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Jaime Amparo Alves

Jornalista, doutor em Antropologia Cultural com foco nas relações raciais, políticas de segurança e violência espacial no Brasil e na Colômbia. Professor de Estudos Negros na Universidade da California, Santa Barbara

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A degradação moral da oposição e a autofagia petista

Se é verdade que o “pacto social” de Lula da Silva beneficiou a gregos e troianos, ele também empobreceu o debate político, “marinando” parte da sociedade em um discurso conservador de concertação nacional

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Credita-se ao general prussiano Carl von Clausewitz a famosa frase, "a guerra é a continuação da política por outros meios". Se estivermos de acordo com essa assertiva, não será novidade o aumento da artilharia tucano-midiática contra o governo da presidenta Dilma Rousseff e contra o Partido dos Trabalhadores. Previsível. O que chama a atenção no atual debate é a desumanização total da oposição. De Marina Silva a Aécio Neves, a oposição ao governo defendeu as ilegalidades pepetradas por Joaquim Barbosa na ação penal 470 e condenou as manifestacoes de solidariedade aos dirigentes petistas presos. 

O PSDB também se uniu ao coro das denúncias de suposto uso de celular por José Dirceu na prisão, e mesmo depois das inúmeras medidas protelatórias, o Partido se mantém imbatível em sua insensibilidade. Mais recentemente, deputados do PSDB e PPS, membros da Comissao de Direitos Humanos (sic!) da Camara visitaram o ex-ministro, na Papuda, para disseminar um discurso de raiva contra um homem já publicamente linchado pela mídia. O PSDB quer mais. Aécio Neves se junta a Paulinho da Força, em ato público, na defesa da prisão da presidenta Dilma Roussef. 

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Nem Eduardo Azeredo nem Pimenta da Veiga. Os rumos da Ação Penal 470 são, eles mesmos, um diagnóstico cruel da pobreza moral e falência ética do PSDB. A oposição se apequenha e se desumaniza em um ódio contra adversários políticos tratados como inimigos mortais. Perde a chance de exercer a nobreza humana e a coerência com os valores que supostamente defendem. Que os partidos políticos à esquerda do PT tenham silenciado sobre as arbitrariedades da AP 470 também demonstra a reduzida compreensão entre adversários políticos e inimigos.   

E a mídia? Ah... o PT nutre um amor patológico pela mídia corporativa. É a síndrome de Estocolmo, em que o sequestrado se apaixona pelo sequestrador, como eu já disse em texto anterior aqui em Brasil 247. A mídia grande nutre um ódio mortal pelo ex-presidente Lula e pelo PT, em que pesem a enchurrada de anúncios oficiais, o pagamento de juros camaradas para o capital especulativo, a vista grossa às dívidas milionárias com a receita federal.... É um crime político a omissão dos governos Lula e Dilma sobre um assunto tão caro à esquerda brasileira: a concentração dos meios de comunicação. Talvez, aconselhados por Paulo Bernardo (o amigo da Globo), Aloysio Mercadantes (o bajulador da Folha de S. Paulo) e alguns outros, o PT acredite que seja possível um pacto com a midia corporativa.  

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Talvez aí esteja a explicação, por exemplo, para a renovação de um contrato de revistas “Escola”, ás vesperas do ano-novo de 2014, com a feroz editora Abril. Talvez aí também esteja a explicação para o governo manter intocáveis os anúncios ( “critérios técnicos”?) em jornais e revistas como Folha de S. Paulo, O Estadao, Veja, Época...,mídias em declínio absoluto como mostrou as pesquisas de mercado encomendadas pelo próprio governo. A mídia quer mais e um quarto mandato petista não está em seus planos.   A Agencia PT de Notícias, concebida como uma resposta ao massacre midiático atual e´ o exemplo cabal da ausência de uma estratégia comunicacional no PT e no governo. Um site feio, anacrónico e sem sentidos, que só a militancia fiel vai acessar. Ou se o leitor preferir, o PT quer rezar missa para padre. 

Poderíamos facilmente acrescentar outros exemplos aquí, como a ausência de uma estratégia governamental de comunicação com os brasileiros sobre os recursos dos royalties do petróleo (quem sabe o que e´ isso?) para a educação. Quais são as projecoes para os próximos anos? Qual a estimativa de repasse para meu municipio? Se a Polícia Federal e´ um órgão do governo federal, por que os ministros da Justica e CGU não aparecem em cadeia nacional para explicar (e defender) as operacoes? Na ausência de paternidade no combate a corrupção, e´ a mídia quem faz esse papel reivindicando para si as acoes do governo.   

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Lula tem razão em afirmar que os seus adversarios critícam o PT por suas virtudes, não por seus defeitos. Então as críticas cabem aos “amigos” do PT. O Partido se auto-devora em uma espécie de autofagia política. Por um lado, não tem coragem de enfrentar o debate sobre a concentraão  dos meios de comunicação, mas persegue as rádios comunitárias e investe milhoes em propaganda e contratos com seus maiores algozes. Por outro lado, ao contrário da Venezuela, de Chaves, e da Bolivia, de Morales, o PT acredita que pode e deve governar sem o povo. Em visita recente a Bolívia, não pude deixar de ver nas ruas a militancia do MAS (o partido de Evo Morales) pautando o debate, discutindo os projetos políticos, formando uma opinião pública alternativa ao discurso da mídia. A Misión Barrio Adentro, na Venezuela, nao leva apenas mais médicos e mais educaão para as barriadas da grande Caracas. O programa se converteu também em espaco estratégico para rediscutir o país, ler o Capital, forjar novas alternativas revolucionárias. 

Se é verdade que o “pacto social” de Lula da Silva beneficiou a gregos e troianos, ele também empobreceu o debate político, “marinando” parte da sociedade em um discurso conservador de concertação nacional. Quem é esse sujeito político, a “nova classe média”? O PT não antecipou que muitos dos milhoes de individuos beneficiados pelas políticas de crédito fácil, de acesso a universidade, entre outros, assumissem também eles (por que não?) os valores de uma classe média raivosa que nas palabras de Marilena Chauí é abominável do ponto de vista político, ético e cognitivo. Que não me interpretem mal. Programas como o Bolsa-Familia e o ProUni são a milésima parte do que a sociedade e o Estado brasileiro devem aos pobres. Deixemos para o PSDB e sua turma o discurso perverso que mede os programas sociais como gastos supérfluos e considera os beneficiários do programa como ignorantes políticos. 

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Eles são, na verdade, agentes políticos que estão eles próprios mudando o Brasil, como mostra a distribuição geográfica do voto presidencial nas três últimas eleicoes. Mas a ausência de uma estratégia petista para a “nova classe média” dá uma dimensão do porquê da surpresa com boa parte das manifestacoes de junho de 2013, e pode ajudar a entender a dificuldade que se avizinha no cenário eleitoral de 2014. A surpresa também evidencia o calcanhar de aquilles do PT: indisposto a questionar os pressupostos do capital, o PT quer simplesmente incluir os pobres na sociedade de consumo, um modelo de sociedade suicida. Que pobreza de imaginação política! 

O PT deveria aprender de Fernando Henrique Cardoso. Ele deu um xeque-mate ao seu partido: ou o PSDB toma um banho de “povo” ou vai ficar para sempre na oposição. Essa é uma tarefa quase impossível, dada a vocação anti-povo, anti-negros, anti-classe trabalhadora da Social Democracia brasileira. Mas o conselho não é tão sem sentido e oxalá o PT leve a sério, pelo menos (e tão somente) desta vez, as palavras do presidente-sociólogo.  Ou o PT governa com o povo, ou será oposição. 

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