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Juliana Santos Oliveira

Graduanda em Ciências Econômicas na Universidade Federal do ABC, Pesquisadora na área de Democracia, Desenvolvimento e Desigualdade

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A crise econômica vai matar mais que o coronavírus?

Existirão consequências econômicas e sociais. Pobres ficarão mais pobres, o desemprego irá subir e a fome aumentar. Mas tudo isso pode, e deve, ser amenizado por políticas econômicas estatais. Já a vida: ela é inestimável e deve ser a prioridade agora. Cogitar algo diferente disto é além de desumano, é ilógico

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Na última semana, através de falas do Presidente, de alguns ministros, empresários e pseudo-economistas tem circulado um argumento de que se a população continuar em quarentena, a crise que virá levará a morte de um número muito maior de pessoas do que o covid-19. Jovem pesquisadora que sou, decidi buscar dados, porque são eles que devem fundamentar nossos argumentos.

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Cheguei ao artigo "Life and death during the Great Depression", do Prof. José Granados do Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Michigan com a Profª. Ana Roux, do Centro de Epidemiologia Social e Saúde da População, da mesma Universidade.

Escrito em 2009, o artigo examina a evolução dos indicadores de saúde nos EUA durante a Grande Depressão (considerada a maior recessão do século XX).

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Para se ter noção da magnitude da crise, iniciada com o crash da Bolsa de NY em 1929, entre 29 e 30 o "crescimento" do PIB norte-americano foi de -9%. No ano seguinte o encolhimento (ou "crescimento negativo") foi de 6,5% e no posterior de 14%. As taxas de desemprego do período ultrapassaram 20% em alguns anos.

Entretanto, a respeito da mortalidade, os dados mostram que: "As recessões de 1921,1930-1933 e 1938 coincidiram com declínios na mortalidade e ganhos na expectativa de vida. A única exceção foi a mortalidade por suicídio, que aumentou durante a Grande Depressão, mas foi responsável por menos de 2% das mortes. As análises de correlação e regressão confirmaram um efeito negativo significativo das expansões econômicas nos ganhos em saúde."

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Sofisticando o argumento algebricamente, os dados foram colocados em um modelo de regressão que teve como resultado uma correlação NEGATIVA entre melhorias na saúde e crescimento do PIB e POSITIVA entre o aumento da taxa de desemprego com a melhora de saúde. Para os mais curiosos, os motivos para a piora de saúde em períodos de crescimento estão citados no artigo e não cabem a discussão desse post.

Por fim, os autores ainda citam uma segunda pesquisa, que analisa os efeitos potenciais do stress da Grande Depressão no útero das mães, com a hipótese de possíveis doenças posteriores no bebê: Não foi encontrada ASSOCIAÇÃO ALGUMA.

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Desta forma, mesmo que deixássemos de lado a humanidade, mesmo que fôssemos completamente insensíveis as vidas serem perdidas, mesmo que adotássemos o princípio utilitarista de "agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar", mesmo que vidas não fossem vidas, mesmo que tudo pudesse se resumir à números: o argumento ainda estaria incorreto. Crise econômica alguma expande a mortalidade de modo que possa ser comparada com a expectativa de infectados e mortos com o coronavírus.

De fato, existirão consequências econômicas e sociais. Pobres ficarão mais pobres, o desemprego irá subir e a fome aumentar. Mas tudo isso pode, e deve, ser amenizado por políticas econômicas estatais. Já a vida: ela é inestimável e deve ser a prioridade agora. Cogitar algo diferente disto é além de desumano, é ilógico.

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