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Daniel Quoist

Daniel Quoist, 55, é mestre em jornalismo e ativista dos direitos humanos

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A encruzilhada: Devemos temer Temer?

Michel Temer deve pensar bem, porque ele está num arriscado jogo de par ou ímpar. Só que nesse caso, se ele não agir rápido e de forma clara, sem suas habituais ambiguidades e sofismos, corre o risco de perder tanto optando pelo par quanto pelo ímpar

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A pergunta que não quer calar não é outra que a do título deste artigo.

Existem razões, e muitas, para que o país e, em especial, para a grande maioria da população brasileira que começa a olhar de soslaio, com o pé atrás, com certa desconfiança para os sinais ambíguos, pouco claros e menos ainda convencidos, emitidos pelo vice-presidente da República Michel Temer.

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Persistem, igualmente, amplas razões para dar um voto de confiança a Michel Temer e imaginar se ele está disposto a cair no velho canto da sereia política, essa que adoça nosso paladar ante a iminência de ter acesso ao principal cargo da República.

Vejamos algumas razões para não temer Michel Temer:

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1. Trata-se de um politico calejado, muitos e sucessivos mandatos conquistados nas urnas, em eleições limpas, transparentes e, sobretudo, conduzidas com legalidade em um Estado democrático de direito. Por que cargas d´água iria ele conspurcar sua biografia política, se ele atravessou o inteiro de ano de 2014 defendendo a lisura das eleições que o sagraram vitorioso, agora duplamente, na chapa da presidente Dilma Rousseff?

2. Trata-se de um jurista, bem verdade que não um jurista de nomeada como o são Dalmo de Abreu Dallari, Fabio Konder Comparato ou mesmo o mais jovem deles, Bandeira de Mello, Marcelo Lavenère, o promissor Wadih Damous. Mas Michel, tendo sido professor de Direito Constitucional, tem obrigação de saber que o presente pedido de impeachment que deseja sequestrar o mandato de Dilma Rousseff não se sustenta minimamente ante qualquer visão jurídica, ante qualquer cânone de ciência politica, por uma única razão - o impeachment foi acionado por um presidente da Câmara assolado por comprovadas denúncias de corrupção, colhidas tanto pelo Ministério Público da Suíça quanto por investigações em andamento conduzidas pelo Ministério Público brasileiro e por nossa Polícia Federal. A cada semana novas acusações caem sobre seus ombros e tisnam mais e mais uma biografia construída com tijolos da suspeição, com o cimento das transações nebulosas, com a cal da chantagem e a argamassa de achaques contumazes disparados contra a presidente Dilma Rousseff.

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3. Lançar-se numa aventura de destino incerto e inglório como como o é conspirar, implicita ou explicitamente para surrupiar o mandato presidencial em que ele próprio foi reeleito somente poderia ocorrer se não mais lhe restassem opções decentes e lídimas de se manter ao lado do direito que é bom, justo, líquido e certo que é o de se inssurgir com todos os meios e esforços ao seu alcance para se postar como defensor e guardião das Constituição Federal do Brasil.

4. Se o partido que ele preside - velho PMDB dos cargos e das sinecuras que parecem remontar ainda à assinatura do Tratado das Tordesilhas, vigente no Brasil Colônia - mas rachado como sempre,- com caciques de todos os calados e feitios afeitos a pisar no pescoço de quem quer que seja, para estar sempre aboletado junto ao Presidente da República do turno, seja direita, esquerda, centro-direita, centro-esquerda, direita radical, esquerda radical, de forma a continuar mandando e desmandando na República, nomeando e ´desnomeando´ ministros, influenciando na escolha de juízes de tribunais, emplacando seus quadros como presidentes ou diretores de gigantescas empresas de economia mista como a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o BNDES e outras mais, é certo que qualquer que seja o desfecho muita coisa virá à tona, coisas do arco da velha e de quando a velha era ainda menina-moça, ingênua e faceira no trato da res pública.

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5. À oposição - formada por um PSDB que desde as eleições de 2014 vem em destrambelhada corrida para ocupar o espaço político da direita, a mais furibunda, a mais retrógrada e a mais desavergonhada - e com partidos de direita que remontam ainda à UDN e depois à famigerada ARENA, passando pelo PDS, PFL e agora rebatizada como Democratas, cabe a essa Oposição apenas continuar sua marcha batida para arruinar o país, desacreditar suas instituições, desmerecer sua história de luta contra a ditadura militar, contra os violadores persistentes dos direitos humanos, e que favorecem tão-somente o capital especulativo, a banca financeira nacional e internacional, o patrimonialismo cínico e perverso. É com essa parceria que Michel Temer entende que será possível unificar o Brasil? Custa - e muito - acreditar nisso. Por isso, há de se dar um crédito de confiança ao vice-presidente e esperar que ele honre o mandato que conquistou como vice na chapa presidencial vitoriosa de novembro de 2014.

6. Seria muita ingenuidade imaginar que, mesmo na pior da hipóteses, se passar no Congresso Nacional o golpe urdido, planejado e posto em movimento em condições de clara penúria e desespero político por Eduardo Cunha e Aécio Neves, um governo Temer/Aécio/Paulinho da Força governaria com um mínimo de tranquilidade sem a contínua rejeição da sociedade e da população brasileiras, sem o irromper de numerosas ações legítimas das forças políticas populares e progressistas, organizadas com denodo pelo PT, PSOL, boa parte do PMDB, PDT, PSOL, PTB, boa parte da Rede e do PSB mais uma dezenas partidos nanicos e mesmo alguns governadores eleitos pelo PSDB em 2014. Resumo da ópera: se a oposição luta com unhas e dentes para invalidar os 54.000.000 de votos que elegeram Dilma Rousseff para conduzir o país até 2018, absolutamente sem motivações justas, nem minimamente legais, o que se deveria então esperar como reação dos que seriam vítimas do tosco e tacanho golpe? A resposta seriam tão-somente greves, manifestações, judicialização total e cabal da política e de todo e qualquer ato exarado pelo governo golpista. Nada e não menos que isto. E é a esse cenário que Michel Temer irá dar um fecho em sua biografia, entrar na história pela porta dos fundos, a da desonra política? Custa a crer, mas as ambições nublam a visão política e anestesiam pruridos tanto morais quanto éticos.

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Vejamos algumas razões para temer Michel Temer:

1. Eduardo Cunha está acossado, a um passo de encerrar de forma lastimável e vergonhosa sua até bem pouco tumultuada e bem sucedida carreira política. Se Cunha tem chantageado o Planalto como o faz à luz do dia, tem usado e abusado do poder destinado a quem preside a Câmara dos Deputados, tem agido ardilosamente para inviabilizar o pleno funcionamento do Conselho de Ética que está prestes a lhe passar no pescoço a gravata de corda da cassação do mandato, situação ainda a passar por voto aberto na Câmara dos Deputados, pois bem, é óbvio que Cunha sabe muito sobre Temer nos meandros de corrupção ativa e passiva que vem à tona quase que diariamente nos desvãos da Operação Lavajato que investiga a Petrobras.

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2. E se Michel Temer teme mais ter Eduardo Cunha como algoz que a própria História, sente-se mais vulnerável ante o arsenal que Cunha possa ter contra ele que com a gritaria geral dos legalistas, dos que se postam como defensores da Constituição, numa situação destas teríamos que temer sim o vice-presidente da República. Quantos já são os criminosos que fizeram uso de delação premiada e não titubearam em colocar o nome do Temer no olho do furacão? Ricardo Pessoa? Cerveró? Fernando Baiano? Yousseff? Delcídio?

3. A ambição. Sim, a velha ambição que há milênios amaldiçoa homens e santos, povos e países. Com a idade que tem até as nuvens volúveis que frequentam Brasília sabem que não existe outro bilhete premiado para ele ocupar a Presidência da República, que não será bafejado pela "sorte/má sorte" de José Sarney que assumiu a presidência tão logo o esquife com o corpo de Tancredo Neves subiu a rampa do Planalto. Temer deve saber que nem ele mais conduz de forma inequívoca o amontoado de anseios políticos que forma a massa chamada PMDB. Portanto, o PMDB tem outros postulantes para 2018. E um nome que se impõe, por exemplo, é o do paranaense Roberto Requião. Tem o desgarrado de uma nota só, o pernambucano Jarbas Vasconcelos e tem lideranças jovens e ainda pouco conhecidas como os cariocas Eduardo Paes, Picciani, Luiz Pezão. Não, Temer pode optar pelo golpismo levado pelo corvo que lhe grita todas as manhãs nos ouvidos: "Seu tempo passou e não voltará mais, é agora ou nunca!"

4. Temer pode se sentir confortável com o apoio de tucanos golpistas mas vestidos de razoável discrição como Geraldo Alckmin, Aloysio Nunes e menos José Serra. Esses três tucanos de alta plumagem preferem-no surrupiando o lugar de Dilma Rousseff do que abrir espaço para o atabalhoado e "tatibitaque" voluntarioso Aécio Neves. Eles sabem que Aécio traz consigo o vírus do aventureirismo, do fisiologismo e sabem que dos tucanos aquele que desde muito cedo tem encantado a grande imprensa nacional - Globo, Abril, Folha, Estadão. Os acenos de Temer com encontros, almoços e solenidades com estes tucanos menos de sete dias desde que Cunha acionou o processo golpista com o nome de impeachment não deixam dúvida que Temer escolheu lado e joga apenas com suas tradicionais ambiguidades de não se revelar de uma vez perfilado em defesa do golpe ao lado de Aécio Neves, Paulinhjo da Força e Jair Bolsonaro e, agindo assim, ganhar tempo para que sua tropa de bastidores - Eliseu Padilha e Moreira Franco à frente - organizem-se para mobilizar manifestações de rua, façam tratativas com a grande imprensa (Globo, Abril, Folha, Estadão) de forma a tornar palatável o golpe como uma forma legal juridicamente para apear do poder uma presidente sobre quem não paira qualquer crime, qualquer ilicitude ou que lhe envolva em situações titpificadas claramente na Constituição como suficientes para o uso do impeachment.

5. Uma forma que Michel Temer pode ponderar diz respeito a, uma vez tomando o lugar de Dilma Rousseff, tumultuar os processos que apuram corrupção nas operações Lavajato, Zelotes, Receita Federal. E isso poderia ser feito criando obstáculo para o trabalho criterioso, profissional, republicano e acima de suspeitas conduzido com lisura e senso ético pelo nosso destemido PGR Rodrigo Janot e pelo nosso sereno ministro da Justiça José Eduardo Cardoso. Mas, terá Temer, uma vez com a caneta presidencial na mão direita, usá-la para conduzir o impeachment de Rodrigo Janot no Congresso? Será que tal ação "ao modus operandi Eduardo Cunha" não daria muito na cara e não seria de pronto denunciado? Claro que, de duas canetadas, teria o poder de exonerar o Ministro da Justiça e também decidir por quem melhor dirigiria a Polícia Federal, além de designar um novo Advogado-Geral da União e assim, de cabo a rabo, mudar todos os "lugares sensíveis" da República como os 29 ministérios, as presidências e diretorias da Petrobras, CEF, BB, Correios, BNDES etc. Sim, ele poderá muito, mas não poderá tudo.

6. E não poderá calar o clamor e os reclames das ruas, muito menos evitar greves e paralisações de trabalhadores e operários, porque se a Oposição "bancar" um hipotético governo Temer este só seria bancado se estiver de acordo com a política neoliberal do arrocho salarial, do corte de programas sociais (Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Mais Médicos, Universidade para Todos, FIES). Aliás, tais medidas liberais já integram o documento que ele lançou há poucas semanas com o nome vazio de "Uma Ponte para o Futuro", corretamente designado pelo perspicaz Roberto Requião como "Uma Ponte para o Inferno".

Michel Temer deve pensar bem, porque ele está num arriscado jogo de par ou ímpar.

Só que nesse caso, se ele não agir rápido e de forma clara, sem suas habituais ambiguidades e sofismos, corre o risco de perder tanto optando pelo par quanto pelo ímpar.

A sociedade brasileira está muito atenta e de olho em conspiratas.

Dilma Rousseff deverá manter o mandato, pois ela tem ao momento o apoio da Congresso após sua recente reforma ministerial e após a vinda de Jacques Wagner para a Casa Civil e Ricardo Berzoini para a Articulação Política - esses dois políticos são democratas, experientes e possuem profundo senso ético e moral, além de terem excelente trânsito com os parlamentares e demais forças políticas.

Michel Temer sabe que se conspirar e perder - que é o que só pode acontecer - amargará três anos de completo ostracismo no Palácio do Planalto, virando uma espécie de Marco Maciel, o vice-presidente de Fernando Henrique Cardoso, um vice correto e que não era afeito a ambições além de sua estatura política, sempre calado, silente e cumprindo tão-somente seus deveres constitucionais. Maciel ficou bem mais conhecido como "aquele de silhueta que lembra o mapa do Chile" do que aquele vice-presidente que ambicionou, com traição, amealhar o maior cargo do país,cargo que só pode ser conquistado pela vontade expressa, secreta e universal de todos os brasileiros com idade superior a 16 anos de idade.

Espero que algum Padilha ou Moreira no entorno do Jaburu passe alguns parágrafos desse libelo ao conhecimento do seu vice-chefe.

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