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Leonardo Attuch

Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.

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A crítica de Lula ao Banco Central é correta, mas ele corre o risco de ficar falando sozinho

"Não parece haver no Brasil uma burguesia nacional disposta a abraçar um projeto de desenvolvimento", escreve Leonardo Attuch, editor do 247

Lula rebate presidente do BC: "Esse maluco sabe o que está acontecendo com o povo? É tempo de guerra" (Foto: ABr)
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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, votou no primeiro e no segundo turno da eleição presidencial com a camisa amarela da seleção brasileira. Até meados de janeiro, ele integrou um grupo de whatsapp chamado "ministros de Bolsonaro". Campos Neto é, portanto, indiscutivelmente um bolsonarista.

Como presidente do Banco Central, ele hoje mantém uma taxa básica de juros de 13,75% ao ano, o que equivale a um rendimento real de 8% ao ano, numa economia estagnada e sem inflação de demanda. Isso depois de ter baixado artificialmente a taxa de juros real para 2% ao ano, quando Jair Bolsonaro era presidente. A taxa brasileira, como todos sabem, é hoje a maior do mundo, o que representa uma evidente anomalia.

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Se isso não bastasse, o "independente" Campos Neto não cumpriu a meta de inflação nos dois anos em que esteve à frente da autoridade monetária. Em 2021, a meta definida pelo Conselho Monetário Nacional era de 3,75%, podendo chegar a no máximo 5,25%. Mas ela foi de 10,06%. Em 2022, a meta voltou a estourar. Ela era de 3,5%, podendo chegar a 5%. Mas a inflação chegou a 5,79%. Portanto, Campos Neto também não pode alegar absoluto acerto pelas decisões que tomou à frente do Comitê de Política Monetária. Em tese, o governo poderia até pedir seu afastamento por incompetência técnica.

Foi neste contexto que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais uma vez redobrou suas críticas ao presidente do Banco Central. Nesta segunda-feira, 6, Lula classificou como uma "vergonha" a taxa de juros brasileira e as razões alegadas pelo Banco Central na ata do Copom para defender a tese do arrocho monetário numa economia estagnada – o que contraria todos os manuais econômicos. Mais do que isso, Lula pediu apoio aos empresários para que se manifestassem contra a taxa de juros – exatamente como faziam quando o Banco Central não era independente e estava subordinado à presidência da República.

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Ocorre que, quase 24 horas depois da fala de Lula, nenhum empresário de peso se manifestou. Por que será? A realidade é que o Brasil não parece dispor hoje de uma burguesia disposta a abraçar um projeto de desenvolvimento. A maioria dos grandes empresários brasileiros hoje mantém negócios que se equilibram ou até são lucrativos, mas o que realmente multiplica seu capital é o rentismo, que transfere uma parcela majoritária do bolo tributário para o chamado 'andar de cima', sem nenhum esforço. Apenas em 2021 e 2022, os excessos de Campos Neto à frente do Banco Central custaram R$ 410 bilhões a mais para o Tesouro Nacional, como demonstrou o colunista Jeferson Miola.

Estes números fazem do Brasil o paraíso do rentismo e do capitalismo parasitário. E o mesmo Banco Central que arrebenta as contas públicas alega que não reduz os juros porque o Ministério da Fazenda não fez o seu dever de casa no campo fiscal. Se isso não bastasse, toda a mídia comercial brasileira é controlada por grandes rentistas e, sempre que Lula mira na direção correta, ele é contra-atacado pelos analistas econômicos com argumentos a respeito dos efeitos colaterais de suas falas: aumento da taxa de juros futura e desvalorização cambial.

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Lula poderia eventualmente se calar e jogar a toalha na guerra contra o Banco Central, mas ele não resolveria o problema que representa a maior ameaça ao seu governo. Se Campos Neto efetivamente estiver sabotando o seu governo, como parece estar, a economia brasileira corre o risco de apresentar um desempenho pífio nos próximos anos. E a imprensa que tolerou a mediocridade dos anos Temer/Bolsonaro, com média de crescimento ao redor de 1,5% ao ano, rapidamente se levantará contra o 'pibinho' de Lula 3. 

Oxalá Lula consiga arregimentar apoios externos em sua luta contra a taxa de juros extorsiva. Mas, caso não consiga, ele ao menos já terá indicado as causas de um eventual desempenho abaixo do esperado nos próximos anos.

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