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Marcelo Zero

É sociólogo, especialista em Relações Internacionais e assessor da liderança do PT no Senado

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A Conexão Milei-Zelensky

"Mas porque Zelensky se deu ao trabalho de ir até Buenos Aires, numa cerimônia de posse tão esvaziada?", questiona

Karina Milei, Javier Milei e Zelensky (Foto: Reprodução Youtube)
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Zelensky foi um dos pouquíssimos chefes de Estado a comparecer à posse de Javier Milei, um ultradireitista radical, que mete medo até no espírito de Milton Friedman.

Percorreu mais de 13 mil quilômetros, desde a longínqua Ucrânia, para posar para a foto oficial com outros sete governantes. 

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Além posar para a foto, que excluiu o “penetra” Bolsonaro, Zelensky mentiu sobre algumas coisas. Pelo menos, uma. Afirmou que tinha ido à posse de Milei porque fora convidado, ao contrário do que teria ocorrido na posse de Lula, para a qual não teria recebido convite.

O Itamaraty logo desmentiu a fake news maliciosa.

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Ele foi convidado sim, mas decidiu não comparecer. Enviou a vice-presidente da Ucrânia, Iryna Verenshchuc. O Itamaraty, obviamente, envia convite para todos os países com os quais o Brasil mantém relações diplomáticas. Não discrimina ninguém.

Lembre-se que, em maio, na cúpula do G7, Zelensky também decidiu não comparecer ao encontro previamente marcado com Lula. Resolveu “esnobar” nosso presidente.

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Mas porque Zelensky se deu ao trabalho de ir até Buenos Aires, numa cerimônia de posse tão esvaziada?

Afinal, as relações bilaterais com a Argentina nunca foram prioridade para a política externa da Ucrânia.

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Com efeito, desde 2014, com o surgimento, em Kiev, de governos firmemente alinhados com os interesses do chamado Ocidente, que a política externa da Ucrânia colocou toda sua ênfase nas suas relações com os EUA, a União Europeia e a OTAN.

Mesmo em termos econômicos e comerciais, a Argentina não tem peso para a Ucrânia. Em 2021, a Argentina exportou somente cerca de U$ 61 milhões para a Ucrânia.

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A explicação reside, obviamente, no fato de que Zelensky encontrou um raro aliado político em Milei. Um aliado de extrema-direita, disposto a tentar articular um encontro entre a Ucrânia e países latino-americanos, com o intuito de angariar apoio ao “esforço de guerra”. Zelensky também aproveitou a viagem para se encontrar com os presidentes do Equador e do Paraguai.

Não acreditamos, contudo, que isso venha a funcionar. 

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Em primeiro lugar, porque Milei não é um bom articulador. Extremista de direita, agressivo, um tanto desequilibrado e “antipolítico”, Milei não goza de muita simpatia na América Latina. Ninguém o vê como um estadista ou um líder regional e mundial, ao contrário do que acontece com Lula. 

Em segundo, porque o “esforço de guerra” na Ucrânia está fracassando a olhos vistos e conta com cada vez menos apoio político, mesmo em seu principal aliado, os EUA.  A famosa “contraofensiva” ucraniana não ganhou um milímetro e há a suspeita de que boa parte do dinheiro enviado vem sendo desviado pela corrupção, um problema muito sério na Ucrânia. 

Há um cansaço generalizado dessa guerra, especialmente no Sul Global, e uma pressão cada vez maior para que ocorram negociações sérias entre as Partes para colocar fim ao conflito. Observe-se que a proposta de “paz” da Ucrânia é simplesmente uma exigência de capitulação incondicional da Rússia, algo totalmente inexequível.

Em terceiro, porque uma reunião da Ucrânia com países latino-americanos, sem a participação da Rússia, seria algo inútil para o objetivo da paz. Tratar-se-ia somente de uma reunião para angariar, como afirmamos, apoio político para uma das Partes do conflito. 

O Brasil, embora tenha condenado formalmente a intervenção russa, rege sua política externa, entre outros, pelos princípios da não-interferência, da solução pacífica dos conflitos e da defesa da paz. 

Assim, o Brasil, de um modo geral, procura, sempre que possível, manter equidistância entre Estados em conflito. O Brasil só poderia romper com essa equidistância, em casos de Resoluções específicas do Conselho de Segurança da ONU, que imponham eventuais sanções contra algum país. Nesses casos, o Brasil se obriga a cumprir as determinações do CSNU. 

Até mesmo a LEI Nº 1.079, DE 10 DE ABRIL DE 1950, a famosa lei que define os crimes de responsabilidade do Presidente da República, lista, como crime de responsabilidade contra a existência política da União, “cometer ato de hostilidade contra nação estrangeira, expondo a República ao perigo da guerra, ou comprometendo-lhe a neutralidade”.

Por conseguinte, o Brasil é muito cuidadoso, não hostiliza nenhum país e sempre procura defender a paz e obedecer às leis internacionais. Não temos a lamentável tradição de unilateralismo e belicismo, cultivada com denodo por alguns países. 

Não nos obrigamos a “escolher lado”, como querem nos forçar alguns. Estamos sempre do lado da paz e das negociações, como demonstramos recentemente à exaustão. 

Sem o apoio do Brasil, que, espero, não virá, essa reunião, liderada pelo espírito de Conan, o agressivo mastim inglês, deverá fracassar, tal como aconteceu com a contraofensiva ucraniana.

O Brasil e a América Latina deverão estar alinhados com seus interesses próprios, que exigem desenvolvimento e paz para todos. 

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