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A democracia e seus salvadores da pátria

"Em 36 anos na política, Ciro passou por sete partidos: PDS, PMDB, PSDB, PPS, PSB, PROS e PDT. Parece que seu projeto pessoal sempre se sobrepôs ao coletivo. Por que ele não construiu um partido para dar a plataforma política que ele prega agora? O que é mais importante pra ele, o líder ou o partido?", questiona o colunista Florestan Fernandes Júnior, que integra a rede de Jornalistas pela Demcoracia

A democracia e seus salvadores da pátria (Foto: REUTERS/Paulo Whitaker)
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Por Florestan Fernandes Júnior, Jornalista pela Democracia “Precisamos dar ao jovem brasileiro uma plataforma em que ele não precise de um salvador da pátria, de um guru, de um líder carismático que, preso, de dentro da cadeia, fica mandando recado. ” Esta frase foi pinçada de uma entrevista que Ciro Gomes me concedeu no início de janeiro e que foi publicada no El País. A entrevista causou polêmica pelas críticas pesadas contra Lula e o PT. Trechos do vídeo, os que falam em corrupção, estão sendo usados nas redes sociais até pela extrema direita.

Em 36 anos na política, Ciro passou por sete partidos: PDS, PMDB, PSDB, PPS, PSB, PROS e PDT. Parece que seu projeto pessoal sempre se sobrepôs ao coletivo. Por que ele não construiu um partido para dar a plataforma política que ele prega agora? O que é mais importante pra ele, o líder ou o partido? Todos sabem que numa democracia o mais importante são os partidos, as propostas que devem ser defendidas por todos, dos filiados aos mais altos cargos da vida política. Mas no Brasil nunca foi assim. Os períodos chamados democráticos sempre viveram de nomes, Getúlio, Jucelino, Jânio, Brizola, Maluf e tantos outros. A crítica que ele faz a Lula é injusta. Goste ou não, o ex-presidente construiu sua carreira no sindicalismo, fundou sua legenda e continua nela até hoje. O PT tem militância, quadros políticos e apoio na sociedade organizada. Levou décadas p ara chegar ao poder pelo voto democrático. 

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Marina Silva, quando saiu do partido, também ergueu a bandeira da lisura na política e atacou seu antigos companheiros. Mas fez isso tentando construir um partido alternativo ao PT. A REDE só não vingou, muito mais pelas fragilidades da ex-ministra do Meio Ambiente do que por conta dos militantes ligados à defesa do verde. É no mínimo estranho, só agora, Ciro fazer tantos ataques ao PT. Precisou perder a terceira eleição presidencial. Se tivesse ganho com o apoio de Haddad será que faria tais criticas? É bom lembrar ainda que ele foi Ministro da Integração Nacional no primeiro governo de Lula. Seu irmão foi Ministro da Educação de Dilma, e Ciro foi nomeado em 2015 presidente da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) com um polpudo salário. Esperou exatos 15 anos pra ficar indignado com a corrupção que diz ter presenciado no governo q ue apoiou.  Verdade seja dita, nesse período ele sempre foi leal aos governos petistas. Uma lealdade incomum na política, ainda mais quando um nome nacional como o dele tenha ficado de lado na escolha da sucessão de Lula.  

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Sempre nutri uma grande admiração por Ciro, político que conheci como repórter quando ele já era governador de sucesso no Ceará. Foi ministro importante no governo de Itamar e de Lula. Foi ele que tocou o projeto inicial da transposição do rio São Francisco. Obra fundamental para levar água a parte do sertão nordestino. As milhões de pessoas que saíram as ruas na campanha do #EleNão, ficaram surpresas quando Ciro virou as costas e foi embora pra Europa depois de perder a eleição sem apoiar Haddad. Uma decepção ainda maior para muitos dos que votaram nele mesmo não se identificando com suas propostas  e seu partido político de ocasião. Eleitores que acreditavam na possibilidade de Ciro bater Bolsonaro num segundo turno. Concordo com muitas das criticas que Ciro fez ao PT. Aliás, faz tempo que o partido dos trabalhadores deveria ter feito uma profunda autocritica. E se continuar não fazendo vai ter problemas para sobreviver. Agora, um líder da dimensão de Ciro se omitir num momento crucial da nossa história é algo imperdoável.

Certa vez, FHC me disse que não entrou no PT, partido que surgiu de discussões que ele próprio participou no início dos anos 80, por que aos 50 anos de idade ele não teria tempo para esperar o PT se tornar um partido de massas. Ele só deixou o PMDB por causa de divergências morais com o então governador Orestes Quércia. Em 1991, em pleno governo Collor, o então senador Fernando Henrique me disse que iria abandonar a política pois o PSDB tinha perdido as eleições. Por conta disso, ele previa dificuldades até para se eleger deputado federal. Quis o destino que Collor fosse afastado e seu vice, Itamar Franco assumisse. Sem quadros para governar, Itamar convidou boa parte dos tucanos para os cargos mais importantes. Com o sucesso do Real e com a máquina do governo federal nas mãos, o jovem PSDB se firmou com apenas dois anos. Coisa rara na política. 

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Ciro também não tem mais tempo para construir um grande partido de massas para se lançar presidente. Dificilmente ele terá a mesma sorte que FHC. O PMDB levou 21 anos pra chegar a presidência, já o PT 23 anos. Mas

Ciro tem experiência de sobra, inteligência e boas ideias para construir uma base partidária para fazer a diferença. Mas, para isso, terá que correr o risco de nunca ser presidente da República. A não ser que ele se transforme naquilo que mais critica, um salvador da pátria como foram Jânio, Collor e agora Bolsonaro. Ciro hoje não tem sequer partido para liderar a oposição como pretende. O PT ainda é a maior legenda da Câmara Federal e o partido com mais governadores eleitos, quatro.

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Também não acredito que PT terá um caminho fácil pela frente. Ele representa junto com o PSDB o passado, páginas viradas de uma democracia de coalizão que vive sua noite de horrores após a vitória do terceiro falso salvador da pátria. Os 47 milhões de eleitores que votaram em Haddad vão ter que passar pelo purgatório por conta da falta de união dos candidatos de centro e centro esquerda. Haddad chegou a propor antes do segundo turno um governo compartilhado com Ciro, Marina e Alckimin. Mas eles preferiram se resguardar e proteger seus cacifes eleitorais. 

Mas sou otimista, nosso povo saberá resistir ao fascismo. Como dizia meu pai, a vida é feita de marés. Estamos na baixa, mas logo mais vem a alta. Que assim seja. Que venham as marés e tragam com elas novas formas de se fazer política.

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