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Ricardo Nêggo Tom

Cantor, compositor, produtor e apresentador do programa Um Tom de resistência na TV 247

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A dissonância cognitiva da cultura do estupro

Ao exaltar Bolsonaro, Robinho confirma o que já sabíamos. Os machistas, misóginos, racistas, homofóbicos, psicopatas e preconceituosos em geral, se sentem representados por ele

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O caso Robinho movimentou as redes sociais nos últimos dias. Após o Santos anunciar o retorno do jogador ao clube, as reações à contratação não foram das melhores. O jogador é condenado em 1ª instância por ter participado de um estupro coletivo na Itália, o que provocou a revolta das pessoas que ainda não perderam o juízo e a noção, nesse país onde a distopia e a distorção andam ditando o comportamento de boa parte dos cidadãos.

A pressão foi tanta, que os patrocinadores do clube exigiram que o negócio fosse desfeito. O clube, mesmo contra a vontade de seus diretores, se viu acuado e cedeu. Segundo o jogador, em comum acordo. A situação que já não era boa, piorou após uma matéria publicada no site do globo esporte, divulgando a transcrição de diálogos gravados durante as investigações do caso pela justiça italiana. Nas conversas, Robinho chega a dizer que não estava nem aí, porque a mulher estava tão bêbada que não se lembraria de nada.

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Em outro trecho do diálogo, ele é questionado por um músico que estava presente no local do crime, quanto ao fato de ele ter abusado da vítima em dado momento. No que o jogador responde que o seu ato não teria configurado uma “transa”. Outros detalhes mais sórdidos da conversa, não se faz necessário aqui reproduzir. Até mesmo em respeito às nossas leitoras do sexo feminino. O importante é reacendermos o debate sobre a cultura do estupro. O viés conservador e tradicional de tão sórdido ato, deve suscitar questionamentos. Um deles, é o estupro como construção social e expressão de poder e domínio de um gênero sobre o outro.

Mais do que o prazer sexual, a relação de domínio exercida pelo estuprador sobre a vítima, é uma característica própria do machismo e da misoginia. Há um tempo, grupo feministas levantaram a tese de que todo homem era um potencial estuprador. Eu e muitos outros homens, particularmente, nos indignamos com a comparação e julgamos absurda tal proposição, uma vez que nunca estupramos ninguém. Porém, caríssimos cuecas, precisamos considerar a cultura machista e permissivamente complacente com a nossa masculinidade primitiva, e, por vezes, t

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Até bem pouco tempo, o homem que agredisse fisicamente ou até mesmo assassinasse uma mulher em defesa de sua honra, poderia ser perdoado pela justiça. Decisão conservadora pautada pela tradição patriarcal da sociedade. Precisamos admitir que o nosso machismo precisa ser desconstruído diariamente, assim como todo e qualquer outro resquício de conservadorismo que ainda pontue discursos hipócritas de gente capaz de fingir ética na presença de todos e perder o caráter quando ninguém está por perto. O levante fundamentalista que tomou o país de assalto que nos diga.

Aceitar desculpas tão mirabolantes, quanto perversas, para justificar atitudes que apenas devem ser repudiadas, é seguir naturalizando a barbárie e a falta de civilidade. Em outro áudio vazado, o jogador Robinho culpa a imprensa pelo crime que ele cometeu. A Rede Globo, segundo ele, usa “coisas do demônio” para atingir a imagem de quem ela quer destruir. Até então, nunca tinha se ouvido falar em algum problema entre ele e a emissora. Ele ainda compara o seu caso à perseguição, na sua visão, imposta pela TV dos Marinhos ao presidente Jair Bolsonaro. Uma verdadeira ode a cafajestice e ao cinismo.

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Nesse mesmo áudio, o jogador também apelou para Deus, dizendo que o criador está o preparando para algo muito maior, depois desse “deserto” que ele está passando. Os ataques da Globo não o afetarão, “porque Deus está no controle de tudo” e ele agora só pensa em “blindar” a sua família de toda essa situação, porque elas são as pessoas que mais sofrem. Não, Robinho! Quem mais sofre com cada caso de estupro que vem à tona são as mulheres. Elas que relatam o pavor que sentem nas ruas, no transporte público e até no ambiente familiar. O lugar de fala nesse sofrimento é delas. Talvez, a sua esposa também já tenha sentido o mesmo em algum momento.

Tentar jogar a sua responsabilidade criminal, em cima da emissora que apurou a fundo o caso e o noticiou com detalhes que ainda não haviam sido divulgados, é típico de um abusador. Sexual e da inteligência alheia. A ideia não é promover um linchamento ao jogador. Embora seja quase inevitável que isso ocorra. Mas é imperativo que a sociedade grite, como fez, para que fique claro que a naturalização do absurdo não conta com o aval de todos. Ainda que estejamos sendo governados por uma facção conservadora e pseudo cristã, que adota a hipocrisia como regra de conduta.

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Ao exaltar Bolsonaro, Robinho confirma o que já sabíamos. Os machistas, misóginos, racistas, homofóbicos, psicopatas e preconceituosos em geral, se sentem representados por ele. Ele é a expressão máxima desses comportamentos na sociedade. O excludente de ilicitude que os canalhas precisavam para agirem legal e normalmente com o cafajestismo que lhes é peculiar e ainda poderem considerar errados aqueles que trazem à luz a distopia e a dissonância com a realidade refletidas na insanidade de suas práticas. Para tal, eles têm até um Deus particular que protege todos os seus maus atos, que os defende das mãos da justiça e que transforma em benção os crimes que eles cometem. A pastora Flordelis não me deixa mentir.

E assim, privados de sentido e coerência, estupradores, infanticidas, torturadores, assassinos, milicianos, feminicidas e todo tipo de gente desprovida de equilíbrio, seguem em paz aguardando um propósito desse “Deus” se cumprir em suas vidas. Quem sabe eles até serão “ungidos” para governar a nação um dia? E tudo aquilo que trouxer às claras o verdadeiro eu que os habita, é coisa do demônio. E eu pensando que coisa do demônio fosse exaltar a tortura, ignorar a morte de milhares pessoas durante uma pandemia e estuprar uma mulher bêbada. Em todo o caso, aguardemos o juízo final.

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