionais” àqueles que não quiseram “comer” o poder, mas pelo contrário, levaram comida de fato às mesas e às vidas dos pobres e despossuídos. O presidente Lula é o grande exemplo disso. O jogaram na masmorra, a fim de “comê-lo” política e historicamente. A qualquer tempo devemos ter em mente e “degustar” maravilhosamente as ideias e as palavras do Lima e as do Lula.  

 

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