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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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A democracia de cabeça erguida: o mundo aplaude

Na melhor das hipóteses, que tentem ganhar as próximas eleições, mesmo que lhes pareça improvável. Mas anistia, não. A Constituição e o povo não admitem

Jair Bolsonaro, em prisão domiciliar, em Brasília - 14/08/2025 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

Poucos são os momentos em que, de fato, entramos no ritmo do mundo – ou o mundo entra em nosso ritmo. Aconteceu agora, com os processos do 8 de janeiro e o julgamento de Jair Bolsonaro. Isto por que, aqui ou alhures, há uma onda de crescimento da extrema direita, à espreita para tomar o poder por vias eleitorais ou de força. Já vimos anomalias semelhantes provocarem tragédias e guerras na humanidade. Daí a importância de acompanhar os efeitos de sistemas judiciais com capacidade para avaliar comportamentos, infrações constitucionais e artimanhas cívicas, cerceando-os sempre que necessário. É como se não pudéssemos nos dar ao luxo de repetir o passado, quando nazifascistas dominaram a política e provocaram sofrimentos e dramas de todo tipo. 

Guardadas as devidas proporções, não é impossível dizer que o Brasil parou para tomar conhecimento das longas e extenuantes argumentações de advogados em defesa de seus clientes. Mostra-se fácil prever resultados. Como consequência, ao lado da opinião unânime da imprensa, dentro e fora do país, adeptos daquela gente se unem para pedir perdão pelos malfeitos e salvo-condutos para não cumprir penas. A gritaria cresce, mas não ensurdece, funcionando, ao mesmo tempo, como contraste para os que, ao contrário, aplaudem a condução dos trabalhos. As pressões em favor da impunidade não logram superar as satisfações em sentido contrário, quando a sociedade se recorda dos elogios do Ex aos torturadores e aos mortos da Covid-19, em meio aos palavrões com que geria as causas da administração pública. As bravatas de antes e as covardias de hoje não recomendam benevolências. Cansamos de constatar como a falta de empatia prevaleceu durante quatro anos, convivendo com a arrogância em fórmulas exatas do que, acima de tudo, doravante, devemos evitar nas nossas lideranças.  

Enquanto isso, o mundo admira a capacidade que demonstramos na chefia política para respeitar criteriosamente o equilíbrio dos poderes e impedir que, a nenhum pretexto, exageros transbordem de um lado para outro. Pressões externas (em particular dos Estados Unidos) batem numa parede invisível de resistência e não afetam, verdadeiramente, o ânimo dos juízes. Doa a quem doer, as iniciativas judiciais prosseguirão dentro de cursos estabelecidos e nada as interromperá. Não é sempre, sem dúvida, que um modelo democrático se ergue e estampa a dignidade de suas determinações, seja qual for o tamanho de seus adversários.

Com tal fato histórico, o passado, repleto de negociações e indultos aos golpistas, para não mencionar as intentonas com que tivermos de lidar, diminui de intensidade. Algo dentro de nós afirma que já não poderemos ceder. Deputados e senadores, apesar de seus quadros extremistas, devem entender que não é momento para impedir a condenação dos acusados. Na melhor das hipóteses, que tentem ganhar as próximas eleições, mesmo que lhes pareça improvável. Mas anistia, não. A Constituição e o povo não admitem. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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