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Luiz Kohara

Luiz Kohara é assessor do Curso de Verão 2021, organizado pelo Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (CESEEP).

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A construção de uma nova cidade por meio da solidariedade e o compromisso com os mais pobres

Imerso a essa reflexão sobre a construção de uma nova cidade, solidária e comprometida com os mais pobres, a BrCidades apresenta uma agenda para as cidades brasileiras com referências a serem adequadas e complementadas, conforme realidades locais.

Para falar da construção de uma nova cidade é importante entender o
que está acontecendo no momento atual em relação à pandemia da
Covid-19 que, por sua vez, tem escancarado cada vez mais as
desigualdades sociais, trazendo consequências ainda mais graves para
quem já se encontra em situação vulnerável na cidade.



Embora as cidades estejam cada vez mais modernas e equipadas, o
contraste com a precarização da vida da maioria das pessoas é cada vez
maior. Importante também pontuar que as cidades possuem
características e significados próprios, e que estão sempre passando
por transformações que refletem as modernizações e as necessidades da
sociedade no tempo e no espaço. O modelo de desenvolvimento agrário
que provocou o processo da urbanização, os interesses do capital
imobiliário, os valores hegemônicos da sociedade que controlam o
Estado e as resistências populares por melhores condições de vida são
partes determinantes da realidade urbana.



Ciente de tudo isso, ao pensar na construção de uma nova cidade,
transformando a que já existe, buscamos respostas para algumas
questões, bem como, o que é a cidade? O que se quer transformar? E
como deve ser a cidade que queremos? As respostas para tais perguntas
conduzem a uma reflexão sobre o direito à cidade. Historicamente, é
possível pensar na formação das cidades a partir do êxodo rural, do
conceito dela como espaço de moradia, de convivência, de trabalho etc.
Além, é claro, de pensar nela com novos contornos comunitários, dentro
de um modelo que induz à individualização dos sujeitos.



Ao voltar o olhar para a história de lutas por melhores condições de
vida na cidade, fica evidente a importância que tiveram as
organizações populares nos processos de mudança das cidades.
Organizações que, em considerável parte dos casos, tiveram origem nas
Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), inseridas nos territórios
populares e que, em torno dessas lutas por conquistas concretas, foram
construindo pautas em torno do direito à cidade. Vale reforçar que as
lutas eram pautadas por problemas pontuais, como asfaltamento de ruas;
construção de postos de saúde, hospitais, escolas e creches para as
crianças etc. Se junta a essas demandas a agenda de luta urbana para
solidariedade e direitos dos mais pobres. Esta agenda pelo direito à
cidade, sempre se deu em correlação de forças extremamente desiguais,
com pouca incidência política do Estado nas decisões sobre as cidades,
exceto em períodos de governos democráticos.



Com foco também na necessidade de construir uma agenda para as cidades brasileiras, surgiu o Projeto Brasil Cidades (BrCidades), uma ampla
rede de ação coletiva, que agrega pesquisadores, lideranças de
movimentos populares, profissionais de diversas áreas dos setores
públicos e privados, juventude, população negra, movimentos de lutas
de gênero, coletivos LGBT’s, na busca de construir cidades mais
justas, mais solidárias, economicamente dinâmicas e ambientalmente
sustentáveis.



Imerso a essa reflexão sobre a construção de uma nova cidade,
solidária e comprometida com os mais pobres, a BrCidades apresenta uma
agenda para as cidades brasileiras com referências a serem adequadas e
complementadas, conforme realidades locais. A agenda é composta por
muitos itens, que enfatizam, por exemplo, a defesa da função social da
terra; o combate ao abandono e invisibilidade das periferias e
favelas; a luta contra o racismo, o acesso universal à moradia digna e
a defesa do meio ambiente como bem comum.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.