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Marilza De Melo Foucher

Economista e jornalista. Colabora com o Brasil 247 e outros jornais no Brasil, é colaboradora e blogueira do Mediapart em Paris

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A crise econômica grega/europeia

Pode-se dizer que a crise econômica europeia é, acima de tudo, uma crise política, tendo em vista que as políticas nacionais e da UE estão desconectadas do sentido da democracia

Pode-se dizer que a crise econômica europeia é, acima de tudo, uma crise política, tendo em vista que as políticas nacionais e da UE estão desconectadas do sentido da democracia (Foto: Marilza De Melo Foucher)
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O grande evento político no parlamento europeu de Strasbourg foi a presença do primeiro-ministro Grego Alexis Tsipras. Na terça-feira, 8 de julho 2015, assistimos pela primeira vez na história do parlamento europeu um grande debate político, que demonstra que a economia não pode ser um simples instrumento monetário, e que a governança mundial não pode substituir uma governabilidade democrática em países soberanos. Nesta ocasião, o "agora" estava presente simbolicamente fazendo a junção das palavras gregas dêmos (o povo) et kratos (o poder).

O que estava em jogo era o futuro da democracia na Europa. Por isso, a presença do primeiro-ministro grego teve um sentido de forte simbolismo. Estaria ele trazendo para o parlamento europeu o resultado da voz do povo até então calado e humilhado? Estaria ele, com sua presença, reforçando a legitimidade da governabilidade democrática ofuscada e fragilizada pela governança tecnocrática mundial? Na certa, o debate revelou certas ambiguidades políticas na velha Europa.

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De todo modo, o primeiro-ministro, com muito habilidade, traz a política para o centro de decisões da União Europeia e, quem sabe, provocará um debate sobre a falta de democratização de suas instâncias. Pode-se dizer que a crise econômica europeia é, acima de tudo, uma crise política, tendo em vista que as políticas nacionais e da União Europeia estão desconectadas do sentido da democracia, estão completamente fora do ar e parecem que são autistas às demandas do povo. As instituições inventadas no século XIX parecem, deste modo, caducas. Hoje o conceito de democracia representativa é uma sequência de mal-entendidos, uma vez que o princípio deste sistema legitima somente a voz dos eleitos que em nome do povo, impõem-lhes o silêncio. O pior, os governos eleitos pelo povo delegaram os poderes que lhes foram outorgados para uma governança mundial sem nenhuma legitimidade democrática. Esta governança vai se tornar a instância máxima do poder econômico que dominará sobre o poder político. Esta governança passa a decidir sobre o destino de um país e de seu povo. Por estas razões, o plebicito greco tem um forte valor simbólico, ele deu voz aos povos europeus, despertou uma solidariedade entre os povos, reabilita o Poder Politico. Uma boa lição para os governos europeus, hoje de maioria conservadora, e também, para as instâncias da governança mundial que queria impor-lhes medidas de austeridade. Tais medidas visavam acima de tudo salvar o capitalismo financeiro, a falência dos bancos e não propor uma política alternativa de desenvolvimento para a Grécia.

O que assistimos nesses últimos dias foi o retorno da comédia antiga que se caracterizava por intrigas na vida da Polis. Os adeptos do neoliberalismo europeu tentaram criar uma tragédia grega com péssimos atores e Atenas desta vez não lhes serviu de palco! Os tecnocratas da união européia e chefes de governos europeus passaram a semana a previnir Alexis Tsipras que uma vitória do "não" seria expô-lo a sérias conseqüências. Sem exagero, a maioria conservadora fez de tudo para que o povo grego rejeitasse o Referendo, e terminasse enfraquecendo e retirando o governo de Alexis Tsipras do poder. Os adeptos do plano de austeridade organizaram uma rede de mentiras com a colaboração da grande mídia européia, pregaram a falência da Grécia em caso da resposta negativa. Obrigaram os bancos a fecharem, humilharam a classe média e os pobres, que diante de um calor infernal faziam filas diante dos bancos para retirar suas parcas economias. Ameaçaram a Grécia de expulsão da União Européia. Todavia, a pressão não surtiu efeito, o povo grego votou OIX - mais de 61% disse Não!

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Alexis Tsipras chegou no parlamento europeu de Strabourg com um imenso sorriso e foi aplaudido longamente. Primeiro falaram o presidente du Conselho europeu Donald Tusk, e Jean-Claude Juncker, o Presidente de la Comissão europeia. Em seguida foi dada a palavra ao Primeiro Ministro Alexis Tsipras. No seu discurso perante o Parlamento Europeu ele diz que seu povo não votou para sair da União Européia, os gregos votaram contra a austeridade imposta que vem causando pobreza e desemprego. Os efeitos das medidas de austeridade afetam uma grande parcela da população. Ele recorda que "10% dos gregos administra 56% da riqueza nacional. Ressalta que estes 10% foram os protegidos pelas medidas de austeridade". Ele aponta para a responsabilidade dos governos anteriores, que deram "autorização" a fraude fiscal, nepotismo e corrupção. Assim, ele explica que as reformas de seu governo pretendem realizar uma "justa repartição dos encargos". Diz ainda que seu país não pode continuar servindo de cobaia aos experimentos da austeridade européia. O plano de ajuda para a Grécia foi de 7,2 bilhões de Euros e esta soma não foi destinada ao seu governo, que está no poder há apenas 5 meses. Uma grande parte foi destinada a salvar os bancos gregos e europeus! Ele expõe o problema da insustentabilidade da dívida pública grega. E, diz ele, "estas soluções não pesam sobre os contribuintes europeus". "Nós não queremos que o ônus da dívida grega seja arcada pelos contribuintes europeus. Queremos um acordo que nos mostre um caminho para sair desta crise, com reformas e uma melhor repartição dos encargos".

Vale ressaltar que diante da enorme pressão mediática, a escolha do povo grego foi corajosa, ao contrario, o referendo não significava uma ruptura com a Europa, o que quer o governo de Alexis Tsipras é a volta aos princípios fundadores da Europa: a democracia, a solidariedade, o respeito mútuo e igualdade. Ou seja, nada mais que respeito ao pleno direito de escolha de seu povo.

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