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Raimundo Bonfim

Coordenador nacional da Central de Movimentos Populares (CMP)

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A direita e as elites não querem o impeachment de Bolsonaro

"A questão que se coloca para a continuidade das mobilizações é a seguinte: como fortalecer o movimento Fora Bolsonaro, e desde uma perspectiva de esquerda, ou seja, em defesa dos direitos sociais e em contraposição à agenda neoliberal que unifica a direita tradicional e a extrema direita bolsonarista", escreve Raimundo Bonfim, do movimento nacional Fora Bolsonaro

(Foto: Paulo Pinto - Agência PT)
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Por Raimundo Bonfim

As mobilizações de rua de 2 de outubro, mais uma vez, reafirmaram a força e a capilaridade da Campanha Nacional Fora Bolsonaro. Os protestos alcançaram 300 municípios, com manifestações em todas as capitais e participação de cerca de 700 mil pessoas. Não foi a maior manifestação, como esperado, porém manteve-se o mesmo patamar dos atos organizados desde 29 de Maio.   

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Tanto setores da esquerda, quanto da direita e da própria mídia, desde 29 de maio, data da primeira grande mobilização pelo Fora Bolsonaro, argumentavam que era necessária uma articulação com setores da direita, única condição para transformar a mobilização de milhares em milhões, e com isso pressionar os deputados, especialmente o presidente da Câmara, Arthur Lira, a instalar o processo de impeachment.    

A Campanha Fora Bolsonaro, espaço que congrega mais de 100 entidades de movimentos populares, sociais e partidos de oposição, responsável pelos protestos anteriores, fez uma aliança para o dia 2 de outubro com o fórum dos partidos de oposição na Câmara dos Deputados e com o movimento Direito Já, que articula figuras de partidos de direita.  

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Esta articulação foi muito impulsionada por dois fatores: dar uma resposta aos atos golpistas no dia 7 setembro, que reuniram milhares de fanáticos e grupos fascistas e de extrema-direita, numa espécie de preparação para o nosso Capitólio, interrompido dois dias depois com a carta redigida por Temer e denominada Declaração à Nação, divulgada por Bolsonaro no dia 9 de setembro; o segundo foi o fiasco retumbante dos atos convocados pela direita (MBL e Vem Pra Rua) para o dia 12 de setembro. Até o dia 7 de setembro o mote da convocação da direita era nem Lula, nem Bolsonaro, ou seja, a preocupação não era o impeachment e sim a tentativa de impulsionar um nome da chamada terceira via, numa tentativa desesperada de evitar a vitória de Lula nas eleições de 2022. Por isso, poucos setores da esquerda compareceram nos atos do dia 12.   

A novidade é que ampliamos o arco de alianças para os atos de 2 de outubro, não só com os partidos de oposição (PT, PC do B, PSOL, PSB, PDT, REDE, PV, Cidadania e Solidariedade), somados o PSTU, UP e PCB, mas também com o movimento Direitos Já, que prometera mobilizar setores da classe média não vinculados à esquerda e aos movimentos populares, com a participação de figuras da direita liberal, como ex-ministro de Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta, do DEM (base de apoio institucional de Bolsonaro) e o neoliberal João Amoedo, do Novo, entre outros. Eles não compareceram, alguns mandaram apenas vídeos. Ou seja, Bolsonaro, com ajuda do golpista Temer, deu um golpe na direita liberal, que flertou por dois dias com o impeachment, para em seguida normalizar as condutas criminosas do genocida e lhe apoiar firme até as eleições em outubro de 22.       

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A ampliação não resultou em maior participação nos atos, tampouco acrescentou adesões de novos segmentos em prol do impeachment. Ou seja, a direita não se mobilizou pelo Fora Bolsonaro nem mesmo depois da tentativa de golpe no dia 7 de setembro. A maioria esmagadora dos atos era do povo vinculado a partidos de esquerda, do campo progressista e de militantes dos movimentos populares e sociais organizados.  

Assim, o dia 2 de outubro deixa duas lições para os integrantes da Campanha Fora Bolsonaro: seguimos com consistência e força social; e não será com a direita que vamos ampliar nossa incidência política. É algo extraordinário fazer seis grandes protestos em quatro meses em plena pandemia, pois o risco de contaminação pelo vírus da Covid-19 permaneceu forte no final de setembro, mesmo com o avanço da vacinação.   

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O 2 de outubro também mostrou que o desejo de uma frente ampla para conseguir o impeachment de Bolsonaro, defendido por setores da esquerda e da mídia tradicional, esbarra nas forças de direita e não na esquerda. A direita não-bolsonarista não convocou para os atos, para atestar isso basta uma rápida pesquisa nas redes sociais de suas principais lideranças. O silêncio indica que a tão prometida participação não passa de uma disputa política travada pela direita liberal, incluindo os meios de comunicação, para dividir a esquerda e construir uma alternativa eleitoral em favor dos interesses do capital.  

Portanto, a questão que se coloca para a continuidade das mobilizações é a seguinte: como fortalecer o movimento Fora Bolsonaro, e desde uma perspectiva de esquerda, ou seja, em defesa dos direitos sociais e em contraposição à agenda neoliberal que unifica a direita tradicional e a extrema direita bolsonarista.  

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Não há consenso sobre isso. Alguns defendem que para ampliarmos o movimento temos que abandonar a pauta social e nos unirmos apenas em torno da bandeira da democracia, ou seja, pelo Fora Bolsonaro e o impeachment; outros avaliam exatamente ao contrário, argumentam que o mote Fora Bolsonaro só avança com uma estreita vinculação com os reais problemas enfrentados pelo povo e relacionados com a agenda neoliberal, tais como: inflação, carestia dos alimentos, desemprego, falta de renda, moradia, aumento das contas de água, energia, gás de cozinha, gasolina e aluguel, dentre outros.  

Defendo esta última posição, pois é ela quem dialoga com a única força capaz de derrotar o bolsonarismo e o neoliberalismo: as classes trabalhadoras.  

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Sabemos que os entraves são muitos, a começar pelo descrédito institucional decorrente de um Congresso Nacional incapaz de afastar o presidente da República mesmo diante de tantos crimes cometidos, devido à aliança promíscua de Bolsonaro com o centrão, os banqueiros, os militares e o agronegócio. Além disso, o cenário eleitoral fica a cada dia mais difícil para Bolsonaro, o que leva muitos a apostar numa saída centrada nas eleições de 2022.  

Qualquer que seja o desfecho da jornada de mobilizações liderada pela Campanha Fora Bolsonaro nos últimos quatros meses, o saldo já é extremamente positivo e vitorioso, pois retomou dos bolsonaristas o protagonismo das mobilizações de ruas, mostrou para a esquerda partidária que é um erro fazer oposição apenas no parlamento, que é imperioso valorizar e priorizar o trabalho de formação política, educação popular e organização de base nos territórios.  

Após o fracasso da participação da direita nos atos do dia 2 de outubro, não há motivo para acreditar na construção de um ato de caráter amplo do dia 15 de novembro. Para mobilizarmos milhões, seja para derrubar o Bolsonaro por ações de ruas, seja para derrotá-lo no processo eleitoral e ter forças para garantir o respeito aos resultados, é preciso seguir nesse trabalho permanente de construção de forças em torno de um programa profundamente democrático, ou seja, que atrele a ampliação da participação popular no poder com a universalização de direitos, a garantia de emprego, renda e trabalho e o combate à desigualdade social.     

Para isso, o mais correto agora é a Campanha Fora Bolsonaro potencializar o 20N, Dia da Consciência Negra, reafirmando a intrínseca relação entre a luta pela democracia e a superação do racismo, o fim do genocídio nas periferias, do desemprego, da carestia e da fome, só possíveis com o fim do governo Bolsonaro e do neoliberalismo.  

Nossa luta contra o fascismo será longa e vitoriosa. Seguimos em marcha contra a barbárie e o autoritarismo. A história nos mostrará que estamos certos em lutar pela derrubada de Bolsonaro e que a burguesia brasileira é responsável por manter na Presidência da República um genocida que diariamente atenta contra a vida do povo brasileiro.  

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