A Democracia em jogo: Um alerta a partir da experiência do regime bolsonarista
O caso Bolsonaro é um estudo de caso que deveria ser ensinado a todas as gerações
A democracia, para muitos de nós, parece um dado adquirido. Nascemos e crescemos sob a sua promessa: o direito de escolher nossos governantes, a liberdade de expressar nossas opiniões e a garantia de que a lei vale para todos. No entanto, os recentes acontecimentos no Brasil, a partir da experiência bolsonarista, servem como um alarme estridente. A democracia não é um estado permanente; é uma construção diária, frágil e que exige vigilância constante.
O que as investigações sobre o governo Bolsonaro revelam é um retrato assustador de como o poder pode ser usado para minar as próprias fundações do sistema democrático. Não estamos falando de meras disputas políticas ou de divergências ideológicas, que são saudáveis e esperadas em uma sociedade plural. Estamos falando de um suposto plano meticuloso para anular o resultado de uma eleição legítima. Falamos de alegações sobre o envolvimento de altas patentes militares em tramas para se manter no poder a qualquer custo e de planos para perseguir e até mesmo eliminar opositores políticos e membros do judiciário.
Quando a contestação de uma eleição deixa o campo dos recursos legais e passa para a articulação de um golpe, com propostas de decretos de estado de emergência e discussões sobre o uso da força, a linha vermelha da democracia é cruzada. A defesa de Bolsonaro, que alega estar explorando “vias dentro da Constituição”, soa como um eufemismo perigoso. A Constituição não é um cardápio do qual se escolhem apenas as partes que interessam, ignorando os seus princípios fundamentais, como o respeito ao voto e à alternância de poder. Usar a Carta Magna como pretexto para justificar ações que visam destruí-la é a mais cínica das estratégias.
O episódio que culminou na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 não foi um ato isolado de vândalos. Foi o clímax de um longo processo de deslegitimação das instituições, de ataques à imprensa, de flertes com a ditadura e de um discurso de ódio que envenenou o debate público. A responsabilidade por esses atos não pode ser diluída. Ela recai sobre aqueles que, do mais alto cargo da República, insuflaram seus apoiadores contra o próprio sistema que os elegeu.
A defesa da democracia, portanto, não é uma bandeira de um partido ou de uma ideologia. É uma obrigação de todos e todas. Exige que a justiça seja firme e exemplar na punição daqueles que atentam contra o Estado de Direito, independentemente de seu cargo ou popularidade. A impunidade é o adubo que alimenta futuras tentativas golpistas.
O caso Bolsonaro é um estudo de caso que deveria ser ensinado a todas as gerações. Ele nos mostra que a democracia morre não apenas com tanques nas ruas, mas também com mentiras repetidas nas redes sociais, com o descrédito das urnas eletrônicas sem provas, com a intimidação de juízes e jornalistas e com a normalização do absurdo.
Defender a democracia é defender a verdade, o diálogo, o respeito às regras do jogo e, acima de tudo, o poder do voto. Não podemos, jamais, nos dar ao luxo de esquecer essa lição.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

