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Arnóbio Rocha

Advogado civilista, membro do Sindicato dos Advogados de SP, ex-vice-presidente da CDH da OAB-SP, autor do Blog arnobiorocha.com.br e do livro "Crise 2.0: A taxa de lucro reloaded".

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A doutrina Musk-Trump: o poder avassalador dos radicais de extrema-direita

A UE terá que se posicionar, em algum momento, vide a humilhação feita à Ucrânia, a falta de reação e de altivez frente ao que Musk-Trump estão a fazer

Elon Musk fala ao lado do presidente dos EUA, Donald Trump, no Salão Oval da Casa Branca em Washington, D.C., EUA - 11/02/2025 (Foto: REUTERS/Kevin Lamarque/Arquivo)

Donald Trump não enganou ninguém, menos ainda em 2025.

E essa é uma realidade que o mundo deve enfrentar por um período longo. Os ventos da extrema-direita vêm da Crise de 2005-2008, ali houve a morte simbólica do Estado de Bem-Estar Social, como perspectiva política e de modelo de Estado e de Democracia, depois de 70 anos de iniciado e que foi fundamental no pós-guerra para a luta ideológica frente à URSS e seus aliados, de certa forma, as enormes concessões e direitos aos trabalhadores foram resultados dessa luta do mundo bipolar, com suas grandes contradições.

A queda do muro de Berlim, em 1989, como símbolo da derrocada das economias e modelo político do leste europeu, abriu a possibilidade de que as políticas neoliberais, inauguradas com Reagan (Paul Volcker) e Thatcher, se tornassem modelo para um mundo sem a URSS, sem a polarização ideológica global, a vitória do capitalismo se impunha, os mais apressados chegaram a afirmar o fim da história e que a Globalização era o caminho único, nesse sentido, uma nova divisão social (mundial) do trabalho seria inaugurada, tendo a China como seu chão de fábrica e os EUA como o Império Romano Moderno.

Exatamente 16 anos depois, depois da crise dos tigres asiáticos (1997), da dívida russa (1998) e da bolha da internet (2000), começa um processo de uma crise de superprodução de capital no coração do império, que eclode em setembro de 2008, sacudindo o sistema financeiro dos EUA e atingindo a UE, todos os índices da economia estavam no seu pico e a realização de lucros comprimida de forma dramática, levou ao estouro e derrubou Wall Street, já o centro único das bolsas e da especulação pornográfica.

A recomposição do Capitalismo (da taxa de lucros) exigiu uma nova ordem mundial, uma ruptura radical de modelo, para além do neoliberalismo e pariu uma geração que não teve acesso aos benefícios generosos do Estado de Bem-Estar Social e foi ideologicamente formada para negar radicalmente o Estado, a Democracia e a Política. Os anos de 2010 e essa primeira metade da década de 20, fazem parte de uma disputa política-ideológica das mais profundas e desesperadoras para a maioria da humanidade.

Os estados nacionais em crise, foram esgotados para bombear recursos da maioria do povo para uma minoria cada vez mais rica e perversa, com a situação de perda de direitos sociais, trabalhistas e previdenciários, com situação caótica na Saúde e Educação, um bem privatizado, fora os serviços essenciais de saneamento, transportes, energia e comunicações. A recomposição da taxa de lucros pressupõe um aperto jamais visto pelos trabalhadores, expulsos dos empregos formais e vivendo da enorme uberização do trabalho e da vida humana. Pouco resta do Estado, exceto a repressão e forças de segurança, o que abriu espaço, inclusive, para o crime organizado.

Dessa realidade complexa e contraditória, o espaço público, do debate político e da necessidade de se discutir os rumos do planeta, o meio ambiente, a urgência climática, as garantias de vida e de direitos, foi ocupado pela extrema-direita, pelo desespero e pela confusão política, o que cria um verdadeiro estado de caos, sem esperança e sem sonhos. A distopia imposta pelas modernas formas de dominação ideológica, especialmente as redes sociais, seus algoritmos controlados pelo punhado de plutocratas que controlam a economia e as novas formas de gerenciamento do Estado,

A forma última e mais bem acabada desse novo tempo é representada por Musk-Trump, a fusão definitiva dos novos donos do poder econômico e que respondem diretamente pelo poder político, quase sem mediação nenhuma, um exercício direto de força e poder autoritário e que se propõe a destruir qualquer resquício de crítica, valores humanos e de consciência social, é a Barbárie em seu estado de graça, como poucas vezes vista na história.

Há polos de contradições, mas não de confrontos, como os dos BRICS, do poder econômico da China e do poder militar da Rússia, além da capacidade de alimentar o mundo liderada pelo Brasil e sua força verde, mas que ainda não se articulam para o que está por vir, o poder avassalador imposto pelos EUA. A UE terá que se posicionar, em algum momento, vide a humilhação feita à Ucrânia, a falta de reação e de altivez frente ao que Musk-Trump estão a fazer.

2025 parece ser um daqueles anos para ficar marcado na história, daqueles que não terminarão tão cedo, a conferir!

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.