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Gustavo Conde

Gustavo Conde é linguista.

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A coragem vai vencer o ceticismo

O colunista do 247, Gustavo Conde, questiona a persistência do sentimento de um ceticismo perigoso no segmento progressista da sociedade brasileira; ele diz que "o medo é o sentimento atávico, capaz de acelerar o nosso batimento cardíaco e nos projetar a ações e gestos investidos de força e explosão"; e contrapõe: "o ceticismo nos deixa imóveis, congelados na própria desilusão política e existencial";Conde crava: "o cético só reclama"; O colunista ainda afirma: "o ceticismo é colonizado"; emenda: "quem ostenta ceticismo nada mais é do que alguém destituído de sentido de pertença social e existencial; e conclui "o ceticismo é um sentimento pequeno-burguês, de uma elite vira-lata que jamais entenderá do que é feito o humano, suas pulsões, timias e paixões"

O colunista do 247, Gustavo Conde, questiona a persistência do sentimento de um ceticismo perigoso no segmento progressista da sociedade brasileira; ele diz que "o medo é o sentimento atávico, capaz de acelerar o nosso batimento cardíaco e nos projetar a ações e gestos investidos de força e explosão"; e contrapõe: "o ceticismo nos deixa imóveis, congelados na própria desilusão política e existencial";Conde crava: "o cético só reclama"; O colunista ainda afirma: "o ceticismo é colonizado"; emenda: "quem ostenta ceticismo nada mais é do que alguém destituído de sentido de pertença social e existencial; e conclui "o ceticismo é um sentimento pequeno-burguês, de uma elite vira-lata que jamais entenderá do que é feito o humano, suas pulsões, timias e paixões" (Foto: Gustavo Conde)
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Antes de Lula ser preso, a Folha de S. Paulo não publicava fotos dele ao lado do povo, nos planos abertos do Ricardo Stuckert, por exemplo. Era só o rosto, uma foto de divulgação, uma imagem antiga ou mesmo um "corte", seja na edição, seja na orientação ao fotógrafo.

Eu vi com meus próprios olhos fotógrafos 'freelas' da Folha evitando enquadrar o público junto a Lula na Casa de Portugal, num dos últimos atos pela Democracia. O jornal chegava ao cúmulo de publicar uma foto escura e mal enquadrada - diante da dificuldade técnica de se tirar o povo de cena - do que liberar seus fotojornalistas para fazerem fotos factuais e representativas da cena pública.

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Agora, com Lula preso, a Folha publica as fotos reais e factuais com Lula nos braços do povo, mesmo que seja nas editorias internas. A pergunta que viria é: por quê? Eu respondo. Com Lula preso, não há mais a necessidade de intensificar a campanha subliminar por sua prisão, óbvio - e isto é uma primeira coisa.

Mas, o mais curioso é que ao se sentir “liberada” ideologicamente para publicar as fotos épicas de um Lula nos braços do povo - achando que já pertencem ao passado e à história - ela atualiza o sentimento de indignação por sua prisão.

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A Folha, certamente, deve achar que publicar uma foto de Lula junto do povo em um momento em que ele está preso tem uma cifra de sadismo. Também é certo que seus leitores conservadores devem se deliciar com uma foto dessas e pensar “povo burro, se ferrou”.

Mas, como Lula disse e continua dizendo de dentro da prisão – como só os presos políticos mais célebres da história fizeram: a verdade é mais forte e vai prevalecer.

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Já está prevalecendo, mesmo com a escalada de violência política. Aliás, a escalada de violência política – os tiros no acampamento Marisa Letícia em Curitiba – são sintoma de que a direita conservadora perdeu no discurso e está perdida. Só lhes restam as balas.

Lula preso desorganiza todo o país e toda a cena política e jornalística do país. O jornalismo, golpista ou não, aprendeu a costurar a cena noticiosa com a presença de Lula encarnando seu antissujeito. Esse antissujeito da elite e do poder servia de referência narrativa para que as teses e as leituras conjunturais pudessem emergir no colunismo editorial que dá voz a esses veículos.

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Esse dispositivo se estilhaçou. A prisão do motor de todas as narrativas provocou ao mesmo tempo, uma paralisia do jogo político e uma aceleração do tempo histórico. Lula sabia disso e, de uma certa forma, foi para prisão de posse plena de seu sentido estratégico. Sabe que, preso, desorganiza todo o cenário e que, destarte, obriga seus detratores a “se mexerem” em vez de ficarem naquele massacre habitual e irracional de 40 anos de “caça à Lula”.  

O deslocamento narrativo espontâneo para a verdade factual já começou. E embora o caminho senha árduo e longo, o tempo digital também serve de acelerador narrativo. Quem imaginaria a proeza de a Folha de S. Paulo dizer com todas as letras que o SUS é o mais completo sistema de saúde do mundo? Pois ela disse isso nesta semana que passou, em matéria surpreendentemente honesta da jornalista Claudia Collucci (não pela jornalista, mas pelo empregador).

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Há, portanto, um movimento de “volta à verdade”. A vida é assim mesmo e todos sabem, seja pela sabedoria popular, seja pelas teorias mais sofisticadas da física ou da história: tudo o que vai, volta. A rigor, a saturação de mentira na cena brasileira foi tanta que agora o próprio aparato cognitivo social não dá mais conta de sustentá-la.

Este “aparato social” de leitura enviesada da realidade entrou em colapso e é exatamente por isso que a violência se torna um desdobramento da linguagem, desdobramento esse a que segmentos golpistas recorrem na tentativa agônica de tentar subsistir.

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A palavra “Bolsonaro” já se tornou uma violência em si. Pessoas dizem “Bolsonaro” num gesto de violência puro e simples. É até mais que um insulto, é uma agressão. Não há cidadão neste país que diga “Bolsonaro” de posse de alguma ideia democrática, política ou republicana.

Esse e um dos fenômenos interessantes da linguagem. O recrudescimento de violência é tal que certas palavras invadem o terreno simbólico e semiótico dos gestos e ganham sentidos novos que lhes denunciam a face. Dizer “Bolsonaro”, hoje é como dar um tiro – aliás, o atirador de Curitiba disparou sua arma e gritou “Bolsonaro” várias vezes, segundo relatos das vítimas do Acampamento.

É preciso entender, no entanto, que não faz o menor sentido celebrar a presente vitória simbólica que pertencer ao campo progressista que está muito mais próximo da verdade histórica que seu “outro”, o campo conservador e violento. Mas, se não faz sentido celebrá-la, faz menos sentido ainda desprezá-la. Para que uma vitória dessas se consolide, é preciso que seus agentes tomem posse de seu significado e de sua verdade.

Em outras palavras, como bem diria Lula se estivesse solto: é preciso acreditar. Basta pensar que esse sentimento poderosíssimo do “acreditar político” é que levou Lula e o povo brasileiro para 13 anos de intensa democracia e intensa ação social e econômica. O Brasil era muito melhor e todos sabem disso. Alguns apenas reprimem a percepção diante da vergonha recente de terem depositado seu voto em Aécio Neves.

Esse “acreditar” que a elite e a imprensa golpista taxam como ingenuidade romântica e, na verdade, a arma mais poderosa de um povo. Se “acreditarmos” que ele é decorrente de ingenuidade, seria tanto melhor que migrássemos para a direita de uma vez. Ali é o lugar histórico privilegiado para não se acreditar em nada.  

É por isso que há uma diferença muito grande entre o medo e o ceticismo. O medo é um sentimento que nos ajuda a resistir às ameaças. O ceticismo é um sentimento que nos paralisa e nos torna agentes do nosso inimigo.

O medo é o sentimento atávico, que é capaz de acelerar o nosso batimento cardíaco e nos projetar a uma ação e a um gesto investidos com extrema força e explosão. O ceticismo nos deixa imóveis, congelados na própria desilusão política e existencial. O cético só reclama.

O cético é um frustrado permanente, ele se recusa a sonhar, a amar, a vencer, a empurrar o adversário fragilizado para o lugar que ele merece: o lugar de coadjuvante.

O ceticismo de esquerda é um oxímoro, um paradoxo. A esquerda é, em essência, utópica, 'caliente', passional. A passionalidade não é inimiga da inteligência, pelo contrário. Se assim o fosse, como interpretar Lula? Alguém extremamente passional que definiu toda o cenário político de um país continental nos últimos 40 anos? Quem realizou projetos inimagináveis para essa direita tão pragmática e de posse de seu ceticismo colonizado?

O ceticismo é isso: é colonizado. Quem ostenta ceticismo nada mais é do que alguém destituído de sentido de pertença social e existencial. O ceticismo é um sentimento pequeno-burguês, de uma elite vira-lata que jamais entenderá do que é feito o humano, suas pulsões, timias e paixões.

Céticos profissionais adoram a frase de Samuel Johnson: “O patriotismo é o último refúgio dos canalhas”. Eu acrescentaria um adendo interrogativo a esta gloriosa citação, primor do ceticismo mundial: “e o antipatriotismo é o quê, cara-pálida?”.

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