A demissão de Daniela Lima representa a democracia em vertigem contra os interesses da classe dominante
Crítica ferrenha do bolsonarismo, Lima ganhou notoriedade e reconhecimento nacional, atuando com protagonismo no cenário político, econômico e social
Na última segunda-feira (04), a jornalista da GloboNews anunciou, em suas redes sociais, sua demissão da emissora. O comunicado colocou em discussão se há jornalismo independente, verdadeiro, sem amarras ideológicas.
A TV Globo, como toda grande empresa capitalista, segue a cartilha liberal, em que os interesses da classe dominante são preponderantes. Existe uma utopia, um romance cantarolado pela própria burguesia, que tenta mostrar uma certa ingenuidade, um universo paralelo, que o seu produto midiático mostra como mecanismo da indústria cultural, em suas peças, pessoas negras, movimento LGBTQIA+, um identitarismo pujante, a arte, a força da cultura brasileira, suas novelas, filmes, a defesa da democracia.
Todo esse viés massificado repercute em conservadores, reacionários, bolsonaristas, a narrativa de um pensamento mais progressista. A primeira impressão, a falsa sensatez, é que a emissora carioca tem um lado. Mas, nas entrelinhas, o elitismo, o controle do pensamento através de um jornalismo amarrado às ideias da classe dominante, o liberalismo.
Tudo se define com a linha editorial da emissora. A demissão de Daniela é flagrante de um jornalismo pobre de conteúdo que se alinha com o mercado financeiro, seus interesses, suas oligarquias. Se fazer uma análise crítica do câncer sistêmico que transformou o bolsonarismo no país em uma espécie de Apocalypse Now, a fala contra esses “abutres” já virou senso comum. Por outro lado, a crítica contra o mercado, contra Trump, contra acionistas “saqueadores do próprio país”, virou crime mortal para editores.
É nesse senso de democracia em vertigem que o país ocupa um espaço polarizado entre um sistema institucionalmente equivalente. Mesmo o autoritarismo instrumentalizado pelo bolsonarismo não teve força para lutar contra o próprio capitalismo, projeto defendido pela direita e extrema-direita, categoricamente.
Bolsonaro ruiu pelo discurso, pelo projeto autoritário de ataque às instituições, pelo desastre nas ações contra a maior tragédia da história — a política genocida da Covid-19, que vitimou mais de 700 mil brasileiros — e pelo golpismo contra ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e ameaças contra o presidente Lula (PT) e Geraldo Alckmin (PSB).
O imperialismo de outrora, firmado por Trump e seus correligionários, só aprofundou a cultura do “soft power”, que, ao contrário da idealização do “American Dream”, mostrou as raízes obscuras do colonialismo selvagem e cruel dos estadunidenses sobre o controle do mundo através das vias da guerra, armamentismo, ódio contra os ditos “periféricos”, sanções etc.
A indústria cultural que fomenta uma pseudo-democracia apenas reproduz os interesses da classe dominante, a elite. A demissão de Lima é o reflexo de uma ideia massificada de poder, de quem manda e quem obedece. O coronelismo está alinhado aos conservadores, de gente que explorou, matou, enriqueceu-se à custa do sangue de trabalhadores e povos originários.
Entre a linda e famigerada diplomacia, em que liberais gritam por um diálogo abstrato, por uma luta inexistente, a resistência de jornalistas sérios que trabalham pela coerência é colocada em xeque, por analisar criticamente um cenário amplamente controlado por um pensamento global de total financiamento da burguesia do planeta.
A GloboNews ascendeu à direita e extrema-direita desde os áureos tempos da ditadura. Reconheceu suas falhas, mas não aprendeu com o passado. Continua ouvindo acionistas da Faria Lima, “entreguistas do Brasil”, para perpetuar a ideia de que a social-democracia está conspirando contra o país com o fantasma do comunismo, ao se alinhar com a China — um pensamento próximo à insanidade mental que só reproduz a hegemonia estadunidense nos modus operandi do mundo.
Lima e tantos outros sofrem, morrem, por uma falta de liberdade moral, de jornalismo genuíno, puro e verdadeiro, em que os interesses da classe trabalhadora são sucumbidos para um aparelhamento mental da burguesia contra a sobrevivência do pensamento crítico e resiliente de uma minoria cada vez mais oprimida.
Daniela Lima, atual contratada pelo portal UOL, teve passagens pela CNN e pela GloboNews. Uma crítica ferrenha do bolsonarismo, Lima ganhou notoriedade e reconhecimento nacional, atuando com protagonismo no cenário político, econômico e social.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

